- THAIS BILENKY
DE NOVA YORK
28/07/2015 13h50
A agência de classificação de risco Standard & Poor’s confirmou o temor do governo brasileiro ao anunciar nesta terça-feira (28) que colocou a nota do Brasil em perspectiva negativa.
Na escala da agência, o Brasil está no limite do grau de investimento, com a nota “BBB-“, mas a perspectiva deixou de ser neutra.
Com a decisão, a agência sinaliza que o país poderá passar a ter grau especulativo, o que poderia levar a uma alta dos juros brasileiros, segundo reportagem da Folha publicada nesta terça.
Esse movimento preocupa o governo Dilma também porque trará mais pressão de alta para o dólar. Após o anúncio, a moeda americana chegou asubir mais de 2% e a ser cotada a R$ 3,44, mas recuou.
A analista para a América Latina Lisa Schineller disse, em entrevista, que a S&P ainda tem a expectativa de que o Brasil reverta as atuais condições de implementação de sua política fiscal, motivo pelo qual a agência não rebaixou a nota para grau especulativo.
No entanto, Shineller disse que isso tomará mais tempo do que o previsto anteriormente.
Segundo a analista, não há um prazo pré-fixado para a reavaliação da nota do Brasil. Eventual rebaixamento dependerá de nova piora significativa do cenário brasileiro, afirmou.
“Se houver maior deterioração, poderemos reduzir a nota”, disse. “Mas poderá ficar estável se as incertezas políticas e condições de execução de medidas melhorarem.” Ela também afirmou que a volta do crescimento da economia é chave para a melhora da avaliação.
Na semana passada, o governo reduziu a meta de superavit primário de 1,1% do PIB (Produto Interno Bruto) para 0,15%.
A S&P considera que a redução da meta fiscal, embora mais realista, mostra o enfraquecimento da economia.
O grau de investimento é uma condição atribuída por agências internacionais de classificação de risco a papéis, empresas ou países para definir que se trata de um investimento seguro -ou seja, com baixo risco de calote.
As notas de crédito têm impacto sobre o custo da dívida de empresas e países. Quanto melhor a classificação, menor tende a ser o desembolso com os juros dos financiamentos, e vice-versa.
Em nota, a agência afirma que investigações de corrupção caindo sobre políticos e empresas importantes têm tido peso cada vez maior na perspectiva fiscal e econômica do Brasil, colocando em risco a implementação da política econômica, particularmente no Congresso.
“Desde 23 de março de 2015, quando reafirmamos pela última vez os ratings do Brasil, os riscos de rebaixamento aumentaram. Alteramos a perspectiva para ‘negativa’, pois, apesar das amplas alterações nas políticas em curso, as quais acreditamos continuam recebendo o suporte da presidente, os riscos de execução aumentaram. Tais riscos têm suas origens tanto no front político quanto no econômico”, afirma comunicado da S&P.
No aspecto econômico, a S&P diz que prevê que a contração do PIB brasileiro seja maior e mais duradoura. A agência prevê queda de 2% do PIB em 2015, nenhum crescimento em 2016 e uma melhora tímida em 2017.
As investigações sobre escândalos de corrupção, afirma a S&P, aumentaram as incertezas políticas no curto prazo. Mas, ao mesmo tempo, “são um testemunho da estrutura institucional brasileira, que se contrasta com aquelas de muitos outros mercados emergentes”.
A agência cita o abalo na aliança entre PT e PMDB, os pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff e a queda da aprovação de seu governo a menos de 10% como fatores que sugerem a diminuição do apoio ao governo no Congresso para a aprovação de “necessárias” medidas do ajuste fiscal.
