Com país em ‘recessão técnica’, Banco Central deve manter Selic em 11%



O Banco Central deve manter em 11% ao ano a taxa básica de juros (Selic) na reunião de dois dias que termina na noite desta quarta-feira (3), de acordo com economistas ouvidos pela Folha.

A manutenção também é a aposta de 53 dos 54 economistas ouvidos pela Bloomberg –apenas um vê corte de 0,25 ponto percentual, o que levaria a Selic a 10,75% ao ano.

A justificativa é o atual cenário de ‘recessão técnica’ que afeta o Brasil. De acordo com o IBGE, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro caiu 0,6% no segundo trimestre na comparação com os três primeiros meses deste ano. Em relação ao segundo trimestre de 2013, a economia do país encolheu em 0,9%.

O resultado do primeiro trimestre também foi revisado para queda de 0,2% (contra alta de 0,2% informado anteriormente). Isso, segundo alguns economistas, coloca o país em um quadro de recessão técnica.

Os juros altos estão entre os motivos apontados para o baixo nível de investimentos por parte da iniciativa privada. No segundo trimestre, por exemplo, os investimentos em máquinas para a produção, transporte, agropecuária, energia, entre outros, e em construção civil tiveram forte retração de 5,3%.

Esse componente é tido como dos mais importantes do PIB, pois sinaliza o quanto a economia terá capacidade de crescer no futuro por meio do aumento da sua capacidade produtiva e da infraestrutura.

Por outro lado, a inflação segue próxima do teto da meta do governo –de 4,5% ao ano, com dois pontos percentuais para cima ou para baixo de tolerância. Atualmente, de acordo com dados de julho, o IPCA (índice oficial de inflação) mostra alta de 6,5% em 12 meses.

PREÇOS REPRESADOS

Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, é um dos que vê a Selic mantida em 11% na reunião desta noite.

“Se por um lado a atividade econômica apresenta sinais inequívocos de fraqueza, por outro, a inflação se mostra resistente, sem indicar convergência no horizonte relevante de política monetária, apesar da alta de juros já promovida”, avalia.

“A política de represamento dos preços administrados adotada nos últimos anos enseja a necessidade de se reajustar esses preços nos próximos anos, o que significa que para a inflação ceder, os preços livres terão que subir a um ritmo bem menor que o atual”, continua.

Em relatório, a equipe do Banco Pine avalia que “a fraca performance da economia poderia produzir a elevação da taxa de desemprego a partir do final do ano”.

“No entanto, a trajetória da inflação ainda incomoda, mesmo com a sua estabilidade em julho, ainda mais porque a sua tendência aponta para a reaceleração mensal no segundo semestre, implicando a nossa projeção para a variação do IPCA igual a 6,3% em 2014”, indica o comunicado.

A desaceleração econômica também é apontada por Eduardo Velho, economista-chefe da gestora Invx Global, para a manutenção da Selic em 11% ao ano. “Esperamos que o BC deve decidir pela manutenção
da taxa básica de juros em 11%. Além disso, a sinalização do comunicado do Copom não deve se comprometer pela redução dos juros no curto prazo em função da fraqueza da atividade econômica”, avalia.

Já a equipe de análise do Santander enfatiza a preocupação do BC com a inflação. “O Copom provavelmente optará por manter a taxa estável por ora (e provavelmente até o final deste ano ao menos) e observar a trajetória da inflação nos próximos meses, na expectativa de que os efeitos defasados e acumulados da elevação de juros desde o ano passado contribuam para manter a inflação dentro da meta”, indica.

PROJEÇÃO

Sobre perspectivas, o economista Flávio Combat, da Concórdia Corretora, avalia que “o mais provável é que o BC promova um novo aperto monetário em 2015, tendo em vista o conjunto de preços que terão de ser ajustados (gasolina, energia elétrica, tarifas de transporte) e o seu impacto inflacionário”. Assim, Combat projeta que a Selic estará em 12,25% ao ano no fim de 2015.

O comitê de acompanhamento macroeconômico da Anbima manteve a mediana de projeções para a Selic em 12% para o final de 2015. “Foi considerada a possibilidade de que um ambiente de maior confiança entre os agentes econômicos, sobretudo em função de indicativos de uma política fiscal menos expansionista, possa reduzir a necessidade de elevação de juros”, indica, em relatório.

No entanto, ressalta, não há consenso em relação às estimativas, que variam de 11% a 13%, o que, de acordo com o comitê, “indica o grau de incerteza dos analistas quanto à trajetória dos juros em um contexto de baixo crescimento e de pontos ainda por serem esclarecidos em relação aos próximos passos da política econômica”.

Fonte: Folha

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