Mundo encolhe para as principais exportações industriais do Brasil

Os principais produtos industriais exportados pelo Brasil perderam mercado lá fora de forma acelerada nos últimos anos. Tal redução de espaço impôs uma fatura alta para o país: as vendas ao exterior do “pelotão de elite” da indústria brasileira estão em queda desde 2011.

A conclusão está em estudo inédito feito pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) para a Folha. Segundo a pesquisa, dos 25 produtos manufaturados com mais peso na pauta exportadora do país, apenas dois não perderam mercados no exterior. Dezesseis deles perderam também volume de vendas.
A análise considerou o número de países para os quais cada um dos setores embarcava suas mercadorias desde 2004 e calculou a diferença entre o pico de destinos alcançado e a posição registrada no final do ano passado.
Somente calçados e aparelhos transmissores não tiveram redução, pois atingiram o auge em 2013. Para os demais 23 produtos analisados -como aviões, automóveis, aço- houve queda no total de países compradores.
A pior situação é do setor de caminhões e ônibus que, em sete anos, deixaram de ser vendidos a 20 países.
O estudo considerou o destino de 98% das exportações de cada produto, excluindo valores com pouca relevância para evitar superestimar mercados (no caso dos calçados, por exemplo, 80 países que importam em pequena escala saíram da conta).
“A indústria está perdendo em volume e em valor e agora descobriu-se o mais grave: também em destinos. Éramos competitivos nesses produtos. Como manufatura, como valor agregado, é o que tínhamos de cuidar”, diz Carlos Abijaodi, diretor de desenvolvimento industrial da CNI.
COMPENSAÇÃO
A perda de mercado pode ser compensada, em alguns casos, com o aumento de venda nos países que continuam na lista de clientes. Mas isso não ocorreu. A concentração das exportações fez com que a maior parte dos setores analisados faturasse menos.
Enquanto a exportação total de manufaturados recobrou no ano passado o nível de 2008, quando eclodiu a crise financeira global, o grupo analisado terminou 2013 com US$ 4 bilhões a menos.
Segundo a indústria, a situação reflete a perda de competitividade dos produtos brasileiros e a demora do empresariado em despertar para as vendas externas.
A crise financeira abalou a economia de quase todos os países do mundo. Com menos pedidos na praça, a competição aumentou e os preços, por tabela, baixaram.
A indústria brasileira fiou-se no mercado doméstico, que, impulsionado pelo aumento do crédito promovido pelo governo, voltou a absorver a produção brasileira.
Quando as vendas internas deixaram de bastar para suportar um crescimento robusto, as empresas notaram que lá fora a competição estava mais renhida do que nunca.
No caso dos veículos de carga, a perda começou pouco antes da crise, em 2006, mas piorou nos anos seguintes. O Brasil deixou de vender a países como Austrália, Suécia, Alemanha, França, Portugal, Coreia do Sul e Grécia.
O resultado é que, em 2013, foram embarcados 12,5 mil caminhões menos que em 2006, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Uma vez perdido o mercado, é difícil recuperá-lo.
EFEITO ARGENTINA
Quanto maior a dependência de um mercado, maior o risco de um problema no país de destino resultar em prejuízos para os exportadores.
Além de crises, pode haver aumento de tarifas de importação ou a introdução de exigências sanitárias que bloqueiem parte dos embarques.
A crise econômica na Argentina ilustra esse risco.
Enquanto o mundo fechava as portas para o produto brasileiro, o setor de veículos de carga foi aumentando sua dependência do mercado vizinho. A participação do país nas compras de caminhões passou de 36% em 2006 a 58% no final do ano passado.
Aproveitando as facilidades tarifárias do Mercosul e a proximidade, outras indústrias seguiram o roteiro, sobretudo no setor automotivo. No caso dos carros, a participação argentina nas exportações brasileiras foi de 28% em 2005 para 88% em 2013.
Mais sete setores, como autopeças, pneus e produtos siderúrgicos, seguiram esse rumo. Quando o vizinho recaiu em sua mais recente crise, o efeito para balança comercial brasileira foi imediato. Até julho, na comparação com o mesmo período de 2013, as vendas para lá caíram 22%.

Fonte: Folha de S. Paulo

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