A S&P manteve a nota A-3 da dívida de curto prazo em moeda estrangeira, BBB+ da dívida de longo prazo em moeda local e A-2 da dívida de curto prazo em moeda local. Também confirmou a avaliação escala nacional brAAA, cuja perspectiva se manteve “neutra”
A agência disse que a classificação do Brasil reflete suas instituições políticas estabelecidas e seu amplo compromisso com políticas que mantêm a estabilidade econômica
Classificação de risco
COMO A MOODY`S ATRIBUI NOTAS DE CRÉDITO
Aaa: são consideradas da mais alta qualidade, sujeitas ao nível mais baixo de risco de crédito
Aa: são consideradas de alta qualidade e estão sujeitas a um risco de crédito muito baixo
A: são consideradas de grau superior médio e estão sujeitas a baixo risco de crédito
Baa: são consideradas de médio grau e estão sujeitas ao risco de crédito moderado e, por isso, podem apresentar certas características especulativas
Ba: especulativo. Há risco de inadimplência mais elevado, particularmente por mudanças adversas nos negócios e na economia ao longo do tempo. No entanto, há alternativas financeiras ou de negócios para honrar compromissos
B: são consideradas especulativas e estão sujeitas a elevado risco de crédito
Caa: são consideradas especulativas de baixo resultado e estão sujeitas a risco de crédito muito elevado
Ca: são altamente especulativas, têm baixos resultados, com alguma perspectiva de recuperação do principal e juros
C: a classificação mais baixa atribuída pela Moody”s e apresenta poucas perspectivas de recuperação do principal ou juros
A Moody`s acrescenta modificadores 1, 2, e 3 a cada rating genérico de Aa até Caa. O modificador 1 se classifica na mais alta posição dentro de sua categoria genérica de rating; o modificador 2 indica uma posição intermediária; e o modificador 3 indica a posição mais baixa em uma categoria genérica de rating.
COMO A S&P ATRIBUI NOTAS DE CRÉDITO
AAA: rating mais alto atribuído pela S&P. Devedor tem capacidade extremamente forte para honrar seus compromissos financeiros
AA: capacidade muito forte para honrar compromissos
A: capacidade forte para honrar seus compromissos, mas é mais suscetível a efeitos adversos de mudanças na economia
BBB: capacidade adequada para honrar compromissos, mas condições econômicas adversas podem levar a um enfraquecimento na capacidade de pagamento
BB: primeiro grau de rating especulativo. Devedor é menos vulnerável no curto prazo do que os devedores com ratings mais baixos. No entanto, enfrenta grandes incertezas no momento e exposição a condições adversas poderiam levá-lo a uma capacidade inadequada para honrar compromissos
B: atualmente tem capacidade para honrar seus compromissos financeiros, mas condições adversas de negócios, financeiras ou econômicas provavelmente prejudicariam a capacidade e a disposição de pagamento
CCC: atualmente vulnerável e dependente de condições favoráveis para honrar seus compromissos financeiros
CC: devedor está atualmente altamente vulnerável. A avaliação CC é utilizada quando o default ainda não ocorreu, porém a S&P espera que seja praticamente certo
R: devedor avaliado como R está sob supervisão regulatória em decorrência de sua condição financeira
SD e D: devedor avaliado como SD (default seletivo) ou D está em default em uma ou mais de suas obrigações financeiras, incluindo obrigações financeiras avaliadas ou não. O rating ‘D’ também será usado quando a Standard & Poor’s acredita que o default será geral e que o devedor não conseguirá pagar todas, ou quase todas, as suas obrigações no vencimento
Os ratings de AA a CCC podem ser modificados pela adição de um sinal de mais (+) ou de menos (-) para mostrar a posição relativa dentro das principais categorias de rating
COMO A FITCH ATRIBUI NOTAS DE CRÉDITO
AAA: mais alta qualidade de crédito, considerado improvável que seja afetada por eventos previsíveis. Reflete a menor expectativa de risco de inadimplência e é atribuído em casos de excepcional capacidade de pagamento.
