O pacote de investimentos em projetos de infraestrutura de mais de US$ 150 bilhões, anunciado pelo governo chinês para os próximos cinco anos, não tem efeito imediato para o Brasil, na visão de especialistas do comércio Brasil-China. Além disso, a medida tomada por Pequim deve ser lida mais como uma sinalização da mudança na política econômica do país oriental do que como um instrumento que vai alterar os níveis do comércio exterior entre os dois países. Ao todo, o governo chinês prevê que cerca de 60 projetos ligados à infraestrutura – principalmente em rodovias e ferrovias – sejam executados. No entanto, ainda não há previsão de início dos trabalhos e do aumento da demanda por produtos primários pelas obras, de acordo com o ex-ministro e presidente do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), Sérgio Amaral. Para o também ex-embaixador, três tendências previstas pelo governo chinês na ocasião do lançamento do 12º Plano Quinquenal, realizado ano passado, estão começando a se materializar: a diminuição dos níveis de exportações do país, o aumento dos salários, e a reversão de uma economia centralizada em produzir para o exterior para uma economia que começa a se voltar mais ao mercado interno. “A China deve passar nos próximos anos de 50% de população urbana para 80%, o que representa mais 400 milhões de pessoas demandando moradia e alimentação. É razoável supor que a procura por alguns produtos brasileiros, como a soja e os itens do complexo de minério de ferro, terão um volume sustentável de demanda ao longo dos anos. Esse é o efeito maior que o movimento chinês pode trazer ao Brasil, e não uma oscilação em função de um anúncio em particular”, afirma. José Augusto de Castro, presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), corrobora com a visão de que está havendo uma mudança no perfil da economia chinesa observada por Sérgio Amaral. Para Castro, mesmo se a maior demanda por minério de ferro causar impacto na exportação brasileira, ela ocorrerá somente no ano que vem. “Por enquanto é apenas uma sinalização ao mercado. As obras podem ajudar a aumentar o preço do minério e do aço, que vem caindo neste ano. Também pode crescer o volume da nossa exportação. Mas o fato é que neste ano vai haver efeito zero”, diz. (Fonte: Valor Econômico)