[:pt]Brasil tem a maior queda no ranking de competitividade [:]

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Por Assis Moreira e Eduardo Belo

O Brasil sofreu a maior queda de competitividade entre 140 países, recuando 18 posições no ranking do Relatório Global de Competitividade 2015-­2016, publicado ontem pelo Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês). O país passou da 57ª para a 75ª posição, a pior colocação na história do indicador.

Corrupção, déficit fiscal elevado, inflação em alta, incertezas políticas, perda de confiança nas instituições e fraco desempenho econômico foram os fatores que pesaram na comparação. “A perda de posição do Brasil era previsível”, comenta o professor Carlos Arruda, coordenador do Núcleo de Inovação da Fundação Dom Cabral (FDC) e responsável pela coleta e análise de dados sobre o Brasil no relatório. “O país atravessa um momento muito difícil, com impacto direto sobre a competitividade.”

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Para Arruda, o ranking dá uma ideia de que se está competindo com outros países, mas na verdade, a queda foi tão grande e generalizada entre os vários aspectos observados pelo WEF que “o Brasil perdeu para ele mesmo”. “Ainda que os outros países tivessem ficado parados, o Brasil teria caído do mesmo jeito, porque piorou, perdeu a capacidade competitiva, e isso é crítico.” Para o professor da FDC, o Brasil enfrenta uma combinação de recuo sistêmico com conjuntural, o que ele classifica como “a pior condição possível”.

O país não fez o que precisava quando podia, diz. “Não investiu em infraestrutura, não melhorou o marco regulatório nem fez reformas. Agora é difícil fazer reformas em um ambiente de baixa confiança.” Para a economista Margareta Drzenick­Hanouz, uma das autoras do relatório, o Brasil é um exemplo do fiasco dos países emergentes na tentativa de melhorar a competitividade, ao não conseguir levar adiante reformas estruturais de longo prazo para melhorar a produtividade e estimular o talento empreendedor.

Segundo ela, com o cenário global de “novo normal”, a tendência é o país enfrentar mais desemprego e desigualdade de renda. O “novo normal” é o cenário de crescimento mais modesto para todo o mundo, com algum crescimento nos países desenvolvidos e perda de fôlego nos emergentes, com participação importante da desaceleração da economia chinesa.

Na avaliação de Arruda, o mundo passa por um período de transição para a chamada “indústria 4.0”, na qual os ganhos de produtividade serão obtidos graças ao avanço das novas tecnologias, em especial a computação em nuvem e a chamada “internet das coisas” ­ a conexão de máquinas, equipamentos e aparelhos à internet e seu controle e acesso remotos. A Alemanha, quarta do ranking deste ano, projeta um ganho de 30% de sua competitividade depois de superada a transição.

Arruda estima que o período intermediário deva durar em torno de cinco anos. O cenário para o Brasil se torna ainda mais nebuloso, comenta o professor da FDC, porque o país não domina essas tecnologias nem tem se preparado para atrair, formar e reter talentos capazes de lidar com elas. O país perdeu 33 posições nesse item, recuando para o 94º posto do ranking. Em transferência de tecnologia por investimentos estrangeiros a baixa foi de 19 posições, para o 58º posto.

Arruda também vê com preocupação o fato de o país começar a dar os primeiros sinais de perda do bônus demográfico (a presença de maior número de pessoas em idade ativa do que de crianças e idosos). Um desses sinais é a redução de matrículas no ensino fundamental e médio. Para ele, o país não vai perder a competitividade em todos os setores. As atividades ligadas à cadeia do agronegócio, na qual o país tem vantagens competitivas, será beneficiada. Segundo ele, a presença no país dos desenvolvedores de tecnologia, somada às vantagens competitivas, deve fazer com que o Brasil se mantenha na ponta desse segmento.

Entre os aspectos com grande piora, o ambiente macroeconômico no Brasil recuou 32 posições, chegando ao 117º lugar. “A corrupção ganhou destaque especialmente em países onde recentes escândalos expuseram seus custos econômicos, como no Brasil, Hungria, Itália, México e Espanha”, aponta o relatório. A crise política causada pela corrupção no Brasil minou a confiança dos empresários nas instituições (queda de 18 posições, para o 122º lugar) e privadas (baixa de 38 colocações, para o 109º posto).

Em desvio de dinheiro público, o Brasil ocupa o penúltimo lugar (139º) do ranking. A situação só é pior na Venezuela. Logo à frente do Brasil estão Paraguai (138 º), Chade (137º) e Argentina (136º). A confiança em relação aos políticos também é uma das mais baixas do mundo, no 138º lugar. Em desperdício de gastos públicos o país fica na posição 133. É do Brasil o posto da economia mais fechada, com o menor percentual de importações em relação ao PIB. Os efeitos de tributos como incentivo para investir e trabalhar colocam o país igualmente entre os piores.

A infraestrutura traz uma leve melhora em relação ao ano passado, fruto dos investimentos para a Copa do Mundo de 2014 e Olimpíada de 2016. O segmento infraestrutura aérea subiu 18 posições. Na direção contrária, o país perdeu sete posições no indicador de qualidade do fornecimento de eletricidade. Fatores que medem a qualidade dos portos e das rodovias continuam ruins, nas posições 120º e 121º, respectivamente. No ambiente econômico a queda foi de 32 posições, devido, basicamente, ao desequilíbrio fiscal.

Nos indicadores de saúde e educação primária, houve melhoras nos índices de malária, tuberculose e HIV/Aids. Na educação, queda de seis posições na qualidade da educação e a redução de matrículas no ensino primário (112º lugar). A baixa disponibilidade de crédito levou o país a perder cinco posições no item desenvolvimento do mercado financeiro. Parte do relatório envolve uma pesquisa de opinião com 14 mil empresários. No Brasil, a carga tributária aparece entre os maiores obstáculos à realização de negócios.

A complexidade do sistema tributário, que já teve papel mais destacado no capítulo dos obstáculos, caiu para a sexta colocação. As taxas de juro nem sequer aparecem entre os principais problemas. Segundo Arruda, trata­-se de um obstáculo recorrente, mas que na pesquisa deste ano ­ realizada entre março e maio, quando a crise política e institucional começava a se agravar ­ perdeu espaço para temas não necessariamente novos, mas mais prementes. A corrupção, ao contrário, andava fora da lista de problemas brasileiros, mas voltou e já se apresenta em terceiro lugar.

A Suíça manteve o primeiro lugar do ranking, seguida por Cingapura e Estados Unidos. Países da África Subsaariana (Guiné, Chade, Mauritânia, Serra Leoa, Burundi e Malaui) mais Haiti, Venezuela e Myanmar ocupam os últimos lugares do ranking.

Fonte: Valor

 

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