Cenário turvo na Argentina

A presidente Dilma Rousseff começa hoje uma viagem de dois dias à Argentina com pauta delicada. Empresários são céticos quanto às perspectivas de reversão a curto prazo das dificuldades que vêm enfrentando para que suas mercadorias entrem no país vizinho. As exportações brasileiras para o principal parceiro do Mercosul caíram 10% no primeiro trimestre deste ano, enquanto as importações provenientes de lá subiram 16%. “A Argentina precisa gerar superavits comerciais devido à sua dificuldade de obter crédito no mercado financeiro internacional”, explicou o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Segundo ele, os produtos manufaturados argentinos enfrentam problemas de competitividade no exterior, portanto, o país recorre à limitação das importações para conseguir saldos na balança. A sede por divisas estrangeiras é consequência tardia da renegociação da dívida do país em seguida à moratória no início da década passada. Isso ainda hoje gera contestações de credores internacionais e fecha as portas de bancos estrangeiros — a China é uma exceção, e, por essa razão, tem conseguido ampliar as vendas na Argentina, ocupando inclusive o espaço das empresas brasileiras. Também pelas dificuldades de solvência externa do país, as empresas estrangeiras enfrentam dificuldades para enviar lucro a suas sedes, o que tem contribuído para muitas delas desistirem de investimentos no país. A Vale, por exemplo, decidiu fechar uma mina de potássio e vem sendo ameaçada com retaliações por parte do governo argentino. Esse é outro tema delicado que deve ser tratado por Dilma nas duas reuniões programadas com a presidente argentina, Cristina Kirchner, uma para hoje à tarde e outra para amanhã de manhã. Além disso, hoje à noite Cristina recebe Dilma para jantar. “Não deveria ser necessário gastar tempo de presidentes com negociações comerciais”, critica o diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria, Carlos Eduardo Abijaodi. Ele espera que as duas chefes de Estado estabeleçam bases para eliminar os problemas entre os dois países. “A Argentina é um grande país. Sou otimista”, afirmou.  Dilma provavelmente acenará aos argentinos com possibilidade de financiamento de R$ 5 bilhões do BNDES para a construção de uma ferrovia pela Odebrecht no país. Isso poderá colocar as relações comerciais dos dois países nos trilhos, mas também deixará o Brasil vulnerável para um calote do governo argentino, alertam empresários.(Fonte: Correio Braziliense)

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