Produtos mais baratos devem sustentar indústria de beleza

Apesar da expectativa de aquecimento no segundo semestre, o crescimento da atividade será lento e gradual; as vendas devem ficar mais fortes só a partir do ano que vem

São Paulo – Após dois anos com queda real das vendas, o setor de higiene pessoal e cosméticos deve crescer ao longo deste segundo semestre. A expansão, porém, será puxada por itens mais baratos, dizem especialistas ouvidos pelo DCI.

Para a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos(ABIHPEC), as vendas reais, descontada a inflação, podem aumentar cerca de 2% este ano, o que deverá, mas não será suficiente para reverter as perdas de 2016 (-6,3%) e 2015 (-9,3%). Antes da recessão no País, a indústria crescia, em termos reais, acima de 5%, em média.

“De forma geral, o sentimento das indústrias está melhor, com as empresas um pouco mais animadas. Não se prevê um crescimento fabuloso, mas um resultado melhor do que dos últimos dois anos”, observa o analista sênior de pesquisa da Euromonitor, Elton Morimitsu.

Segundo ele, a volta do crescimento econômico, mesmo que tímido, e a inflação sob controle melhoraram as perspectivas. No entanto, uma aceleração das vendas, em ritmo semelhante ao pré-crise, virá apenas quando as taxas de desemprego recuarem mais consistentemente, puxando a renda e a confiança do consumidor.

Mas essa tímida expansão em 2017 será sustentada por itens de menor custo. Uma adaptação imposta para a indústria sobreviver aos tempos de crise e que seguirá, mesmo com recuperação econômica, na opinião de executivos do setor.

“A mentalidade do consumidor não deve mudar no curto prazo. A racionalidade será a de evitar o consumo de produtos mais caros”, avalia Morimitsu.

Hábitos

Itens para cabelo, protetores solares e desodorantes foram os produtos que registraram as maiores retração entre 2014 e 2016, segundo dados da Euromonitor. “As atividades promocionais e o trade down do consumo puxaram a queda”, comenta o especialista.

Por outro lado, os efeitos da crise foram benéficos para os produtos depilatórios, que registraram alta nos últimos dois anos de 27%, impulsionados pela redução da frequência das mulheres nos salões de beleza. “Para gastar menos, as consumidoras passaram a se depilar, sobretudo, em casa”, explica Morimitsu.

Produtos masculinos e perfumaria também passaram ilesos. Porém, neste caso, as indústrias apostaram em embalagens menores e diferenciadas. Além disso, as fabricantes investiram em produtos multifuncionais.

Mesmo que a indústria comemore a recuperação da receita, o resultado final deverá continuar pressionado, diante do aumento nos preços de insumos, como ingredientes e embalagens, de aproximadamente 10% este ano. Com o consumidor optando por itens mais baratos, o repasse integral dos custos pode significar a perda da venda – o que as empresas querem evitar neste momento.

“Não tem o que fazer, a indústria precisa absorver o aumento”, pontua o gerente comercial da distribuidora de produtos químicos Bandeirante Brazmo, Michael Perone. Entre os insumos distribuídos pela empresa estão itens da cadeia do etileno, soda cáustica e solvente oxigenado. Ele calcula que o aumentos destes insumos ficou, em média, na ordem de 7% a 10%.

De acordo com Perone, a reposição dos estoques por parte da indústria cresceu em junho, mas arrefeceu em julho. “As compras têm sido conforme a necessidade. A indústria vem percebendo certa resistência do consumidor em relação à demanda”, pondera, destacando isto estaria emperrando a recomposição dos estoques.

Na Assessa, que trabalha com insumos naturais (como algas e frutas), os repasses de custos acompanharam a inflação, de cerca de 5%. O diretor-geral da Assessa, Daniel Barreto, destaca que a variação foi menor porque os produtos não refletem diretamente a variação de preços de derivados de petróleo.

Outro fornecedor de ingredientes, a Colormix, que atua principalmente nos mercados de maquiagem e esmalte, vê um cenário de lenta recuperação. O gerente comercial da empresa, Alexandre Monteiro, ressalta que a demanda está “muito instável”, prejudicando a programação das indústrias. “O início do ano foi muito ruim, com alguns clientes cancelando pedidos”, comenta ele.

Para Monteiro, em relação ao segundo semestre do ano passado, porém, as vendas devem ser melhores, mas talvez “não o suficiente para recuperar o início do ano”. Ele prevê uma recuperação mais plena do mercado apenas em 2018.

Na área de embalagens, o aumento de custos chegou a 12% este ano, e novos reajustes não estão descartados. A informação é da gerente de compras da Kingraf, Carmen Markowicz, que trabalha no fornecimento para as principais indústrias.

Mesmo com os aumentos, ela observa uma maior demanda por parte da indústria, com a antecipação de algumas encomendas. “Ano passado, as compras foram postergadas ao máximo, até o mês de setembro. Agora, em julho, já começamos a ver algum movimento.”

O diretor da Incom Packing, Ricardo Johansen, que fornece partes plásticas para embalagens, como tampas, estojos e potes, também vê um mercado um pouco melhor, “com tendências positivas”. “A demanda continua existindo, mas é clara a adaptação no consumo”, diz.

Por Rodrigo Petry – Fonte: DCI

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