PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO
A Oxygroup, empresa que produz gases usados em processos industriais, planeja fechar sua fábrica em Pará de Minas, em Minas Gerais, e transferi-la para o Paraguai, com um investimento de cerca de R$ 30 milhões. No país vizinho, a energia é 65% mais barata e os encargos trabalhistas são bem menores.
A Oxygroup é apenas uma das empresas brasileiras que estão migrando para o Paraguai ou transferindo para lá parte da produção. A Lei de Maquila paraguaia, que oferece isenção fiscal para importação de bens de capital, elimina imposto de renda e estabelece taxação única de 1% sobre o faturamento, já atraiu 42 empresas brasileiras desde 2014.
Segundo Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq (Associação Brasileira de Fabricantes de Brinquedos), cinco indústrias brasileiras estão em estágio final de análise para abrir fábricas no Paraguai, já escolhendo as cidades para instalação.
APOSTANDO NOS VIZINHOS – Investimento brasileiro direto, em US$ milhões
De acordo com a Abit (associação da indústria têxtil e de confecção), 28 companhias do setor estudam investimentos no Paraguai.
Além do custo de energia menor (o país gera mais que consome) e dos incentivos fiscais, a mão de obra é 30% mais barata que no Brasil e a carga tributária é de 16,4%, segundo a OCDE, o bloco das economias avançadas. No Brasil, a alíquota é de 35,7% e na Argentina, de 31,2%.
O ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro, está no país em uma missão da CNI (Confederação Nacional da Indústria) com representantes de 92 empresas brasileiras. “O Paraguai tem pouca densidade industrial e muito interesse em integração produtiva”, disse Monteiro à Folha. Ele nega se tratar de uma fuga de indústrias do Brasil para o Paraguai, mas, sim, de transferir para o país vizinho apenas algumas etapas da produção.
Na visão dos empresários brasileiros, o atual governo paraguaio é “amigável aos negócios” e representa estabilidade política, ao contrário do vizinho argentino, que impõe excessivas barreiras para importação e remessa de capitais.
“O Paraguai tem uma legislação de proteção a investimento que deixa os investidores mais tranquilos, garantindo indenização em caso de expropriações”, diz Diego Bonomo, gerente executivo de comércio exterior da CNI.
EM EXPANSÃO
Além disso, o país integra o sistema geral de preferências europeu, podendo exportar com tarifa zero ou baixa para o bloco (o Brasil foi retirado). O ritmo de crescimento tem conta: a economia paraguaia avançou 14,25% em 2013, 4,38% em 2014, e deve crescer 4% este ano e 4% no ano que vem, segundo dados do FMI. Enquanto isso, Brasil deve encolher 2% este ano.
Segundo os dados mais recentes do Banco Central, o investimento brasileiro direto no Paraguai passou de US$ 117 milhões em 2007 para US$ 641 milhões em 2013, expansão de 447%. Na Argentina, os investimentos são maiores, mas estão em queda —eram US$ 5,5 bilhões em 2012 e diminuíram para US$ 4,6 bilhões em 2013.
O número de investidores brasileiros no Paraguai praticamente dobrou. Eram 53 em 2007 e 104 em 2013. Na Argentina, eram 231 em 2007 e 322 em 2013.
“A ideia é usar o país como plataforma de exportação ou fazer integração produtiva com o Brasil, transferindo para lá partes do processo industrial para tornar o produto final mais competitivo”, diz Bonomo. “É a chance de desenvolvermos uma cadeia de valor na região.”
A entidade pressiona para que o Brasil feche com o Paraguai um acordo para eliminar a bitributação. Segundo Batista, da Abrinq, a transferência de produção para o Paraguai ajudou a salvar a indústria nacional de brinquedos. Na Venezuela, tentaram fazer o mesmo, mas as fábricas não eram boas e havia muitos problemas políticos “Estamos fazendo no Paraguai processos em que o Brasil não era competitivo”, diz. “O governo paraguaio conspira a favor, dá incentivo.”
“É melhor produzir no Paraguai do que importar da China”, diz Pimentel.
Fonte: Folha