A cúpula que vale mesmo é a do Mercosul com a União Europeia (CLÓVIS ROSSI – MUNDO)

É pura perda de tempo essa cúpula União Europeia/Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e do Caribe), que terminou nesta quinta-feira, 11, em Bruxelas.

Não que a Europa não seja importante para a Celac.

Ao contrário, a UE tem sido a maior fonte de investimento estrangeiro direto no Brasil e na América Latina/Caribe. No caso específico do Brasil, o intercâmbio comercial com países da EU alcançou US$88,7 bilhões em 2014, o que correspondeu a 19,5% do comércio exterior brasileiro.

O problema com esse tipo de cúpula é o excessivo número de participantes (61 países) e as imensas diferenças entre eles. O que há em comum entre a portentosa Alemanha e o paupérrimo Haiti que possa ser discutido seriamente no meio do bolo de chefes de Estado/governo? Esse tipo de cúpula acaba se transformando em um imenso “talk-show”, uma catarata de discursos nos quais a grande maioria dos governantes não presta a menor atenção.

Para o Brasil, o que de fato interessou foi a reunião paralela entre o Mercosul e a UE, para discutir o acordo de livre-comércio que não sai do lugar há 15 anos.

Mesmo esvaziada (o único chanceler que participou foi o do Brasil, Mauro Vieira), a reunião permitiu um entendimento: os dois blocos farão o possível para trocarem ofertas de abertura comercial no último trimestre do ano.

É pouco, mas é algo, por mais que se tenha explicitado a divergência entre os países do Mercosul. O bloco até tem uma proposta a apresentar aos europeus, como a ministra Katia Abreu (Agricultura)anunciou ao chegar a Bruxelas.

Os europeus é que não a têm, distraídos com outros temas, como a negociação de um hipermega-acordo com os EUA. Mas a oferta sul-americana poderia ser mais abrangente, não fossem as reticências da Argentina em abrir setores de sua economia.

É por isso que o vice-presidente uruguaio, Raúl Sendic, seu representante na cúpula, e o ministro Brasileiro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Armando Monteiro, coincidiram, separadamente, em sugerir que o Mercosul avance em “duas velocidades”, mais ambiciosa para Brasil e Uruguai, à qual o Paraguai aderiria, mais contida para a Argentina. Monteiro, aliás, é muito direto: depois de bater a continência de praxe para a importância do Mercosul, diz que este “não pode se tornar um impedimento para que o Brasil tente outras formas de inserção com outros blocos econômicos”, segundo a agência de notícias do Mercosul, a Mercopress.

É razoável supor que o ministro esteja se referindo a negociações que não envolvam tarifas de importação e, por causa disso, não precisam abranger todos os membros do Mercosul. Há até uma recomendação da Câmara de Comércio Exterior para discutir acordos bilaterais em áreas como serviços, investimentos e com pras governamentais.

A reunião de Bruxelas deveria servir, pois, para que o Mercosul pelo menos discuta o que quer ser agora que parou de crescer como bloco.

Fonte: Folha de S. Paulo – 12/06/2015

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