Corte do IPI deve adiar aumento do preço dos produtos de beleza e higiene pessoal

Redução do imposto não deve gerar descontos para os consumidores, já que o cenário atual é de pressão pressão de custos.

A ajuda da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para as vendas do setor de higiene pessoal, beleza e cosméticos deve ser limitada, embora movimente algumas categorias.

Com menos dinheiro no bolso e os preços subindo, o consumidor cortou alguns itens da cesta de compras, e o setor terminou o ano com queda de 2,8% nas vendas ex-factory (faturamento de fábrica, sem adição de impostos sobre vendas), segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec).

A inflação crescente — agora ainda mais pressionada pelo cenário de guerra e aumento de commodities — torna essa recuperação mais desafiadora para o setor. Por isso, “qualquer ajuda” é bem-vinda, mas a dosagem poderia ser maior, de acordo com João Basílio, presidente da associação.

“Redução de impostos é boa para todo mundo, mesmo que seja tímida. Mas o negociado era 50% e a Zona Franca de Manaus [ZFM] segurou muito”, diz. O corte tributário foi anunciado para todas as categorias industriais.

Muitas associações argumentam que era preciso haver excepcionalidades, excluindo da redução itens que a indústria nacional produz com volume expressivo na ZFM, para que, assim, não tirasse competitividade de quem produz lá e que o corte de IPI pudesse ser maior para o restante. O setor de beleza, higiene e cosméticos tem pouca representatividade na ZFM.

A capacidade de fazer chegar essa redução da carga tributária ao preço final do produto depende da alíquota da cada categoria, explica Basílio. “Difícil fazer diagnóstico claro, porque o mercado está difícil. Empresas vão transferir esses benefícios para seus preços em caso de ser representativo para a categoria. Para outras não é tanto, fica mais em recuperar margens ou postergar reajustes.”

No caso dos itens de higiene pessoal, cuja alíquota gira em torno de 7%, ele diz que o corte de 25% é muito pequeno para que isso se traduza em preço. Já na categoria de maquiagem, com alíquotas de 22%, são esperadas ações mais agressivas de preço pelas companhias “para não perder mercado para concorrentes”, segundo Basílio.

Em entrevista ao Valor na última quarta-feira, o presidente do grupo Natura &Co, Roberto Marques, disse que a medida do governo era positiva, mas indicou que deve ter pouco impacto nos preços dos produtos de Avon e Natura, por exemplo. O efeito da medida deve ser mais de segurar novos aumentos, dado que a pressão de custos segue bastante elevada.

Com um cenário ainda de incertezas, o setor segue cauteloso. O presidente da Abihpec diz que o programa de transferência de renda federal já melhorou os indicadores de consumo da categoria em regiões com mais beneficiários, como Nordeste e Norte, mas acredita que o desempenho da indústria em 2022 deve ser de suficiente apenas para recuperar o que foi perdido em 2021.

Fonte: Valor Econômico

 

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