Obama prepara política comercial mais agressiva

O governo de Barack Obama está preparando mudanças que porão a marca do presidente no que tende a ser um plano de metas ampliado, neste segundo mandato, para o comércio exterior e a economia internacional. Depois de um primeiro mandato no qual as prioridades internas deixaram de lado uma política econômica internacional militante, o governo já tem duas grandes negociações de comércio exterior pela frente este ano. Os Estados Unidos e a UE tentam finalizar o anúncio, já no mês que vem, da abertura formal de negociações para chegar a um acordo comercial bilateral transatlântico. Além disso, os EUA e países asiáticos querem concluir um tratado sobre a Parceria Transpacífica (TPP, na sigla em inglês), que pretende costurar uma associação de países da Ásia Pacífico, até setembro, em antecipação à reunião de cúpula regional a realizar-se na Indonésia. Nas próximas semanas, Obama vai nomear um representante comercial para substituir Ron Kirk, que deixará o cargo, além do titular do Departamento do Comércio, que abrange a promoção de exportações e a administração das normas comerciais. Jeffrey Zients, diretor interino do departamento de orçamento da Casa Branca, é o favorito para ser o representante comercial, isto é, o principal negociador comercial americano. Entre os demais candidatos entrevistados para o cargo estão Lael Brainard, subsecretário do Tesouro para assuntos internacionais. Zients é um dos proponentes da criação de um superministério, que assuma o comércio e a promoção à atividade econômica, bem como do Banco de Exportações-Importações (Eximbank), iniciativa inicialmente engavetada devido à oposição no Congresso. Uma agenda internacional ampliada também significará maior visibilidade para Michael Froman, que continuará a exercer a função de vice-assessor de segurança nacional de Obama para questões econômicas. Além da coordenação do comércio, Froman é responsável também por decisões relativas a desenvolvimento, clima, energia e finanças internacionais na Casa Branca, questões, todas elas, que potencialmente exigirão mais tempo do presidente americano em seu segundo mandato. No fim de seu primeiro mandato, em outubro de 2011, o Congresso aprovou acordos comerciais com Colômbia, Coreia do Sul e Panamá, mas todos os três tinham sido assinados na gestão de George W. Bush, antes que fossem renegociados. “Eles [o governo Obama] não tiveram uma agenda comercial proativa no primeiro mandato. Levou bastante tempo para decidir o que fazer em relação [aos acordos]”, disse Edward Alden, do Conselho de Relações Exteriores, um centro de estudos de Washington. Joe Biden, o vice-presidente, que conclui hoje uma viagem de cinco dias à Europa, está tentando avaliar se os EUA estão confortáveis com o nível de engajamento político da UE nas negociações. As duas partes mantiveram longas conversações sobre como abordar negociações que deixaram de ser simplesmente sobre tarifas para abordar questões mais complicadas de regulamentações nacionais. “Ambos os lados querem ter certeza de que reuniram as melhores condições para as negociações”, disse João Vale de Almeida, embaixador da UE em Washington. “Ninguém quer entrar nisso e sair frustrado.” A TPP também enfrenta obstáculos, não apenas para chegar a um acordo antes de setembro, mas no sentido de envolver mais do que os atuais parceiros de negociações – os países do Sudeste Asiático e outros, como Canadá e Austrália, de modo a incluir o Japão. O Japão é a segunda maior economia da Ásia, depois da China, mas sua agenda de comércio é prejudicada por um lobby agrícola protecionista. As autoridades japonesas disseram que sensibilidades internas implicam ser improvável um anúncio sobre a adesão de Tóquio às negociações da TPP durante a visita de Shinzo Abe, primeiro-ministro do Japão, a Washington no próximo mês. A indústria automobilística americana, apesar da presença de muitas fábricas japonesas nos EUA, tem reservas sobre as implicações da TPP quanto a mais exportações do Japão para os EUA. Em todas as conversações dos EUA com a UE e a Ásia, a ascensão da China é um fator a ser considerado. Um acordo transatlântico está sendo “vendido” em ambos os mercados como uma forma de definir as regras de comércio para uma grande parte da economia mundial de tal maneira que a China ficaria compelida a aderir. “Acho que o acordo comercial entre a UE e os EUA produzirá muitas vantagens além do comércio”, disse David Rothkopf, da revista “Foreign Policy”. Da mesma forma, a TPP significa também reunir as economias regionais asiáticas num acordo que a China, do contrário, teria dificuldade para firmar.(Fonte: Valor Econômico)

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