[:pt]Crise aumenta relevância do mercado externo [:]

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Por Cristiano Romero

Como ocorreu em outras crises vividas pelo Brasil, a forte desvalorização do real, combinada à retração acentuada da demanda doméstica, está estimulando o setor industrial a exportar. O que difere o momento atual das turbulências anteriores, especialmente as de 1999, 2002/2003 e 2008, é que agora a demanda externa está fraca ­ contrariando tendência histórica, o comércio mundial está crescendo abaixo do ritmo de expansão da economia mundial. Mesmo com o real tendo perdido 31,42% de valor ante o dólar neste ano, as exportações estão caindo em relação ao ano passado.

Em novembro, a média diária de vendas ao exterior diminuiu 11,8% em relação ao mesmo mês do ano passado. O que tem favorecido o aumento do saldo positivo da balança comercial é a queda das importações ­ a média diária recuou 30,2% no mês passado. Como se sabe, a desaceleração da China tem derrubado os preços das commodities, prejudicando de forma significativa as exportações brasileiras. Em estudo recém­ concluído sobre comércio exterior, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) constatou, porém, que o mercado externo ganhou importância para a indústria brasileira. “Mais de um terço das empresas está tomando ações de promoção das vendas externas, incluindo exportadoras e não exportadoras.

A busca por novos mercados e a redução de custos são as principais ações. Contudo, a burocracia e o sistema tributário brasileiro impõem dificuldades para o êxito dessas medidas”, diz o documento, antecipado com exclusividade a esta coluna. Câmbio ajuda as exportações, mas não é panaceia Para fazer o trabalho, a CNI ouviu 2.344 empresas, sendo 967 pequenas, 834 médias e 543 grandes. Constatou-­se, por exemplo, que 39% das indústrias consultadas usam matérias-­primas ou insumos importados.

O percentual é idêntico ao observado em 2005, muito próximo ao de 2006 (40%) e inferior ao de 2009 (50%), quando o país passou por uma breve recessão, provocada pela crise mundial. A tendência, por causa da desvalorização do real, é que ocorra, gradualmente, a substituição de insumos importados por nacionais. “Das empresas que utilizam insumos importados, 23% pretendem reduzir o uso nos próximos 12 meses. O percentual se mantém praticamente inalterado entre os diferentes portes [de indústria].

Entre os setores, alcança 37% em máquinas, aparelhos e materiais elétricos e 35% em veículos automotores”, diz a sondagem da CNI. Apesar de a desvalorização do real encarecer o produto estrangeiro, 23% das empresas ouvidas na pesquisa esperam que a concorrência com os produtos importados se mantenha estável nos próximos 12 meses. Os técnicos da CNI elaboraram índice de 0 a 100 pontos para medir esse aspecto nos vários setores. Na escala, os valores acima de 50 indicam expectativa de aumento da concorrência e de diminuição, quando abaixo de 50. Considerando a média do setor industrial, chegou­-se a 56,5 pontos, o que revela que a expectativa dos empresários é que a concorrência internacional se mantenha acirrada.

Os setores que mais acreditam nisso são os de calçados (64,3 pontos), vestuário (61,2), produtos de metal (61,1), produtos diversos (60,2), extração de minerais não metálicos (60) e de outros equipamentos de transporte (59,2). O setor de bebidas (45,8) acredita que haverá queda da concorrência com os importados, enquanto os fabricantes de produtos minerais não metálicos (50) apostam em estabilidade da competição e os de madeira (51,8), couros (52,5), alimentos (53,5) e veículos automotores (53,6), num aumento menor da concorrência.

A pesquisa constatou um aumento na disposição das empresas em exportar. Entre as que exportaram nos últimos 12 meses (28% do total pesquisado), 57% querem aumentar as vendas ao exterior nos próximos 12 meses, enquanto 39% esperam manter inalterado o atual volume de exportações. Os setores mais interessados em incrementar as vendas ao exterior são os de máquinas e equipamentos (83%), têxtil (74%) e de minerais não metálicos. São setores que sofreram em demasia com a perda de competitividade internacional nos últimos anos e que estão padecendo bastante com a grande recessão brasileira.

Entre as indústrias que não exportaram nos últimos 12 meses (48% do total pesquisado), 13% pretendem exportar nos próximos 12 meses. Nesse grupo, quanto maior a empresa, maior o interesse em disputar o mercado internacional. Os destaques são: os fabricantes de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (37% do total das empresas não exportadoras do setor), máquinas e equipamentos (36%), produtos diversos e limpeza e perfumaria (ambos com 35%).

Considerando as empresas que pretendem exportar, o estudo revela que 42% esperam aumento ou aumento acentuado da participação das exportações em seu faturamento bruto nos próximos 12 meses, enquanto 45% esperam estabilidade. Na análise setorial, o que se vê é que o farmacêutico (64,5 pontos), o de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (63,3), o de máquinas e equipamentos (63,1), o de madeira (62,5), o de limpeza e perfumaria (61,7) e o de veículos automotores (60,4) são os que mais acreditam em aumento da participação das exportações no faturamento.

Um aspecto interessante da pesquisa é que os industriais, mesmo beneficiados pela maxidesvalorização do real, não a consideram uma panaceia. Isso fica claro quando se analisam as respostas sobre as principais dificuldades ­ para vender ao exterior ­ apontadas pelas empresas exportadoras e não exportadoras.

A taxa de câmbio é vista ainda como um problema por apenas 22% das exportadoras e por 9% das não exportadoras. A principal dificuldade apontada ainda é a burocracia (respectivamente, 39% e 34%), seguida do sistema tributário (31% e 24%) e da infraestrutura de transporte (25% e 7%). O câmbio ocupa o 4º no ranking das preocupações. Cristiano Romero é editor­ executivo e escreve às quartas-­feiras E­mail: cristiano.romero@valor.com.br

Fonte: Valor

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