Por Stela Campos
Para grande parte dos presidentes das principais empresas do país, está impossível fazer planos no longo prazo. A expectativa para 70% deles é de que o desempenho de suas empresas será apenas mediano nos próximos quatro anos. Mas, embora o pessimismo tome conta do discurso dos empresários, há consenso de que é preciso assumir uma postura proativa e buscar uma maior aproximação com o governo para levar propostas que poderão ajudar o país a sair da crise mais rapidamente. Esses dados fazem parte da pesquisa “O Impacto do Cenário no Desempenho Empresarial”, obtida com exclusividade pelo Valor, realizada com 143 gestores que participaram da 15ª edição do Fórum de Presidentes, em São Paulo, na semana passada.
O evento fechado marca o início das atividades do Conarh, maior encontro sobre gestão de pessoas da América Latina, promovido pela Associação Brasileira de Recursos Humanos do Brasil (ABRH). Neste ano, a reunião contou com a presença do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que durante quatro horas respondeu questões dos dirigentes.
“Não vejo melhoras para o país no curto prazo. Acho que as coisas só vão começar a se estabilizar em 2017 ou 2018”, disse o presidente da Alpargatas, Márcio Utsch, logo após o encerramento do Fórum.
Em sua opinião, o país necessita ter metas ambiciosas de crescimento e pensar em soluções para os problemas no longo prazo. “Precisamos de objetivos estratégicos”. Segundo o executivo, o maior entrave para o futuro é conter a crise de credibilidade que o país está passando. “Os jovens estão indo embora do Brasil porque não acreditam e não veem oportunidades pela frente.” Para a professora Betania Tanure, que conduziu a pesquisa e a discussão com o ministro, ficou clara a constatação por parte dos participantes de que os problemas do país são de responsabilidade de todos. “Não dá para ficar só se lamentando.
É necessário construir uma agenda com propostas e partir para a ação”, afirma a consultora. O presidente da Fiat Chrysler Automobiles para a América Latina, Cledorvino Belini, afirma que dialogar mais com o governo faz parte do processo de recuperação do país. “Temos que mudar de atitude e estar mais próximos”, enfatiza. Ele reconhece que o momento econômico é difícil, mas diz que é preciso passar por essa fase para, só então, voltar a crescer. “Se o câmbio mudou, vamos vender lá fora. Temos de olhar as oportunidades”, afirma. O pessimismo, para ele, é apenas uma questão de cautela.
A consultora Vicky Bloch, que também mediou a discussão entre os empresários e o ministro, afirma que os dirigentes estão cientes de que as questões políticas devem ser deixadas de lado em busca de melhores soluções. “A preocupação é mudar da visão individual para outra mais coletiva. Tratase de se tentar fazer algo em conjunto”, diz. Na pesquisa, quase 30% dos presidentes disseram que um dos maiores entraves para o Brasil é a falta de liderança para reverter o cenário atual. Já 22% enfatizaram a falta de um projeto para o futuro. “Os presidentes pediram ao ministro um socorro no curto prazo, mas uma das maiores preocupações é com a falta de uma liderança lúcida que não se prenda a um projeto individual”, diz Vicky Bloch.
Para a presidente da ABRH, Leyla Nascimento, ficou evidente no Fórum a reflexão sobre o protagonismo que o empresariado deve assumir para ajudar a encontrar uma saída para o país. De acordo com os executivos, algumas questões precisam mudar porque interferem diretamente na competitividade e na produtividade de suas empresas. No estudo, 29% deles disseram que a condição econômica é uma delas, seguida dos custos tributários (17%), custos trabalhistas (17%), qualidade do capital humano (11%) e condições políticas (9%).
Para José Berenguer, presidente do JP Morgan no Brasil, a sociedade civil precisa participar mais das soluções para os problemas do país, mas ele diz que está confiante com a direção dos ajustes propostos pelo governo e com a condução das reformas. “Vamos buscar equilíbrio para estabelecer uma política fiscal duradoura. É apenas uma questão de tempo para que o Brasil retome a rota do crescimento. Sou otimista”, afirma.
Fonte: Valor