BC pode subir juros se cenário inflacionário piorar


O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central avisou ontem que poderá retomar o ciclo de alta dos juros se o cenário inflacionário tiver uma evolução pior do que a esperada. Mas o seu plano central de trabalho continua a contemplar a manutenção da taxa Selic no nível atual, de 11% ao ano.
Ontem, o Banco Central divulgou o seu relatório trimestral de inflação de setembro, que mostra uma leve piora nas projeções de inflação, que seguem acima da meta de 4,5% nos próximos dois anos. Ainda assim, o BC vê progressos no combate à inflação, assinalando que, “apesar de se posicionarem acima da meta, as projeções indicam que a inflação entra em trajetória de convergência nos trimestres finais do horizonte de projeção”.
Em entrevista para explicar o relatório de inflação, o diretor de política econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, disse que, se a inflação não caminhar como o esperado, o Copom reagirá “tempestivamente”, subindo juros. A hipótese de mais aperto monetário sempre esteve presente nos documentos oficiais do BC, mas nunca havia sido dita de uma forma tão explícita por um dos membros do Copom.
Ele não entrou em muitos detalhes sobre quais são os fatores de risco que poderão levar o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC a apertar ainda mais a política monetária, mas sugeriu que um deles seria uma volatilidade mais forte da taxa de câmbio que leve a uma piora das perspectivas inflacionárias.
“Na nossa mensagem está explícito o que não está contemplado em decisões futuras do Copom: redução da taxa de juros”, disse Carlos Hamilton. “E está implícito o que pode ser contemplado: elevação ou manutenção da taxa Selic.” Segundo ele, “se o cenário para a inflação exigir, a política monetária será acionada tempestivamente”.
Entre abril de 2013 e deste ano, o Copom subiu os juros básicos em 3,75 pontos percentuais, de 7,25% ao ano para 11% ao ano, para combater pressões inflacionárias. Desde então, o BC vem sinalizando que manterá os juros em 11% ao ano para assegurar a convergência da inflação ao centro da meta até 2016.
Segundo o BC, neste ano e no próximo a inflação seguirá acima da meta porque, entre outros fatores, o governo está reajustando preços administrados que subiram pouco nos últimos anos e porque a taxa de câmbio está se desvalorizando, em virtude sobretudo do aperto da política monetária nos Estados Unidos.
Projeções divulgadas ontem pelo Banco Central mostram que, se os juros permanecerem em 11% ao ano e a taxa de câmbio ficar em R$ 2,25, a inflação ficará em 6,3% em 2014, em 5,8% em 2015 e em 5% no terceiro trimestre de 2016, fim do horizonte de projeção. Na edição anterior do relatório, de junho passado, a inflação caía a 5% já no segundo trimestre de 2016.
As projeções no chamado cenário de mercado chegam a percentuais semelhantes, apesar de contemplarem uma cotação do dólar mais alta, que chegaria a R$ 2,31 no fim deste ano, a R$ 2,48 em fins de 2015 e em R$ 2,56 em 2015. Quanto mais caro o dólar, em tese mais alta a projeção de inflação porque, entre outros fatores, produtos importados ficam mais caros dentro do Brasil.
Carlos Hamilton foi questionado se a volatilidade recente da cotação do dólar, que fechou em R$ 2,45 ontem, não dificultaria a tarefa do BC de controlar a inflação. Ele ponderou que o câmbio é flutuante, isto é, definido pelas condições de oferta e procura do mercado. Mas ele indicou que o BC poderá agir com a política de juros para contrapor eventuais repercussões sobre os preços que alterem o cenário de convergência da inflação à meta. “Se o cenário inflacionário exigir, a política monetária será acionada – e nós estamos atentos, como está explícito na nossa comunicação.”
O que não está claro, até agora, é que tipo de desvio das projeções de inflação em relação à meta que o Banco Central estaria disposto a aceitar sem subir os juros. As projeções apresentadas no relatório de inflação tiveram uma leve piora, mas ainda assim o BC não alterou sua sinalização de manter os juros em 11% ao ano. O BC diz, no relatório, que a inflação projetada subiu porque o reajuste esperado para preços administrados em 2016 foi revista para cima, de 4,5% para 4,9%.
A mensagem geral do relatório é que o BC está mais seguro de que a chamada inflação de demanda está sendo debelada pela alta já feita nos juros, que já estaria também contribuindo para choques de custos não se espalhem para todos os preços.
Assim, apesar da piora na projeção numérica, a avaliação qualitativa do cenário inflacionário traçado pelo BC teve algumas melhoras de junho para cá. O relatório afirma que o hiato do produto entrou no campo desinflacionário, e que assim deve permanecer nos próximos trimestres, num jargão que significa que a economia cresce tão pouco que há menos espaço para empresas subirem os preços.
A projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano foi revista de 1,6% para 0,7%. Para 2015, a estimativa é que a expansão até o segundo trimestre fique em 1,2%. Antes, o BC projetava uma expansão de 1,8% até o primeiro trimestre.
O relatório também lembrou que parte da alta de juros ainda surtirá efeito para baixar a inflação. Além disso, as pressões de reajustes salariais tenderiam a se moderar, assim como os efeitos na inflação da desvalorização cambial e do reajuste de tarifas públicas. O documento também diz que as expectativas de inflação do mercado financeiro para 2016 são mais favoráveis

