O governo brasileiro admite uma queda “substancial” no superávit do comércio exterior este ano, por causa da deterioração econômica global. A queda pode ser de cerca de 50%, de US$ 29 bilhões para US$ 15 bilhões, na avaliação também do Instituto Internacional de Finanças (IIF), entidade dos maiores bancos do mundo. “No atual cenário internacional, temos que ser realistas e admitir a queda”, afirmou ontem o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Alessandro Teixeira, que é um dos representantes oficiais do Brasil no Fórum Econômico Mundial, que se realiza na cidade suíça de Davos. A expectativa no governo é que, em todos os países com grandes superávits comerciais, a queda será entre 30% e 40% este ano. Nas projeções do IIF, o comércio brasileiro aumenta, com as exportações podendo alcançar US$ 273,3 bilhões e as importações, US$ 258 bilhões. O superávit é que diminui. É o que tende a acontecer também com a China. Analistas consultados em Davos notam que o superávit comercial chinês já caiu pela metade nos últimos três anos, de US$ 298 bilhões para US$ 155 bilhões no ano passado. Em 2012, poderia baixar para apenas US$ 100 bilhões. O declínio não é devido a uma menor competitividade das exportações chinesas. Na verdade, a parte da China nas exportações mundiais cresceu mais nos últimos três anos do que nos três anos anteriores. O problema é a deterioração econômica global. Assim, as exportações chinesas poderão crescer apenas 9% este ano, comparado aos 20% do ano passado. O diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, disse que o comércio mundial em volume depende de quatro fatores, dos quais dois são negativos, um positivo e outro incerto. O primeiro negativo é a deterioração econômica global, óbvia em todas as regiões. O segundo é o “trade finance”, o oxigênio das exportações e importações. Bancos, principalmente europeus, estão reduzindo suas atividades nesse negócio. Além disso, a nova regulação bancária global cobra dos bancos o mesmo tipo de capital próprio que é exigido para o crédito ao consumidor, o que o diretor-geral da OM considera absurdo. O fator positivo é a tecnologia, com avanços que ajudam a diminuir distâncias. O incerto é a política comercial que cada país segue. Até agora, os efeitos de protecionismo têm sido limitados. Existe uma evidente pressão por protecionismo, mas os governos até agora resistiram. Para Lamy, as demandas generalizadas pelo “compre francês”‘ na França não ajudarão a resolver o problema de competitividade nesse país. Ele tampouco acha que haja clima de guerra de divisas, como até recentemente. Mas o tema continuará sendo monitorado. (Fonte: Valor Econômico)