De acordo com o IBGE, soma das riquezas foi a R$ 8,7 tri. Em relação a cada brasileiro, chegou a R$ 40,6 mil — avanço de 3,9%
O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 4,6%, em 2021, após avançar 0,5% no quarto trimestre em relação aos três meses anteriores, interrompendo a recessão técnica de dois trimestres negativos seguidos. Os números foram apresentados, ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O dado atenuou o tombo revisado de 3,9% em 2020, recuperando as perdas pré-pandemia. Mas “continua 2,8% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica na série histórica, alcançado no primeiro trimestre de 2014”.
Todos os componentes do PIB, menos a agricultura, tiveram crescimento em 2021. Em valores nominais, o PIB somou R$ 8,7 trilhões, com o PIB per capita chegando a R$ 40.688 — avanço real de 3,9% ante o ano anterior, mas que não recuperou totalmente a queda de 4,6% de 2021.
Mesmo com o PIB de 4,6%, o Brasil perdeu uma posição no ranking global: caiu do 11º para o 12º lugar entre as maiores economias do planeta, de acordo com a Austing Rating.
Para analistas, tal resultado não foi surpresa. A mediana das estimativas do mercado previa alta de 4,5%. O consenso entre eles é que o avanço da vacinação foi o principal fator para o resultado positivo do PIB em 2021, pois a inflação elevada e a escalada dos juros não contribuíram para um crescimento mais robusto.
“A vacinação e os estímulos fiscais e monetários, como o Auxílio Brasil, ajudaram nessa recuperação. Mas uma parte dessa conta ainda será paga pela população”, alertou Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria.
Porém, a economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), lembrou que “o crescimento continua muito heterogêneo e para alguns segmentos não dá para dizer que está tudo bem”.
Para Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, há um viés de baixa em suas projeções atuais, especialmente por conta da guerra no Leste Europeu e de seus impactos na inflação e nos juros. Ele elevou de 5,8% para 6,5%, a previsão de inflação deste ano, e de 12,25% para 13%, a projeção para a taxa básica de juros (Selic), atualmente em 10,25%, no fim do ciclo de ajuste monetário pelo Banco Central.
Investimentos
Os investimentos, medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) avançaram 17,2% em 2021, favorecidos pela construção, que no ano anterior teve uma queda, e pela produção interna de bens de capital. Com isso, teve forte contribuição para a alta de 4,6% no PIB.
Com esse resultado, a taxa de investimento subiu de 16,6% do PIB, em 2020, para 19,2% no ano passado, maior patamar desde 2014. Enquanto isso, a taxa de poupança passou de 14,7% para 17,4% do PIB no mesmo intervalo, em 2021.
Analistas reconhecem que esse dado não deve se repetir neste ano. “O investimento caiu muito em 2020 e deu sinais de recuperação, mas sabemos que esse bom desempenho não deve se repetir porque o PIB não deve crescer muito em 2022 e a inflação e os juros devem continuar elevados”, disse o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, que prevê avanço de 0,3% no PIB deste ano.
Silvia Matos lembrou que a taxa de investimento de 19,2% foi turbinada “pela retomada do setor da construção civil e pela compra de equipamentos pelo setor agrícola”. No entanto, parte desse resultado teve contribuição da importação contábil das plataformas de petróleo, como em 2020. Descontando o impacto de 1,1% estimado por analistas do FGV Ibre, essa taxa estaria em 18,1% do PIB.
Consumo das famílias mostra fraqueza e indica pessimismo
O principal motor do crescimento do Produto Interno Bruto, o consumo das famílias, não recuperou os patamares pré-pandemia. Pior: está perdendo força na composição do PIB, voltando para o menor nível desde 2012, em grande parte devido à inflação que reduziu o poder de compra do consumidor — de acordo com dados do IBGE.
Apesar de crescer 3,6% em 2021, o indicador desacelerou no quarto trimestre de 2021, na comparação com os três meses anteriores, passando de 1% para 0,7%. Os números do PIB mostram que o consumo das famílias ficou 1,3% abaixo do nível do último trimestre de 2019. Além disso, a participação desse item no PIB, entre 2020 e 2021, encolheu de 62,9% para 61% — menor percentual desde os 61,4% contabilizados em 2012.
Vacinação
De acordo com o IBGE, os 3,6% foram influenciados pelo avanço da vacinação, que contribuiu para a reabertura do comércio e garantiu maior mobilidade para os brasileiros. Os programas de apoio do governo e o crescimento nominal de 18% no saldo de operações de crédito também contribuíram.
“Houve uma recuperação da ocupação em 2021, mas a inflação alta afetou muito a capacidade de consumo das famílias. Tivemos também os programas assistenciais do governo. Ou seja, fatores positivos e negativos impactaram o resultado”, afirmou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV, avaliou que o dado do PIB foi positivo, principalmente porque a taxa do quarto trimestre, de alta de 0,5% em relação aos três meses anteriores, acabou acima do 0,1% esperado pelo mercado. “A leitura é que a vacinação e a abertura contribuíram para o crescimento dos serviços, mas indústria e consumo das famílias sofreram com a inflação e os juros elevados”, disse.
Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), destacou que o consumo das famílias tem potencial de crescimento neste ano, pois o setor de serviços prestados às pessoas ainda está muito abaixo do patamar pré-pandemia. Contudo, prevê um crescimento fraco, mesmo sem considerar os impactos da guerra da Ucrânia e da disparada dos preços das commodities na inflação, que pode chegar a 7%.
“O carregamento estatístico para o consumo das famílias para 2022 é de 1,1%. Se nossa projeção de alta de 0,6% do PIB, neste ano, for confirmada, o crescimento desse indicador será menor que o efeito contábil do PIB de 2021, de 0,8%”, explicou.
Fonte: Correio Braziliense