A indústria perde fôlego




Até há alguns meses, os números negativos a respeito do desempenho da indústria apenas vinham se sucedendo. Agora, a queda está em aceleração, sem perspectiva de melhora.

A produção industrial caiu 0,6% em maio (sobre abril), perfazendo uma queda de 1,6% nos primeiros cinco meses do ano (sobre igual período de 2013). É positiva em apenas 0,2%, uma vez considerado o período dos últimos 12 meses.


O desempenho do setor de bens de capital (máquinas e equipamentos) é ainda mais desanimador porque demonstra a baixa disposição em investir. Houve queda de 5,8% no acumulado de janeiro-maio.


O raquitismo da indústria já ficara evidente na análise do comportamento da balança comercial do primeiro semestre. E repete-se em outros números atualizados igualmente ruins. O Indicador de Nível de Atividade da indústria paulista da Fiesp acusou queda de 0,9% em maio (em relação a abril). E o desempenho das vendas do setor de veículos, ontem divulgado pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), apresenta queda de 9,8% em junho (em comparação com maio) e de 7,3% na acumulada dos seis primeiros meses do ano.


É pobre o diagnóstico repetido por autoridades do governo de que o comportamento insatisfatório da indústria é o resultado da fraca recuperação econômica global. A crise começou em 2007, teve seu auge em 2008. Mesmo depois disso, seu impacto no mercado interno foi a tal “marolinha” de que o então presidente Lula se vangloriou. O nível da atividade da indústria está hoje 5,5% abaixo do que estava em 2011, como reconheceu ontem o gerente da Coordenação de Indústria do IBGE, André Macedo.

Embora não se possam ignorar as limitações do mercado externo, é preciso admitir que os principais problemas estão aqui dentro e são o resultado das opções de política econômica.


A indústria brasileira perde competitividade mês a mês porque enfrenta custos maiores também a cada mês. Embora o câmbio não ajude, os custos vão se elevando não só em carga tributária e carências da infraestrutura, mas, também, como vem apontando o Banco Central, no fator trabalho. O pleno-emprego e o aumento dos salários acima dos índices de produtividade pesam cada vez mais. Não podem ser compensados por uma desvalorização do real em relação ao dólar. A decisão do governo é usar o câmbio como âncora para os preços.


Não dá para dizer que o pior já passou e que, daqui para a frente, a indústria começará a recuperar-se. Os medidores do nível de confiança mostram desânimo. Por isso, as projeções sobre o comportamento da economia e da indústria mostram prostração. Ontem, a Fiesp projetou queda de 4,4% na produção industrial paulista em 2014.

O governo não admite publicamente seus erros. Limita-se a retocar a maquilagem, como mostrou com seu último pacotinho de bondades, que não foi além de prorrogar por mais seis meses a redução de IPI para o setor de veículos.


Isso mostra que não pretende apresentar nada capaz de reverter a atual situação antes das eleições.

Fonte: Estadão






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