Tratamentos químicos e exposição ambiental elevam a demanda por inovações que protejam a saúde capilar

Especialistas discutiram, no Webinar INOVAÇÃO ABIHPEC de Cabelo sobre a integração de ativos para responder às novas exigências do mercado de cuidados capilares

A saúde do couro cabeludo e dos fios é um tema crítico e atual para as pesquisas da indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. No segundo dia do Webinar INOVAÇÃO ABIHPEC de Cabelo, especialistas exploraram desde a influência dos ativos anti-inflamatórios até o impacto ambiental sobre os fios, evidenciando a necessidade de soluções personalizadas que atendam a um público cada vez mais exigente. O webinar reuniu ciência, inovação e biodiversidade, para falar da importância de ingredientes nativos, como o óleo de babaçu e pequi, destacando-os como alternativas sustentáveis e eficazes para a proteção e recuperação dos cabelos submetidos a processos químicos e à ação dos poluentes diários.

No cenário de inovação capilar apresentado por Adilson Marinheiro, engenheiro e gerente de projetos da Syensqo França, o couro cabeludo é visto como um ponto de conexão entre a ciência dermatológica e a demanda por bem-estar capilar. Marinheiro detalhou a crescente procura por ingredientes multifuncionais que não apenas combatam a inflamação, mas também atuem como antioxidantes, promovendo um ambiente mais equilibrado e saudável para o couro cabeludo. A influência do mercado asiático, especialmente em regiões de clima quente e úmido como China, Índia e Coreia do Sul, intensifica a busca por produtos que ajudem a controlar a oleosidade e reduzam a proliferação bacteriana, revela um perfil de consumidor atento ao impacto ambiental na saúde do couro cabeludo. Esse tipo de inovação, segundo o especialista, já se materializa em moléculas específicas que oferecem benefícios como alívio de inflamações, controle de bactérias e fortalecimento dos fios contra os efeitos do estresse oxidativo.

A América Latina, incluindo o Brasil, não fica atrás, com uma crescente demanda por produtos com propriedades antipoluição que protejam tanto o couro cabeludo quanto a estrutura capilar. O especialista destacou a importância de métodos precisos de teste para avaliar a eficácia dessas formulações, que permitem avaliar desde a resposta dos queratinócitos à radiação UV até a capacidade de determinados ingredientes em reduzir a morte celular e a foto-oxidação. Nessa linha, ingredientes inovadores mostraram resultados promissores em proteger as células do couro cabeludo contra danos causados pela poluição do ambiente. Essas inovações, embora tecnicamente complexas, trazem uma proposta clara: fórmulas que atendem às necessidades estéticas e mantêm o equilíbrio da saúde capilar diante de fatores ambientais.

A dermatologista Leila Bloch fez uma análise complementar ao explorar o impacto dos procedimentos químicos no couro cabeludo, evidenciando como eles podem desestabilizar tanto a estrutura dos fios quanto o microbioma natural da pele. Segundo Bloch, tratamentos que têm o objetivo de transformar a textura dos fios acabam também alterando a distribuição dos lipídios, o que, além de modificar a fibra capilar, aumenta a percepção de oleosidade, incentivando muitas vezes um ciclo de lavagens e secagens frequentes, intensificando a oleosidade e o ressecamento. O desafio, neste caso, é encontrar o equilíbrio entre a manutenção dos efeitos dos tratamentos e a preservação da saúde do couro cabeludo, uma tarefa na qual o microbioma se torna um importante aliado.

Esse microbioma do couro cabeludo inclui diversos microrganismos, sendo Malassezia um fungo predominante, que está associado ao desenvolvimento de dermatite seborreica e alopecia. Bloch destacou que a presença desse fungo, combinado com o aumento de sebo e uma alteração na sua qualidade, favorece o surgimento de inflamações e descamações que agravam essas condições. Pesquisas recentes apontam que a saúde do couro cabeludo pode ser potencialmente restaurada com a utilização de ingredientes bióticos, aplicados topicamente, que visam equilibrar essa microbiota e reduzir as inflamações. Além disso, os microrganismos Staphylococcus e Cutibacterium, que também habitam o couro cabeludo, se revelam relevantes na manutenção da barreira epidérmica e na regulação da hidratação da pele.

Letícia Kakuda, doutoranda pela USP-Ribeirão Preto, falou sobre o expossoma, um conjunto de fatores externos e internos que afetam diariamente a saúde dos fios capilares. Com elementos como poluição, radiação solar, alimentação e estresse, o expossoma age como um “estressor constante” na estrutura capilar, comprometendo a resistência e alterando o brilho e a penteabilidade dos fios. Kakuda destacou que, no Brasil, essa questão é ainda mais complexa devido à diversidade de tipos de cabelo, como lisos, ondulados e cacheados, que reagem de maneira distinta a esses fatores. Assim, a indústria enfrenta o desafio de formular produtos que respeitem essas particularidades e tragam benefícios reais para consumidores cada vez mais exigentes.

Parte dessa resposta vem da utilização responsável de ingredientes da biodiversidade brasileira, como os óleos de pequi e babaçu, que têm se mostrado altamente eficazes em produtos capilares. Extraídos de forma sustentável, esses óleos são ricos em ácidos graxos e antioxidantes, conferindo nutrição e proteção contra os efeitos adversos do expossoma. O uso de tecnologias de extração como a do CO₂ supercrítico preserva os componentes bioativos desses óleos, potencializando sua eficácia nos cuidados capilares. Essa abordagem promove a saúde dos cabelos e valoriza a sustentabilidade, ao transformar os recursos naturais brasileiros em soluções que atendem a necessidades específicas, como a proteção contra poluentes e outros agentes ambientais de envelhecimento.

Sobre a ABIHPEC – A Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC) é uma entidade privada que tem como finalidade representar nacional e internacionalmente as indústrias do setor, instaladas em todo país e de todos os portes, promovendo e defendendo os seus legítimos interesses, por meio de ações e instrumentos que contribuam para o seu desenvolvimento, buscando fomentar a competitividade, a credibilidade, a ética e a evolução contínua de toda a cadeia produtiva.

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