Agência de risco S&P corta nota do Brasil para grau especulativo

 

TONI SCIARETTA
RAQUEL LANDIM
DE SÃO PAULO

Após ameaçar rebaixar o Brasil, a agência de classificação de risco Standard & Poor´s cumpriu a promessa e retirou o selo de bom pagador do país, citando a “falta de habilidade” e “vontade” do governo Dilma Rousseff ao submeter um orçamento deficitário ao Congresso.

A agência, que já havia criticado deputados e senadores por dificultar o ajuste, agora passou a questionar o comprometimento e coesão do governo para arrumar as contas públicas.

A decisão sobre o rebaixamento, que classifica a dívida brasileira como de alto risco de calote, só era esperada para o próximo ano. As agências haviam dado uma trégua ao ministro Joaquim Levy para implementar o ajuste. O orçamento deficitário, porém, acelerou o processo.

AVALIAÇÃO DE RISCO

Escala de notas de crédito globais das agências de classificação
Clique na caixa preta para entender os critérios

 

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COMO A S&P ATRIBUI NOTAS DE CRÉDITO

AAA: rating mais alto atribuído pela S&P. Devedor tem capacidade extremamente forte para honrar seus compromissos financeiros

AA: capacidade muito forte para honrar compromissos

A: capacidade forte para honrar seus compromissos, mas é mais suscetível a efeitos adversos de mudanças na economia

BBB: capacidade adequada para honrar compromissos, mas condições econômicas adversas podem levar a um enfraquecimento na capacidade de pagamento

BB: primeiro grau de rating especulativo. Devedor é menos vulnerável no curto prazo do que os devedores com ratings mais baixos. No entanto, enfrenta grandes incertezas no momento e exposição a condições adversas poderiam levá-lo a uma capacidade inadequada para honrar compromissos

B: atualmente tem capacidade para honrar seus compromissos financeiros, mas condições adversas de negócios, financeiras ou econômicas provavelmente prejudicariam a capacidade e a disposição de pagamento

CCC: atualmente vulnerável e dependente de condições favoráveis para honrar seus compromissos financeiros

CC: devedor está atualmente altamente vulnerável. A avaliação CC é utilizada quando o default ainda não ocorreu, porém a S&P espera que seja praticamente certo

R: devedor avaliado como R está sob supervisão regulatória em decorrência de sua condição financeira

SD e D: devedor avaliado como SD (default seletivo) ou D está em default em uma ou mais de suas obrigações financeiras, incluindo obrigações financeiras avaliadas ou não. O rating ‘D’ também será usado quando a Standard & Poor’s acredita que o default será geral e que o devedor não conseguirá pagar todas, ou quase todas, as suas obrigações no vencimento

Os ratings de AA a CCC podem ser modificados pela adição de um sinal de mais (+) ou de menos (-) para mostrar a posição relativa dentro das principais categorias de rating

 

Além de cortar a nota do Brasil, a agência colocou o país em perspectiva negativa para nova redução de sua classificação dizendo que há mais de “uma chance em três” de a situação piorar.

Isso porque, diante das dificuldades políticas no Congresso, há risco de aprovarem medidas que prejudiquem ainda mais as contas públicos. A agência também dá sinais de que está preocupada com o enfraquecimento do ministro Levy ao afirmar que teme um “aumento da falta de coesão” na equipe da presidente Dilma.

Com o rebaixamento, a nota do país caiu de BBB- para BB+. O Brasil passa a ter a mesma avaliação da Rússia, que sofreu embargo internacional devido à guerra na Crimeia e foi duramente afetado pela baixa do petróleo.

O país segue como grau de investimento nas agências Moody´s e Fitch. Na Moody´s, a classificação é “Baa3”, a apenas um passo de perder o selo de bom pagador; na Fitch, a situação é um pouco mais confortável, com nota “BBB”, a dois degraus de se tornar grau especulativo.

IBOVESPA DESDE QUE A S&P CONCEDEU GRAU DE INVESTIMENTO AO BRASIL

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A S&P foi a primeira agência de classificação de risco a elevar o Brasil ao chamado grau de investimento, em abril de 2008, no segundo mandato do presidente Lula. Depois, Fitch (maio de 2008) e Moody´s (setembro de 2009) também deram a mesma chancela ao Brasil.

O selo de bom pagador, que é um reconhecimento de que o país é um lugar seguro para os investidores, costuma ser exigido por fundos de investimento e de pensão bilionários para aplicar em títulos de dívida de governos.

Normalmente, pedem que a aplicação seja considerada grau de investimento por, pelo menos, duas das grandes agências. Ou seja, a possível saída em massa desses investidores só ocorreria depois da decisão da Moody´s ou Fitch.

Para Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, mesmo assim, pode haver uma forte correção no dólar e nas ações porque os investidores não acreditavam que o rebaixamento viria agora.

“Vai afugentar mais investimentos e aprofundar a recessão. Ainda não estamos no mesmo patamar de Argentina e Venezuela, mas dificilmente a situação melhora antes do final do governo”, disse Mailson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda.

Evolução da nota do Brasil pela S&P –

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OUTRAS AGÊNCIAS

A decisão da S&P ocorre menos de um mês após a agência de classificação de risco Moody’s cortar a nota do país para Baa3 —o último nível do grau de investimento. A perspectiva, porém, foi colocada como estável.

Na Fitch, o Brasil está a dois níveis do grau especulativo, mas a agência já sinalizou que vai revisar a nota do país em breve.

Fonte: Folha

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