Economia nota zero e política





vinicius torres freire

Zero. O crescimento do número de pessoas empregadas nas grandes metrópoles foi zero neste ano. O total de salários pagos cresceu pouco mais de 1% sobre setembro de 2013.

O desemprego é o mais baixo em pelo menos uma dúzia de anos, informou ontem o IBGE. Tem sido assim quase a cada mês deste 2014: a reiteração mensal do fato de que se vive numa economia estagnada com baixo desemprego e inflação resistente, de resto uma situação que apenas não degringola devido a artifícios insustentáveis.

Mas, segundo o Datafolha, houve um surto de otimismo econômico a partir do final de setembro, o que continua a causar espanto e incredulidade. Talvez seja, pois, o caso de relembrar alguns fatos sobre os sentimentos do eleitorado, pelo menos a julgar pelo que registram pesquisas de opinião.

Primeiro, não é incomum que o sentimento de confiança na economia dê alguns saltos em torno dos meses de eleição presidencial.

Segundo, por exemplo, Fernando Henrique Cardoso se reelegeu presidente em 1998 com a economia

em pandarecos. A inflação era muito baixa, mas, naquele ano, o PIB não cresceria. O consumo das famílias decrescia. A taxa de desemprego crescia. Mas talvez ainda resistisse na memória do eleitorado que, até 1994, o Brasil vivia em caos econômico.

Terceiro, o PIB de apenas um ano pode ser uma abstração para a maioria do eleitorado. PIB estagnado por mais tempo acaba por se traduzir em vida degradada. Num ano apenas não faz o verão de uma eleição ou do prestígio presidencial.

Quarto, não existe relação fixa e precisa entre humor econômico e indicadores econômicos. O ânimo econômico geral sente o impacto de coisas como a inflação da comida ou da venda nos supermercados. Mas nem sempre de imediato.

O povo começou a se desanimar com a economia quando a inflação da comida teve um pico ruim em abril de 2013. O mau humor, porém, não explodiu até depois da metade do ano passado.

Quinto, por vezes uma conturbação social e política derruba rapidamente o índice de confiança, vide o item anterior, mesmo sem alteração econômica. Em junho e julho de 2013, a insegurança econômica foi à lua, tanto no que diz respeito à inflação como a desemprego e a situação geral do país. O desemprego, porém, era baixinho, não havia início de demissões em massa, nada disso, como ocorrera em meados de 2009, dada a crise mundial (e o eleitorado reagiu de acordo, na ocasião, perdendo a confiança abruptamente).

Sexto, os indicadores econômicos não dizem tudo sobre o bem-estar material da população, menos ainda sobre suas inquietações, esperanças ou ilusões. Se por mais não fosse porque nem todos contam a história do país inteiro. A pesquisa mensal de emprego do IBGE cobre apenas seis grandes metrópoles; a situação do emprego é melhor no interior do país. Óbvio, também, o bem-estar material de parte relevante da população não está direta e imediatamente vinculado a idas e vindas da economia (por causa de benefícios sociais).

Caso perdure, a estagnação econômica vai derivar para coisa pior. Assim, a calmaria social tende a ser abalada. Mas não é possível deduzir, sem mais, eleições e mesmo a política de indicadores econômicos.

Fonte: Folha




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