AA: expectativa muito baixa de risco de inadimplência, considerado não significativamente vulnerável a eventos previsíveis. Capacidade muito elevada de pagamento
A: qualidade de crédito alta e baixa expectativa de risco de inadimplência. Capacidade de pagamento pode ser mais vulnerável a alterações nos negócios ou na economia, mas ainda é considerada forte
BBB: boa qualidade de crédito. No momento, existe baixa expectativa de risco de inadimplência. A capacidade de pagamento é considerada adequada, mas mudanças adversas nos negócios e na economia podem limitar essa capacidade
BB: especulativo. Há risco de inadimplência mais elevado, particularmente por mudanças adversas nos negócios e na economia ao longo do tempo. No entanto, há alternativas financeiras ou de negócios para honrar compromissos
B: altamente especulativo. Há significativo risco de inadimplência, mas ainda com uma limitada margem de segurança. Os compromissos estão sendo honrados, mas a capacidade de seguir em dia é vulnerável à deterioração nos ambientes de negócios e econômico
CCC: risco de crédito substancial. A inadimplência é uma possibilidade real
CC: risco de crédito muito alto. Algum tipo de inadimplência é provável
C: risco de crédito excepcionalmente alto. A inadimplência é iminente ou inevitável, ou o emissor está sem alternativas. As condições que levam o rating de um emissor para a categoria “C” incluem:
- a)período de carência ou de cura após o não pagamento de uma obrigação financeira
b) emissor negocia “perdão” temporário ou acordo após a inadimplência
c) RD ou D iminente ou inevitável, incluindo o anúncio formal de uma troca de dívida coercitivaRD: inadimplência restrita. Emissor está inadimplente no pagamento de uma dívida, mas não entrou legalmente em processo de recuperação judicial, intervenção administrativa, liquidação ou encerramento formal ou que não encerrou suas atividades. A categoria RD inclui:
a) inadimplência seletiva no pagamento de uma classe específica ou dívida em determinada moeda
b) expiração, sem sucesso, de uma eventual carência, período de cura ou tolerância dos credores da inadimplência após suspensão de um pagamento de dívida bancária, títulos no mercado de capital ou outra importante obrigação financeira
c) extensão de múltiplos perdões ou período de tolerância após a inadimplência em um pagamento de uma ou mais importante obrigação financeira, em série ou em paralelo
d) execução de uma troca de dívida coercitiva de uma ou mais obrigações financeirasD: inadimplência
Ratings D indicam que um emissor entrou com pedido de recuperação judicial, intervenção administrativa, liquidação ou processo de encerramento formal ou que encerrou suas atividades
SÓ NO 4º TRIMESTRE
Nesta segunda (27), após reunião da coordenação política com a presidente Dilma, o ministro Nelson Barbosa (Planejamento) afirmou que a recuperação da economia deverá ficar para o último trimestre deste ano, e não mais para o início do segundo semestre.
Oficialmente, o governo fala numa retração da economia de 1,5% em 2015, mas reservadamente teme que seja pior, podendo bater em 2%.
De acordo com Barbosa, a redução da meta fiscal é “compatível com a manutenção dos principais programas do governo”.
O ministro disse ainda que o Planalto não pretende usar as reservas internacionais. “O governo não pensa em utilizar os estoques de reservas internacionais, que é um ativo que dá ao governo brasileiro maior autonomia na condução de sua política econômica”, completou.
Barbosa ressaltou ainda que vê sinais de recuperação em alguns setores da economia, como agronegócio e exportações, e que é “natural” que, com mudanças no cenário econômico, os preços flutuem e haja um aumento temporário da inflação, que deve ser reduzida no ano que vem.
“Estamos numa fase de reequilíbrio, numa fase de ajuste. Durante essa fase há um aumento temporário da inflação e uma redução da atividade econômica, com flutuação de alguns preços”, disse. Para ele, o importante é que a economia brasileira “absorva” essas flutuações sem grandes prejuízos.
Fonte: Folha SP