BC pode subir juros se cenário inflacionário piorar – Alex Ribeiro, Monica Izaguirre e Eduardo Campos | Valor – 30/09/2014O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central avisou ontem que poderá retomar o ciclo de alta dos juros se o cenário inflacionário tiver uma evolução pior do que a esperada. Mas o seu plano central de trabalho continua a contemplar a manutenção da taxa Selic no nível atual, de 11% ao ano.Ontem, o Banco Central divulgou o seu relatório trimestral de inflação de setembro, que mostra uma leve piora nas projeções de inflação, que seguem acima da meta de 4,5% nos próximos dois anos. Ainda assim, o BC vê progressos no combate à inflação, assinalando que, “apesar de se posicionarem acima da meta, as projeções indicam que a inflação entra em trajetória de convergência nos trimestres finais do horizonte de projeção”.Em entrevista para explicar o relatório de inflação, o diretor de política econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, disse que, se a inflação não caminhar como o esperado, o Copom reagirá “tempestivamente”, subindo juros. A hipótese de mais aperto monetário sempre esteve presente nos documentos oficiais do BC, mas nunca havia sido dita de uma forma tão explícita por um dos membros do Copom.Ele não entrou em muitos detalhes sobre quais são os fatores de risco que poderão levar o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC a apertar ainda mais a política monetária, mas sugeriu que um deles seria uma volatilidade mais forte da taxa de câmbio que leve a uma piora das perspectivas inflacionárias.”Na nossa mensagem está explícito o que não está contemplado em decisões futuras do Copom: redução da taxa de juros”, disse Carlos Hamilton. “E está implícito o que pode ser contemplado: elevação ou manutenção da taxa Selic.” Segundo ele, “se o cenário para a inflação exigir, a política monetária será acionada tempestivamente”.Entre abril de 2013 e deste ano, o Copom subiu os juros básicos em 3,75 pontos percentuais, de 7,25% ao ano para 11% ao ano, para combater pressões inflacionárias. Desde então, o BC vem sinalizando que manterá os juros em 11% ao ano para assegurar a convergência da inflação ao centro da meta até 2016.Segundo o BC, neste ano e no próximo a inflação seguirá acima da meta porque, entre outros fatores, o governo está reajustando preços administrados que subiram pouco nos últimos anos e porque a taxa de câmbio está se desvalorizando, em virtude sobretudo do aperto da política monetária nos Estados Unidos.Projeções divulgadas ontem pelo Banco Central mostram que, se os juros permanecerem em 11% ao ano e a taxa de câmbio ficar em R$ 2,25, a inflação ficará em 6,3% em 2014, em 5,8% em 2015 e em 5% no terceiro trimestre de 2016, fim do horizonte de projeção. Na edição anterior do relatório, de junho passado, a inflação caía a 5% já no segundo trimestre de 2016.As projeções no chamado cenário de mercado chegam a percentuais semelhantes, apesar de contemplarem uma cotação do dólar mais alta, que chegaria a R$ 2,31 no fim deste ano, a R$ 2,48 em fins de 2015 e em R$ 2,56 em 2015. Quanto mais caro o dólar, em tese mais alta a projeção de inflação porque, entre outros fatores, produtos importados ficam mais caros dentro do Brasil.Carlos Hamilton foi questionado se a volatilidade recente da cotação do dólar, que fechou em R$ 2,45 ontem, não dificultaria a tarefa do BC de controlar a inflação. Ele ponderou que o câmbio é flutuante, isto é, definido pelas condições de oferta e procura do mercado. Mas ele indicou que o BC poderá agir com a política de juros para contrapor eventuais repercussões sobre os preços que alterem o cenário de convergência da inflação à meta. “Se o cenário inflacionário exigir, a política monetária será acionada – e nós estamos atentos, como está explícito na nossa comunicação.”O que não está claro, até agora, é que tipo de desvio das projeções de inflação em relação à meta que o Banco Central estaria disposto a aceitar sem subir os juros. As projeções apresentadas no relatório de inflação tiveram uma leve piora, mas ainda assim o BC não alterou sua sinalização de manter os juros em 11% ao ano. O BC diz, no relatório, que a inflação projetada subiu porque o reajuste esperado para preços administrados em 2016 foi revista para cima, de 4,5% para 4,9%.A mensagem geral do relatório é que o BC está mais seguro de que a chamada inflação de demanda está sendo debelada pela alta já feita nos juros, que já estaria também contribuindo para choques de custos não se espalhem para todos os preços.Assim, apesar da piora na projeção numérica, a avaliação qualitativa do cenário inflacionário traçado pelo BC teve algumas melhoras de junho para cá. O relatório afirma que o hiato do produto entrou no campo desinflacionário, e que assim deve permanecer nos próximos trimestres, num jargão que significa que a economia cresce tão pouco que há menos espaço para empresas subirem os preços.A projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano foi revista de 1,6% para 0,7%. Para 2015, a estimativa é que a expansão até o segundo trimestre fique em 1,2%. Antes, o BC projetava uma expansão de 1,8% até o primeiro trimestre.O relatório também lembrou que parte da alta de juros ainda surtirá efeito para baixar a inflação. Além disso, as pressões de reajustes salariais tenderiam a se moderar, assim como os efeitos na inflação da desvalorização cambial e do reajuste de tarifas públicas. O documento também diz que as expectativas de inflação do mercado financeiro para 2016 são mais favoráveis.


Fonte: Valor Econômico


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