Dólar deve sustentar otimismo nos EUA



Um dólar em alta está redesenhando o cenário de investimentos à medida que o Federal Reserve, o banco central americano, encerra seu programa de estímulo. Muitos preveem que a mudança vai levar as ações americanas a novos recordes e manterá o vigor dos mercados de dívida pública.
O otimismo que reinou nos últimos meses, no entanto, sofreu um retrocesso ontem. A Média Industrial Dow Jones caiu 1,4%, recuando para os níveis de meados de agosto e fechando em 16.804 pontos. Em meio a dúvidas sobre o crescimento da economia global, os investidores buscaram proteção nas notas do Tesouro americano. O rendimento dos Tresurys de 10 anos, que se move em direção oposta aos preços, caiu de 3,509% para 2,405%, o maior declínio em um dia desde janeiro.
No cenário mais amplo, a expectativa é de que o Fed conclua em outubro as compras de títulos que são apontadas como a causa dos recordes de alta da Média Dow. Por outro lado, o Banco Central Europeu e o Banco do Japão, enfrentando crescimento lento e baixa inflação, já sinalizaram a intenção de afrouxar sua política monetária ainda mais.
Alguns investidores consideram que a divergência entre os bancos centrais está por trás de um círculo virtuoso que está se formando para os mercados americanos e a economia, lembrando a poderosa expansão americana do início dos anos 80 e 90. A perspectiva de ganhos amplos está deixando em segundo plano as preocupações de alguns investidores e analistas sobre a força da recuperação dos Estados Unidos e a alta valorização das ações de muitas empresas em relação ao seu lucro.
À medida que o crescimento da produção e do emprego possibilita ao Fed gradualmente elevar os juros de curto prazo, o dólar deve continuar se valorizando ante o iene e o euro, dizem investidores.
Muitos investidores esperam que o fortalecimento do dólar dê o tom do mercado nos próximos meses e anos. O dólar subiu mais de 8% ante o iene e o euro no terceiro trimestre. O S&P 500 teve alta de 0,6% no mesmo período e a Média Industrial Dow Jones avançou 1,3%. O título do Tesouro americano de 10 anos registrou queda em sua rentabilidade, para 2,51%, o que indica preços maiores.
Um dólar valorizado pode tornar as ações e títulos dos EUA mais atraentes para investidores internacionais, que podem embolsar ganhos com a conversão cambial. Se a inflação permanecer baixa, como muitos investidores esperam, a rentabilidade dos títulos do Tesouro deve permanecer baixa e os preços de commodities como combustíveis e metais devem cair, impulsionando o consumo, o crescimento econômico e o preço de muitos ativos.
“A conclusão mais importante é, depois de anos de um cenário de dólar fraco, estamos entrando em um cenário altista [de longo prazo] para o dólar”, diz Michael Novogratz, diretor da Fortress Investment Group, que administra US$ 64 bilhões.
O índice WSJ Dollar, que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de moedas, subiu 8,6% desde a mínima atingida em outubro de 2013 e fechou o trimestre em seu maior nível em quatro anos.
Scott Migliori, diretor de investimentos em ações americanas da Allianz Global Investors, que administra US$ 511 bilhões, diz que os investidores “querem estar orientados para quem se beneficia de um dólar mais forte”. Isso inclui as empresas americanas voltadas para o consumo, como varejistas ou aéreas, que têm a ganhar com preços mais baixos do petróleo, diz.
Migliori também espera que as ações das grandes empresas tenham um desempenho melhor que as de pequenas em um cenário de dólar mais forte, em parte porque a valorização da moeda refletiria a busca dos investidores globais por apostas mais seguras em um momento em que estão preocupados com o crescimento global.
Um possível efeito colateral da ação do Fed: à medida que o trimestre chegava ao fim, os mercados de ações e títulos passaram a ver maiores oscilações nos preços. Isso é algo que se tornará mais comum com a aproximação de uma eventual alta nos juros promovida pelo Fed, ampliando a ansiedade dos investidores sobre os efeitos da mudança de política, diz Migliori. Tais variações causariam uma alteração drástica no cenário plácido da maioria dos mercados em 2013 e 2014.
Mas em um cenário de crescimento moderado e baixa inflação, o aumento da volatilidade “não é necessariamente negativo”, diz Migliori.
Na verdade, nem todo mundo está comprando a ideia de que um dólar mais forte irá impulsionar as ações e os títulos americanos. Brian Singer, gestor de portfólio do fundo William Blair Macro Allocation, de US$ 863 milhões, acredita que qualquer impacto de uma recuperação econômica dos EUA será pequeno fora do mercado cambial. Segundo ele, isso se deve em parte ao fato de as ações americanas “estarem um pouco sobrevalorizadas”.
Ele prefere ações europeias, que estão com valorizações menores. Singer diz que seu fundo dá um peso maior a ações europeias, mas tem uma aposta “muito grande” na desvalorização do euro e do franco suíço em relação ao dólar.
Alguns ganhos com o fortalecimento do dólar virão com um enfraquecimento correspondente. Na Thornburg Investment Management, que administra US$ 88 bilhões em ativos, o diretor de investimento Brian McMahon diz que um dólar forte pode ser um obstáculo para as multinacionais americanas que exportam porque tornaria seus produtos mais caros.
Mas, segundo ele, há boas notícias na retomada do crescimento da economia dos EUA – por exemplo, para os poupadores que foram afetados pela política do Fed de deixar os juros dos investimentos seguros perto de zero. “Em comparação com outros mercados desenvolvidos, o batimento cardíaco está um pouco melhor aqui”, diz McMahon.
A Fortress, de Novogratz, observou que o cenário de um círculo virtuoso depende da capacidade do Fed de continuar elevando os juros gradualmente, graças à inflação baixa.
Até agora, existem poucos sinais de que os preços estão subindo, em parte porque o desemprego permanece elevado e o aumento dos salários é pequeno. O indicador preferido do Fed para inflação, o índice de preços para gastos com despesas pessoais, subiu 1,5% em agosto ante o mesmo período do ano anterior, abaixo da meta de inflação do Fed, de 2%.
O dólar pode registrar uma pausa depois da recente alta, diz Novogratz, antes de voltar a subir até 20% contra o euro e o iene quando o Fed começar a sua política de aperto monetário.
Mas ele alerta para os investidores ficarem de olho na inflação.

Fonte: The Wall Street Journal Americas (Valor Econômico)



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