[:pt]Demanda por crédito do BNDES desaba e projeta tombo do investimento até 2016 [:]

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Por Denise Neumann e Camilla Veras Mota

A decisão da área econômica de reduzir em R$ 30 bilhões o orçamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) chega em um momento em que o “ajuste” combina com o menor apetite do setor produtivo por financiamento.

Os novos pedidos despencam vertiginosamente, indicando que o banco precisará de menos ‘funding’ no futuro próximo para bancar empréstimos. Por outra perspectiva, os dados sinalizam, no entanto, que o país deve, de fato, ter um tombo no investimento neste e no próximo ano, como projetam economistas que acompanham a conjuntura. Nos 12 meses até agosto, as consultas feitas à instituição foram 42% menores que aquelas dos 12 meses anteriores.

No acumulado do ano, a retração é ainda maior, de 49,1% sobre igual intervalo de 2014, R$ 81,2 bilhões. Essa queda nas novas intenções de investimento é muito superior à retração dos desembolsos que estão sendo feitos pelo BNDES, que estão 14% menores, também na comparação em 12 meses.

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O desânimo dos empresários para investir fez com que, pela primeira vez desde 2002, as consultas voltassem a ser menores do que os desembolsos. Nos 12 meses até agosto, os novos pedidos de financiamento feitos à instituição somam R$ 158 bilhões, enquanto os desembolsos totalizam R$ 160 bilhões. “As quedas nos desembolsos e nas consultas são razoavelmente correlacionadas e a situação atual indica redução importante nos investimentos”, afirma o economista­ chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.

Ajustada para 12 meses, o recuo nos empréstimos já verificado neste ano representa uma queda nos investimentos da ordem de R$ 300 bilhões, ele calcula. Em 2014, a Formação Bruta de Capital Fixo, medida do que se investe em máquinas e na construção civil, encolheu 4,4%, somando R$ 1,1 trilhão em valores nominais.

No primeiro semestre deste ano ela já acumula queda de 9,8% sobre o mesmo semestre do ano passado. Entre os 44 ramos acompanhados, 19 registraram quedas superiores à média de 49,1% apurada até entre janeiro e agosto. O segmento de transporte terrestre, por exemplo, que responde por 10,4% do total de consultas no período, teve retração de 64,7%, para R$ 8,4 bilhões.

A construção, que soma 3,8% das consultas, contabiliza queda de 82,1% ­ o setor de infraestrutura como um todo recuou 57%. A indústria metalúrgica e a de aparelhos eletrônicos reduziram as consultas em 91,8% e 62,9%. O setor agropecuário é um dos poucos que apurou aumento em relação ao acumulado entre janeiro e agosto, de 1,2%. Os R$ 9,9 bilhões registrados pelo setor correspondem a 12,2% do total de consultas para novos empréstimos feitas ao BNDES.

A queda na demanda por novos projetos dá uma dimensão do quanto o investimento continuará a constranger o crescimento da economia em 2016. Na média dos últimos 15 anos, 62% das consultas se transformaram em desembolsos. Se a média for seguida, o volume atual de desembolsos do banco ainda vai cair muito ­ para menos de R$ 100 bilhões no acumulado de 12 meses, em uma conta “de padaria”.

Com a disponibilidade de caixa decorrente da demanda menor, diz Gonçalves, do Fator, “é razoável” a ideia hoje discutida de realizar um encontro de contas entre os subsídios que o Tesouro deve ao banco e os créditos da União com o BNDES como esforço para melhorar a situação fiscal do governo.

Sem dar detalhes, o presidente da instituição, Luciano Coutinho, afirmou ontem que está “em entendimentos” com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para transferir esses recursos. Na terça, Levy também admitiu a possibilidade. “Temos ajudado no esforço fiscal. O BNDES não pediu recursos do Tesouro este ano, talvez a gente até ajude [o Tesouro] no sentido contrário.

Nossa esperança é que o processo do ajuste fiscal seja acelerado para podermos virar essa página [de baixo crescimento]”, disse Coutinho. (Colaborou Luciano Máximo, de Londres, e Robson Sales, do Rio)

Fonte: Valor

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