Múltis brasileiras remetem menos lucros para o País



No primeiro semestre, País recebeu o equivalente a 0,45% do total de investimentos feitos por empresas do Brasil no exterior

Brasília – Diante de um cenário externo adverso e da incerteza em relação à economia brasileira, a remessa de lucros de empresas nacionais ao Brasil no primeiro semestre recuou ao menor nível desde 2002, ano da primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência, que foi precedida por forte crise de confiança no País.

Em proporção ao estoque de US$ 292,505 bilhões em investimentos feitos por empresas brasileiras no exterior, o País recebeu o equivalente a apenas 0,45% do total, ou US$ 1,317 bilhão no acumulado do primeiro semestre – há 12 anos, esse índice chegou a 0,37%.

Os números são do Banco Central, que consolida as informações das contas externas brasileiras, contabilidade que detalha as trocas comerciais, financeiras e de serviços entre o Brasil e os demais países. Até 2013, último dado disponível, a estatística incluía 9.751 empresas.

As causas do baixo retorno do investimento brasileiro no exterior, segundo especialistas, apontam para a recuperação global mais gradual que a esperada, as incertezas domésticas que alteraram as estratégias empresariais e o debate em torno da chamada Medida Provisória das Coligadas, que redefiniu as regras para a taxação do lucro obtido no exterior pelas multinacionais brasileiras.

Os especialistas afirmam que o cenário atual não é comparável ao vivido em 2002. À época, a instabilidade gerada pela perspectiva de eleição de Lula nos mercados financeiros desatou dúvidas nos empresários sobre o futuro do País. O dólar chegou a ser cotado a R$ 4.

O setor passou a calcular seus movimentos para evitar riscos e perdas. Agora, parte do problema vem da crise financeira global de 2008 que ainda não se dissipou totalmente. O cenário externo continua conturbado e reduziu a rentabilidade de operações fora do País. As incertezas domésticas também têm feito companhias segurar os lucros lá fora e reinvestir o capital, em vez de repatriá-lo.

Na avaliação do executivo-chefe da Marcopolo, José Rubens de la Rosa, que coordena o Fórum das Empresas Transnacionais da Confederação Nacional da Indústria, cada companhia tem uma estratégia própria. “É negativo se esse retorno baixo dos lucros estiver refletindo a própria queda dos investimentos brasileiros no exterior”, diz. “Mas também é positivo ao representar um reinvestimento dos lucros obtidos no exterior na própria atividade produtiva realizada fora do País.”

Lentidão. Na comparação entre o primeiro semestre deste ano com o primeiro de 2013, o retorno de investimentos brasileiros diretos, classificados como participação no capital de uma empresa no exterior, recuou 17,79%, segundo o BC. Parte da queda, segundo especialistas, é explicada pela lentidão na recuperação da economia global. Esse fenômeno, registrado em regiões importantes, como EUA e Europa, aliado à desaceleração do crescimento chinês, reduziu o lucro das empresas brasileiras no exterior.

A volatilidade derivada pela expectativa da retirada de estímulos monetários pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) também afeta as decisões e deixa o cenário mais complexo às empresas que operam fora do País e pretendem repatriar lucros. “Apesar de 2014 ser considerado divisor de águas quando se fala em crise, a retomada é mais lenta do que se supunha”, diz Marcos Troyjo, professor na Universidade Columbia, em Nova York, e diretor do BRICLab.

Na visão de Troyjo, o quadro de indefinição no Brasil, que une processo eleitoral e expectativa de baixo crescimento, também afeta a remessa de lucros para o País. “Mas tudo depende do planejamento de cada empresa”, afirma.

Fonte: Estadão

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