Brasil aproxima Brics da Unasul com reunião de líderes em Brasília

Na reunião dos países dos Brics com chefes de Estado da América do Sul, quem ganhou maior protagonismo foi a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, que buscou ajuda do grupo na sua luta contra os fundos abutres. A presidente Dilma Rousseff, segundo fontes oficiais, declarou o seu apoio ao país vizinho e prometeu levar a questão ao encontro de líderes do G-20 na Austrália, em novembro.
“Foi uma reunião excelente. A Argentina recebeu o apoio de todos os países em relação aos fundos abutres”, afirmou Cristina na saída do encontro.
A presidente Argentina foi a Brasília disposta a projetar a sua posição contra os chamados fundos abutres, que ganharam na Justiça americana o direito de receber o valor integral dos títulos da dívida externa do país renegociada na década passada.
De manhã, no hotel em que se hospedou, ela fez um discurso acusando-os de querer fazer uma “pilhagem” da Argentina. Mais tarde, no encontro com os Brics, voltou à carga, e o governo argentino postou na internet um vídeo com o pronunciamento antes mesmo de a reunião terminar. Na saída, ela expressou outra vez seu descontentamento.
Líderes regionais se declararam solidários à Argentina. “É uma situação irracional, insólita, todos expressamos nosso apoio à Argentina”, disse o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos.
Ontem, ocorreu o segundo dia da cúpula dos Brics, que reúne os líderes de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Na véspera, em Fortaleza, o grupo discutiu uma agenda de seu interesse mais direto e tomou algumas medidas concretas, como a criação do banco dos Brics, oficialmente chamado Novo Banco de Desenvolvimento, e um acordo contingente de reservas, que disponibilizará linhas de socorro aos seus membros em casos de crises de balanço de pagamentos.
Esses instrumentos não serão usados para ajudar a Argentina na sua crise atual. O banco dos Brics, explicou uma fonte do governo, não entrará em operação antes de 2016 e, numa primeira fase, atenderá apenas membros do próprio grupo.
O segundo dia de reunião, realizado ontem em Brasilia, foi reservado para que chefes de Estado de países da América Latina tivessem contato com líderes dos Brics e vice-versa. Dilma decidiu reproduzir o modelo adotado no encontro anterior dos Brics, na África do Sul. Participaram os 12 países da América do Sul e cinco dos Brics, totalizando 16, já que o Brasil faz parte dos dois grupos.
Com a reunião, a China teve a oportunidade de firmar relações mais estreitas com a América do Sul como um grupo, dando um passo além de suas tratativas bilaterais. Para a Rússia, foi uma oportunidade de mostrar que não está completamente isolada no cenário internacional, num momento que sofre sanções da Europa e Estados Unidos devido à anexação da Crimeia, território pertencente à vizinha Ucrânia.
Para o Brasil, segundo a avaliação de uma fonte oficial, o encontro possibilitou chamar a atenção para si e criar uma agenda positiva. Outros países da região usaram a oportunidade para abrir espaço na agenda de sócios dos Brics com mais força política e econômica, como China e Rússia.
O presidente da Bolívia, Evo Morales, elogiou a criação do banco dos Brics. Afirmou que o mundo “necessitava de uma nova organização” para acabar com organismos como FMI e o Banco Mundial, que segundo ele, “chantageiam” outros governos. Já o presidente do Uruguai, José Mujica, ressalvou que o banco dos Brics nasce como um “bezerro” que ainda precisa comer muito antes de começar a dar leite. Ele disse que o banco só vai se concretizar entre 2016 e 2017.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, disse que vai propor um desdobramento da reunião de hoje na cúpula da Unasul, agendada para agosto, em Montevidéu. A ideia é reforçar a aproximação dos países sul-americanos com os Brics. “Estamos fazendo todo o esforço e colocando toda a vontade política para que Brics e Unasul caminhem juntos a partir de hoje, como dois blocos emergentes.”



Fonte: Valor Econômico

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