Comércio varejista mantém projeções de desaceleração




Por Juliana Elias e Elisa Soares | De São Paulo e do Rio

Nem mesmo a boa notícia de vendas fortes em outubro, depois de meses fracos ao longo do ano, foi o suficiente para reverter a trajetória de desaceleração do comércio varejista e a expectativa de que, no próximo ano, o desempenho deve ser, se não pior, igualmente fraco.

O volume de vendas no varejo cresceu 1% em outubro ante setembro, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi o melhor resultado para meses de outubro desde 2009, quando as vendas cresceram 2%, e uma boa surpresa para o mercado, que, na média estimada pelo Valor Data, esperava alta de 0,5%. Na comparação com outubro de 2013, o varejo restrito subiu 1,8% e, em 12 meses, cresceu 3,1%.

No varejo ampliado, que inclui as cadeias automotiva e de material de construção, o volume de vendas subiu 1,7% ante setembro, embora na comparação com outubro de 2013 haja queda de 2,6%. “Para desovar os estoques as concessionárias baixaram os preços e as vendas aumentaram”, explicou a gerente de serviços e comércio do IBGE, Juliana Vasconcellos. Segundo ela, a melhora na renda e o mercado de trabalho ainda firme em outubro, além de um impulso do Dia das Crianças, ajudaram na breve recuperação do mês.

Economistas concordam, porém, que se tratou muito mais de uma oscilação pontual e que muito pouco muda o quadro geral de um comércio em franca desaceleração. “O quadro é esse: uma recuperação de curto prazo dentro de uma tendência maior de enfraquecimento”, resumiu Guilherme Maia, analista da Votorantim Corretora “Em 2015, o varejo será bem menos dinâmico, com o mercado de trabalho já fraco, o PIB baixo e o consumo em baixa.” Para Maia, o varejo deve encerrar 2014 com alta de 2%, o que, até o fim de 2015, terá se reduzido para a casa de 1%.

“Há muitos fatores que levam a crer que não é um movimento sustentável no longo prazo”, disse Paulo Neves, economista da LCA Consultores. A LCA projetava uma alta de apenas 0,2% para outubro, bem abaixo do resultado efetivo, mas a discrepância pouco mudou na projeção para o ano – foi revisada de 2% para 2,2%, enquanto para a 2015 a projeção continua em 3%. “As condições do mercado de trabalho são adversas e a confiança do consumidor entrou no terreno do pessimismo neste mês, o que não ocorria desde 2009.”

José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, destaca o desempenho da receita, e não apenas do volume de venda, nos diferentes setores. “Basicamente, três segmentos estão com a receita crescendo acima da inflação: supermercados, combustíveis e farmácia”, diz. “São os setores em que o consumidor menos pode adiar as compras. Esse é um sinal de que as coisas não vão tão bem.”

Na prática, uma receita abaixo da inflação significa que o consumidor está comprando menos, trocando os itens mais caros pelos mais baratos, ou então que as lojas não conseguiram repassar o aumento de custo para o preço final. Nos dois casos, são efeitos de um cenário de demanda fraca.

Fonte: Valor Econômico

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