Comércio na balança



A julgar pelos resultados acumulados até agosto, a balança comercial, que mostra a diferença entre exportações e importações, terminará o ano com saldo próximo de zero. Mais importante, cristaliza-se uma situação pouco promissora para o Brasil: encolhem as vendas de manufaturados e cresce a dependência de produtos básicos.

É gritante a mudança em relação a meados da década passada, quando o país teve superavit acima de US$ 40 bilhões. O mercado internacional então absorvia produtos brasileiros, inclusive industriais, e a bonança externa permitia que se comprassem máquinas e se capacitasse a produção interna.

A dinâmica, porém, mostrou-se efêmera. O país não conseguiu consolidar a presença de sua indústria nas cadeias internacionais de valor, que se modificaram drasticamente com a ascensão da China.

Nos últimos tempos, o Brasil perdeu terreno. As vendas de manufaturados estão estagnadas desde 2008; hoje não passam de 38% das exportações, mas eram 54% há dez anos. Com a alta das importações, o deficit no setor industrial saltou de US$ 37 bilhões em 2009 para US$ 105 bilhões em 2013.

Para completar, as indústrias brasileiras estão cada vez mais ameaçadas no ambiente doméstico, a despeito do protecionismo governamental, e perdem espaço até na América do Sul.

No Fórum de Exportação, organizado na semana passada por esta Folha, especialistas foram unânimes ao dizer que a culpa pela perda de mercado não vem de fora. Embora menos dinâmico, o comércio internacional continua a crescer.

A raiz do problema está no próprio Brasil e tem a ver com o cada vez maior custo de produção: mão de obra cara, logística ineficiente, burocracia excessiva e impostos proibitivos. O dólar barato surge como fator adicional a desestimular a busca de clientes no exterior.

As escolhas do governo exacerbaram as dificuldades. Um erro essencial foi ampliar o protecionismo –o isolamento, ao inviabilizar acesso a insumos e métodos de ponta, faz diminuir a competitividade. A situação chegou a tal ponto que mesmo setores industriais já defendem mais abertura.

Outro equívoco foi apostar apenas no inerte multilateralismo da OMC (Organização Mundial do Comércio) e não celebrar novos acordos comerciais bilaterais.

As causas para o mau desempenho brasileiro no comércio internacional são múltiplas e não há saída fácil. Mas é certo que, sem maior abertura econômica e a busca de nichos de mercado em escala global, o país não conseguirá superar a armadilha em que se encontra.

Fonte: Folha

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