Análise: Rússia e África têm mais peso que Brasil para os chineses

A principal expectativa da presidente Dilma Rousseff durante a reunião dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), na próxima semana, é o encontro bilateral, às margens da cúpula de chefes de Estado, com Xi Jinping, o recém-escolhido presidente chinês. O novo líder chinês é considerado mais pragmático e menos evasivo em seus discursos que o antecessor, Hu Jintao; e visto como um defensor das reformas pró-mercado na China. A declaração de que “sem reformas e abertura a China não vai longe”, em sua primeira entrevista, na qual o Valor foi o único veículo brasileiro convidado, confirma essa impressão de objetividade. Ele não esconde seu interesse em afirmar claramente o papel da China como potência mundial, decidida a fazer valer seus interesses. O interesse de Dilma pela conversa com o presidente chinês se explica não só por essas características da segunda grande potência mundial, mas também pelo peso da China na economia brasileira; Xi Jinping é, afinal, quem comandará, pelos próximos dez anos, o país que é, hoje, o principal parceiro comercial brasileiro. A primeira entrevista concedida por Xi Jinping revela, porém, como, entre os Brics, África e Rússia precedem o Brasil nas preocupações geopolíticas dos chineses. A África é prioridade pelo seu papel crescente como provedor de matéria-prima e, portanto, como destino de investimentos chineses (que chegam nos países africanos sem sofrer as exigências de conteúdo e mão-de-obra local encontradas em países menos maleáveis às potências econômicas, como o Brasil). A Rússia, pelo seu papel estratégico como aliado e potencial rival político da China, com quem compartilha a condição de membro permanente do conselho de segurança da ONU — onde os dois governos têm atuado afinados em temas delicados como a Líbia, a Síria e a Coreia do Norte. Um incidente anedótico mostra com clareza as diferenças entre as relações políticas da China e de nações africanas como a África do Sul: em 2011, os chineses exerceram forte pressão — frustrada — para que o Itamaraty negasse visto ao Dalai Lama, líder espiritual considerado pela China um adversário da “harmonia” no Tibete, que visitou o Brasil normalmente, sem levantar mais atenção do que a concedida a um líder religioso de renome. No mesmo ano, na África do Sul, a visita do Dalai Lama tornou-se tema de intenso debate político e críticas da oposição, pela demora — uma recusa, na prática — na concessão do visto ao religioso, que teve de cancelar a visita. A forte influência chinesa sobre Pretória foi lembrada à época, e lamentada pela oposição. No caso da Rússia, a escolha do país como primeira escala da viagem de Xi Jinping ao exterior serve de sinal para o Ocidente. No Conselho de Segurança das Nações Unidas, russos e chineses se aliaram para vetar explicitamente qualquer ação armada contra a Coreia do Norte, que vem embarcando em uma escalada nuclear (acompanhada com preocupação pelos aliados chineses) e anulou o armistício com os sul-coreanos alegando provocações devido a manobras navais de países da região com os EUA. Há, entre especialistas de política internacional, uma coleção de análises apontando a China como uma ameaça territorial à Rússia, devido à crescente migração e miscigenação chinesa com os povos da Sibéria, região rica em recursos naturais. Outra linha de pesquisa mostra, porém, uma natural aproximação entre os dois países, como forma de se contrapor aos interesses e ações de potências ocidentais (Japão e Coreia do Sul incluídos nesse grupo, como membros honorários), especialmente na Ásia. (Fonte: Valor Econômico) (Veja a matéria em nosso site)

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