Brasil ainda gasta pouco com infraestrutura, e qualidade cai



ÉRICA FRAGA

O desempenho do Brasil na área de infraestrutura nos últimos anos foi pífio em comparação ao de países emergentes e desenvolvidos.

Dados levantados pelos economistas João Manoel Pinho de Mello, do Insper, e Vinícius Carrasco, da PUC-Rio, mostram que a qualidade da infraestrutura piorou em vários aspectos em anos recentes e que o volume de investimento ainda é baixo sob a perspectiva internacional.

Estatísticas do relatório de competitividade do Fórum Econômico Mundial indicam que a qualidade geral da infraestrutura brasileira teve recuo de 2,1% entre 2010 e 2014.

A pequena queda recente seguiu um período de alta a partir de meados da década passada, mas contrasta com o processo de melhoria contínua de outros países.

Para a média dos países emergentes acompanhados pelo Fórum, a qualidade geral da infraestrutura aumentou 10,2% entre 2010 e 2014, embora já partisse de um patamar acima do brasileiro. Tendências semelhantes aparecem em setores específicos (veja gráficos nesta página).

A percepção negativa em relação à situação da infraestrutura no país pode indicar que o aumento dos investimentos nos últimos anos não tem sido capaz nem de recuperar o desgaste sofrido pelas estruturas já existentes, como estradas e ferrovias.

“A piora na qualidade sugere que os investimentos não estão nem compensando a depreciação, o que é preocupante, já que precisamos ir muito além disso”, diz Mello.

Estimativa dos economistas Cláudio Frischtak e Katharina Davies indica que os investimentos do Brasil em infraestrutura atingiram o equivalente a 2,45% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2013.
Segundo os especialistas, o valor é, de fato, menor do que o mínimo necessário para compensar a depreciação, que seria de 3% do PIB.

COMPARAÇÃO

Apesar de ter aumentado nos últimos anos, os dispêndios com infraestrutura no Brasil são muito inferiores ainda ao de outros países, inclusive da América Latina.

No Peru, por exemplo, os investimentos em infraestrutura representavam cerca de 1,5% do PIB entre o início e meados da década passada. Entre 2008 e 2011, atingiram pouco mais de 4% do PIB, segundo dados levantados por Frischtak e Davies.

O Chile, embora já tivesse patamar mais elevado de gastos no setor, conseguiu aumentar mais seus investimentos de cerca de 4,5% para aproximadamente 5% do PIB no mesmo período.

Até mesmo as nações desenvolvidas -que possuem um estoque grande de infraestrutura construída em comparação a países emergentes- gastam mais do que o Brasil de forma geral.

Os dados analisados por Mello e Carrasco mostram que, até 2011, os países da OCDE (grupo que reúne principalmente países ricos) investiam mais do que o Brasil em áreas como rodovias, aeroportos e ferrovias.
“Os países da OCDE não precisam de investimentos altos pois já têm infraestrutura pronta. Nós deveríamos estar gastando muito mais do que eles”, afirma Mello.

CAUSAS

Para Carrasco, o nível ainda baixo de investimentos em infraestrutura no Brasil tem duas causas principais.

A primeira foi o grande foco no estímulo à demanda por bens e serviços em detrimento de incentivos ao aumento da oferta quando o país foi beneficiado pelo contexto internacional favorável antes da crise de 2008.

“Consumimos todo o maná externo que recebemos, em vez de aproveitar para também melhorar a infraestrutura que ficou sobrecarregada”, afirma o economista.

Outro problema, segundo Carrasco, foi a percepção de aumento do risco regulatório e institucional em anos recentes, com mudanças constantes de regras e interferência excessiva do governo.

“O governo relutou em deixar o investidor cobrar o retorno compatível com o risco que assumiria. Isso afastou investimentos privados”, diz.

Mais recentemente, o governo conseguiu aprimorar alguns modelos de concessões ao setor privado na área de rodovias, por exemplo.

Mas, na opinião de especialistas, há muitas barreiras ainda para que os investimentos ganhem a escala necessária. Para que o país tenha um crescimento sustentado de 4% ao ano, os gastos com infraestrutura deveriam atingir 4,5% do PIB.

Frischtak aponta como dificuldade a piora nas contas do setor público, que precisarão passar por um ajuste, limitando ainda mais o espaço para investimentos. Isso poderá abrir a porta para investimentos privados em maior escala, criando oportunidades de negócios.

Para tanto, porém, afirmam especialistas, são necessárias medidas para aumentar a confiança dos empresários no governo e para aprimorar os modelos de leilões.

Fonte: Folha

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