Em um esforço contínuo de recuperação pós crise, ABIHPEC reúne especialistas em São Paulo para estimular a indústria do setor
Mesmo com tantos desafios como crise política e econômica, insegurança jurídica, sistema tributário, greve dos caminhoneiros, tabela de frete mínimo e a flutuação cambial, existe um esforço contínuo de toda a indústria para continuar superando barreiras.
Em busca da retomada dos bons anos do setor, a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC) reuniu durante a última quinta-feira (23), em São Paulo, renomados institutos de pesquisa para apresentar as principais tendências e perspectivas para o setor brasileiro de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (HPPC). Essa foi a terceira edição do Seminário ABIHPEC e contou com doze instituições.
O presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), João Carlos Basilio, abriu a série de apresentações ressaltando que o evento é uma das diversas ações realizadas para estimular a competitividade desse segmento da indústria ao fornecer dados atualizados aos principais players do mercado. Além disso, adiantou a expectativa do setor para 2018: “Ainda levaremos alguns anos para recuperar as perdas do biênio 2015-2016, mas apesar do contexto desfavorável, esperamos alcançar até o final do ano um crescimento real entre 1,5 e 2%.”
Sob o título “A visão dos Institutos de Pesquisa sobre o mercado de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos”, o Seminário abordou temas como “Os canais de venda na indústria de HPPC”, apresentado por Elton Morimitsu, do Euromonitor. Nesse painel, o destaque foi para um cenário global onde o varejo físico representou mais de 80% das vendas em 2017, mas vem registrando quedas de 0,5% ao ano nos últimos 5 anos, sendo compensado pelo crescimento no canal não-físico, que foi puxado principalmente pelas vendas de maquiagem, cuidados com a pele e fragrâncias pela internet. No Brasil, o mercado ainda é bem fragmentado em canais. Por aqui, o canal não-físico é representado em 91% pelas vendas diretas e 9% pela internet, que vem registrando um crescimento anual médio de 17% nos último 5 anos.
O painel de Rodrigo Kurata, da IQVIA, foi sobre as “Perspectivas do mercado de HPPC no canal Farma”. O profissional ressaltou o crescimento do canal, que abriu aproximadamente 2 mil novas lojas no Brasil no último ano. Isso significa um aumento significativo ao acesso aos produtos de HPPC, visto que representam 35% do faturamento das farmácias. Nas grandes redes, essa participação é ainda maior do que nos pequenos varejistas mais focados em medicamentos. “Para fomentar o crescimento dessas vendas no canal é preciso entender primeiro como atrelar a saúde com beleza e bem-estar e depois como abraçar o digital healthy pela abordagem do canal farma”, explica.
“As novas escolhas do consumidor de HPPC” foram tema da palestra de Margareth Utimura, da Nielsen. A profissional destacou que existe no curto prazo uma retomada da confiança do consumidor brasileiro, que apesar de mostrar sinais de recuperação não deve voltar aos mesmos hábitos de consumo anteriores à crise, pois experimentou novos produtos e aprendeu a fazer escolhas durante esse período. “O consumidor prioriza categorias, repensa suas escolhas de marcas, tamanhos e canais, pensando no equilíbrio dos gastos, porém se permite fazer algumas indulgências”, explica.
A conectividade na indústria foi abordada pela Segmenta, representada por Daniel Morimoto. Sob o título “HPPC 4.0” a apresentação abordou a importância da coleta de informações, visto que os dados permitem conhecer melhor o atual consumidor, que é tão plural, crítico e exigente. Além disso, Morimoto destacou que uma indústria conectada e inteligente traz vantagens também como otimização, ao diminuir o tempo de inatividade das fábricas, personalização para atender à demanda individual de cada consumidor e flexibilidade para se adaptar mais facilmente aos diferentes cenários. “Fábricas inteligentes são mais rápidas, produtivas e sustentáveis”, conclui.
Fábia Duarte, da Qualibest, trouxe aos presentes uma visão sobre o papel dos influenciadores digitais brasileiros no mercado de HPPC. Segundo a profissional confiança é a chave para a busca de informações e para a decisão do consumo de um produto. Nesse cenário, um dos dados apresentados aponta que 50% dos internautas entrevistados pelo instituto disseram que vão em busca de influenciadores digitais em antes de realizar uma compra e 55% acredita na informação obtida por esses canais.
Já Juliana Martins, da Mintel, palestrou sobre “A nova era de cuidados pessoais gira em torno do homem”. Segundo ela, o público masculino tem se interessado mais pelo assunto, mas ainda tem muito a evoluir, mostrando uma oportunidade de mercado a ser explorada. Entre os dados que comprovam tal afirmação está o fato de que só 12% dos homens dizem passar mais de trinta minutos cuidando da aparência. Por outro lado, 32% deles depilam o corpo, 48% busca por fragrâncias que os ajudem a relaxar e 23% têm interesse em lenços umedecidos faciais para homens. “Existem poucos lançamentos nesse sentido, esse pode ser um caminho para a inovação”. Apesar do título, a apresentação colocou em pauta também a tendência de produtos sem gênero, focando o público-alvo dos produtos apenas nos seus reais benefícios.
Para a WGSN, coube mostrar uma visão sobre fragrâncias, cuidados com a pele e cosméticos, apresentada por Nina Giglio. A mudança de foco do consumidor e da indústria de uma busca pela beleza para uma busca pelo bem-estar foi o caminho dessa visão que dá nome ao painel e permeia todas as categorias. Além disso, questões ambientais demandam cada vez mais a atenção do mercado, se tornando não mais um diferencial, mas uma necessidade. Para fragrâncias, as tendências para o varejo estão ligadas às experiências de marca e às possibilidades de personalização. As tendências em produtos para a pele estão em produtos que remetam a proximidade com a natureza, visto que o consumidor procura pelo natural e pelo saudável. Na categoria de cosméticos, chamou a atenção uma tendência pela busca por produtos de alta duração e de espaços “instagramáveis’ nos pontos de venda.
A penúltima apresentação foi da Peclers Paris. Iza Dezon palestrou sobre a tradução de manifestações culturais estéticas e de bem-estar. A profissional ressaltou duas grandes tendências de comportamento que se refletem na indústria. A primeira delas fala da “força da fragilidade”, remetendo à beleza da sensibilidade ao aguçar as percepções e promover a empatia. A tradução dessa tendência nos produtos de HPPC se mostra em tons com brilho suave, reflexos acetinados e transparência dourada. A segunda é mais voltada para a valorização das culturas de cada local, ressaltando o valor do trabalho manual, dos ingredientes e das origens das coisas. Segundo Dezon, esse comportamento traz inspirações para tons baseados na cerâmica, no damasco, na terracota luminosa e em uma demanda pela sustentabilidade.
Por fim, a novidade este ano ficou por conta da mesa redonda, que aconteceu ao final do evento para discutir “As oportunidades do e-commerce”. Essa última atração contou com quatro profissionais das empresas Google, Beleza na Web, A2M e Ebit. Os participantes puderam explanar de que forma atendem e como se comportam os mais de 136 milhões de brasileiros conectados. Sérgio Melo, do Google, demonstrou a importância e o potencial da internet para o e-commerce de HPPC exemplificando que a busca “comprar desodorante” cresceu 200% desde 2014 e o grande destaque das buscas sobre produtos do setor são sobre cabelos (48%). Keine Monteiro, do Ebit, apontou que a grande maioria das vendas feitas pela internet são de recompra, isto é, quando o consumidor já conhece o produto. Nesse caso, ele apontou que uma grande oportunidade é a distribuição de amostras grátis a esses compradores, estimulando a experimentação.