Cosméticos: Exportações atestam a resiliência da indústria

Cosméticos: Exportações atestam a resiliência da indústria

Perspectivas 2023 – Exportações avançam e atestam a resiliência da indústria às crises locais e até globais

O atual cenário macroeconômico suscita desconfiança e preocupação no empresariado brasileiro. Não é para menos.

A diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, anunciou no final do ano passado que um terço do planeta entrará em recessão em 2023.

O alerta foi dado e, obviamente, o mercado de cosmético, higiene pessoal e perfumaria não sairá ileso.

Se não bastassem essas questões globais, a indústria tem de lidar ainda com as particularidades do país, como a troca do governo federal e os altos impostos.

Abordar o desempenho da indústria de cosméticos no Brasil, no entanto, envolve uma atmosfera de otimismo, uma vez que o setor trabalha com a beleza e o bem-estar, segundo o farmacêutico-bioquímico Alberto Keidi Kurebayashi, vice-presidente técnico da Associação Brasileira de Cosmetologia (ABC) e CEO da Protocolo Consultoria.

Ele ressalta que, mesmo em períodos difíceis como foi com o advento da Covid-19, o segmento figurou entre os poucos que se mantiveram estáveis, e logo se recuperou, voltando a crescer.

A cadeia de suprimentos, não somente de cosméticos, mas em muitas outras categorias, foi afetada, drasticamente, tanto pelo alto custo do frete internacional quanto pela falta de insumos e pelo atraso no lead time.

O controle da pandemia da Covid-19 minimizou um pouco a situação, porém o setor foi, novamente, atingido, dessa vez pela guerra na Ucrânia. Kurebayashi aponta que este cenário ainda é presente, mas aos poucos, a situação e o fluxo devem voltar ao normal.

Corrente de comércio – No ano passado, a soma entre as exportações e as importações do mercado de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos atingiu US$ 1,52 bilhão.

O montante representa crescimento de 9,4%, em relação à cifra registrada em 2021, segundo dados divulgados pela Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec).

A associação anunciou que as vendas ao mercado externo somaram US$ 776,5 milhões, o equivalente a crescimento de 10,9% em relação a 2021.

Entre os principais itens exportados figuraram os produtos para cabelos (23,7%), sabonetes (19,1%) e artigos de higiene oral (11,6%). A Argentina liderou a lista dos principais compradores, seguida por México, Colômbia, Chile e Paraguai.

Ainda de acordo com a Abihpec, Estados Unidos, Portugal, Emirados Árabes e Holanda representaram os parceiros comerciais que tiveram o maior crescimento em valor e volume nas exportações.

As importações, por sua vez, encerram 2022 com US$ 741 milhões, representando acréscimo de 7,6%, na comparação com o mesmo período do ano anterior.

Basílio: exportação cresceu em valores, mas perdeu volume

Trata-se do terceiro ano consecutivo em que as exportações ultrapassam o valor de importações.

Diante desse cenário, o saldo comercial, nos últimos doze meses, foi superavitário em US$ 35,5 milhões.

Para João Carlos Basílio da Silva, presidente-executivo da Abihpec, o feito demonstra a resiliência do setor em relação aos impactos internos e externos, que reduzem a competitividade dos produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos no mercado internacional.

Ele comenta ainda que os bens exportados, em sua maioria, apresentam crescimento em valores, enquanto o volume exportado registrou queda.

Sob nova direção – Voltando-se para a política nacional, a troca do governo federal se deu no primeiro dia do ano e com ela se abriu um portal de questionamentos.

Segundo Jacob Nir, presidente do Conselho de Administração da Associação dos Distribuidores e Importadores de Perfumes, Cosméticos e Similares (Adipec), as incertezas quanto aos rumos do setor não estão especificamente atreladas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ele explica que as dúvidas quanto ao que virá pela frente se referem, sobretudo, ao momento atual.

“A incerteza não vem do novo governo, mas sim também do novo governo. Poderia ter incerteza com Bolsonaro ou outro presidente”, afirma.

Ele destaca alguns fatores que podem impactar negativamente o desempenho do setor, como a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, a moeda brasileira fraca e a alta dos preços das matérias-primas.

Nesse último caso, pensando nas embalagens, Nir cita o preço do vidro, que chegou a subir, no ano passado, cerca de quatro vezes.

“Tem o mundo lá fora em colapso como resultado da Covid-19. Com certeza, tudo isso vai afetar o mercado brasileiro”, reforça.

De acordo com a previsão de Nir, se 2023 for igual ao ano em que Lula esteve na presidência do país pela primeira vez, a situação tende a ser positiva.

No entanto, faz uma ressalva: o momento é outro e há fatores que não beneficiam o governo, atualmente.

Um dos aspectos que podem efetivamente beneficiar o país, neste ano, trata-se da reforma tributária.

Segundo Nir, se houver mudanças em relação à tributação do setor, na pior das hipóteses, o desempenho do mercado seria igual ao de 2022, o que, em sua análise, já estaria bom.

Os altos impostos, aliás, tornam o Brasil atípico frente a outros países.

Nir conta que o produto importado não representa nem 5% do mercado nacional de higiene pessoal, perfumaria e cosmético.

“Não é normal que isso aconteça. Em nenhum país do mundo é assim”, ressalta.

Ainda em relação especificamente ao setor de distribuição e importação, no ano passado, um desafio se deu quanto ao transporte internacional.

Faltou navio disponível.

Apesar de não entrar em detalhes sobre esta questão, até porque são diversos os fatores envolvidos, Nir afirma que se trata de um efeito direto dos rastros da Covid-19.

Sobre o período pandêmico, Nir observou, nos últimos dois anos, impactos positivos no segmento de alto valor agregado.

“O crescimento do mercado de luxo, em geral, levou com ele a perfumaria, higiene pessoal e cosmético”, diz.

As expectativas dão conta de que se o dólar se mantiver alto, o cenário seguirá o mesmo.

Apesar de se considerar otimista, Nir relata ser difícil fazer projeções no momento atual.

“Não dá para se preparar para 2023, pois não temos plano de governo ainda”, finaliza.

Fonte: Quimica.com.br

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