Por Patrícia Campos Mello, de São Paulo
Os europeus estão bastante “frustrados” com a lentidão na negociação do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. “Em 13 anos, avançamos pouco; isso é muito decepcionante”, disse à Folha a parlamentar Margot James, presidente do Grupo Parlamentar de Comércio e Investimento britânico.
Segundo James, a lentidão “é muito preocupante”, dado o ritmo em que a UE vem fechando acordos comerciais com outros países. O bloco acaba de se acertar com o Canadá. Em junho, começou a negociar o acordo comercial com os EUA, o TTIP.
Já o Mercosul comprometeu-se a apresentar à UE sua proposta de liberalização comercial até o fim do mês. Mas a Argentina apresentou ao bloco só uma proposta parcial, que exclui áreas como serviços e investimentos, frustrando membros do Mercosul.
Cresce a pressão para os negociadores apresentarem propostas de abertura em velocidades diferentes para cada país do Mercosul, a fim de que os países mais protecionistas não impeçam o acordo. Mas não está claro se a UE vai aceitar esse formato.
O Brasil enviou o assessor de assuntos internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, e o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) a Buenos Aires nesta semana para negociar com o ministro da Economia do país, Axel Kicillof.
Pimentel disse que a Argentina irá, sim, apresentar uma proposta completa. Mas ainda há dúvida sobre o grau de abertura, já que os europeus pressionam para que ao menos 90% das importações originárias do bloco europeu tenham suas tarifas eliminadas, porcentual considerado excessivo pelos argentinos.
O Brasil entende que há espaço de manobra na linguagem do acordo, com a possibilidade de propor liberalização de “cerca” de 90%, por exemplo, e convencer a Argentina a ser mais ambiciosa.
“Parece que a negociação UE-EUA está indo mais rápido do que UE-Mercosul, mas é cedo para fazer comparações”, disse James, que está no Brasil com uma missão comercial do UK Trade & Investment representando empresas médias do Reino Unido.
Segundo ela, essas empresas enfrentam dificuldades de acesso ao mercado brasileiro por causa da burocracia e das regras de conteúdo local. “O TPP, o acordo entre países asiáticos, alguns da América Latina e os EUA, já está bem avançado”, diz.
Para James, isso reforça a urgência de um acordo UE-Mercosul. “Estamos preocupados, precisamos ver algum movimento. É uma pena que UE-Mercosul esteja empacado, os dois perdem com isso.”