O ministro das Relações Exteriores, José Serra, disse que a Venezuela pode ser rebaixada à categoria de membro não pleno do Mercosul por não ter incorporado o acervo normativo do bloco. O chanceler fez as declarações no sábado à noite, ao chegar a Foz do Iguaçu para um jantar com o secretário geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon.
Ainda no aeroporto da cidade paranaense, Serra foi abordado por jornalistas que o questionaram sobre a possibilidade da exclusão dos venezuelanos do Mercosul, no momento em que Brasil, Paraguai e Argentina atuam para impedir que a Venezuela assuma a presidência rotativa do bloco. “Pode haver uma possibilidade não de excluir, mas de, como se diria em inglês, ‘downgrade’: de colocar como membro não pleno, em face do não cumprimento das exigências, que deviam ser prévias ao ingresso no Mercosul”, disse Serra. “É uma possibilidade também, estou aqui falando de possibilidades.
Uma certeza, dentre elas, é que a Venezuela não vai presidir”. Na quinta-feira, diplomatas dos quatro países fundadores do Mercosul se reuniram em Montevidéu para discutir a situação da Venezuela, mas não chegaram a um acordo. O Uruguai, que entregou a presidência sem consenso sobre quem seria seu sucessor, segue defendendo que os venezuelanos a assumam, seguindo a tradicional rotação por ordem alfabética. Mas brasileiros, paraguaios e, de forma mais discreta, a Argentina tentam impedir que o país governado por Nicolás Maduro fique à frente do Mercosul neste momento.
Seus governos entendem não haver condições políticas para tanto e afirmam que Caracas não incorporou quase metade do acervo de normas do Mercosul perto do fim de um prazo de 12 anos para fazê-lo. Em Foz, Serra afirmou que o imbróglio estará resolvido até meados de agosto. E citou duas fórmulas possíveis para tal: a criação de um colegiado ou a antecipação da passagem do bastão para a Argentina, o próximo país na fila, na rotação por ordem alfabética, para assumir a presidência.
Em notas publicadas nos últimos dias, a chancelaria venezuelana disse ser vítima do que chama de uma “Nova Tríplice Aliança”, formada por Brasil, Argentina e Paraguai, que pretende tolher seu direito de exercer a presidência do bloco. Em uma referência à coordenação de ditaduras sul-americanas para caçar militantes de esquerda nos anos 1960 e 1970, também se disse vítima de uma nova “Operação Condor”. Serra voltou a criticar Maduro. “A Venezuela, ou melhor, o presidente Maduro, que é o presidente da Venezuela, não vai poder assumir, até porque a Venezuela não cumpriu com os pré-requisitos de ingresso no Mercosul (…). E também porque o Maduro hoje não governa nem seu país direito, imagina o Mercosul”.
Fonte/veículo: Valor Econômico