[:pt]Estudo da Fazenda defende mais impostos e reformas estruturais [:]

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Por Fábio Pupo

O Ministério da Fazenda divulgou ontem um estudo sobre a necessidade de o país tomar medidas de curto prazo no ajuste fiscal, por meio principalmente do aumento de impostos, e estabelecer políticas estruturais, como a reforma da Previdência, para garantir a estabilidade da economia em médio e longo prazos. Segundo a equipe da Fazenda, o quadro econômico em 2015 guarda paralelos com os ciclos de ajuste feitos entre 1999 e 2000 (anos FHC) e, em menor proporção, entre 2003 e 2004 (anos Lula).

O documento considera que a “firmeza da política fiscal” em 2003 permitiu dissipar incertezas quanto ao compromisso com as contas públicas e proporcionou a recuperação da economia em 2004. Atualmente, diz o texto, há um quadro de desequilíbrio que exige realinhamento das principais variáveis econômicas, inclusive fiscais. O estudo repete, em vários trechos, o teor dos discursos recentes do ministro Joaquim Levy ao defender que o Brasil de 2015 tem vantagens importantes em relação ao passado, como a existência de reservas internacionais e melhores níveis de emprego, e que elas podem ser aproveitadas para garantir uma virada econômica, considerando uma política fiscal robusta que permita ao país “ir além da simples retomada cíclica”.

Para a Fazenda, o risco de insolvência externa, hoje, não é significativo. Além disso, o potencial da indústria para recuperar o mercado doméstico é maior que no passado. Apesar do tom otimista, a pasta ressalta que o setor externo só gera alta sustentada da demanda “quando caem prêmios de risco e inflação”. Também afirma que a proteção proporcionada pelas reservas não deve se tornar uma razão para complacência, “porque a pressão externa não desapareceu, como mostrado pela mudança da nota da dívida soberana e de inúmeras empresas a partir de agosto de 2015” pela Standard & Poor’s. Para a Fazenda, devem ser tomadas, paralelamente ou logo depois das políticas legislativas que fortalecerão o Orçamento de 2016, medidas estruturais que permitam a expansão da oferta no país.

Os ajustes do passado, afirma a pasta, foram de curto prazo e não vieram acompanhados dessas reformas. “Persistiram desde a segunda metade dos anos 2000 ineficiências e distorções estruturais que exigirão atenção para permitir que a retomada do crescimento, que seguirá o equacionamento do Orçamento da União de 2016, se mostre sustentável”, afirma o texto. Entre as medidas estruturais defendidas, estão as reformas da Previdência, do ICMS e do PIS/Cofins, além de nova lei de execução fiscal. “Esse conjunto de ações, junto com outras iniciativas, tenderão a levar o país para a rota do crescimento em tempo relativamente curto”, diz o estudo. A respeito do comportamento dos preços, a Fazenda diz que “a desinflação em episódios de realinhamento do câmbio é essencial para que ele possa realmente estimular o crescimento”.

A economia, segundo o documento, tem respondido às medidas tomadas no começo de 2015, apesar do relativo descompasso na parte fiscal. “No começo do ano liberaram­-se os preços da energia e deu­-se curso à regra do câmbio flutuante inaugurada em 1999. Em paralelo, a política monetária atuou de forma consistente para garantir que o realinhamento de preços fosse acompanhado de desinflação o mais cedo possível, para possibilitar a convergência das expectativas de inflação para a meta de 4,5% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional”, afirma o texto. A Fazenda lembra que o déficit em conta corrente vem diminuindo e que não há pressão excessiva sobre as empresas, em parte devido à possibilidade de elas usarem os “swaps cambiais”.

Afirma ainda que há entrada líquida de capital positiva ao longo de 2015 e que as expectativas de inflação estavam se movendo até agosto na direção da meta de 4,5% e deixando as proximidades do teto da banda. Além disso, há estabilização do resultado primário estrutural, ainda que em nível muito negativo. O texto cita também o pagamento de despesas de anos anteriores, como subsídios do BNDES. O Ministério da Fazenda fala até da Petrobras, afirmando que, no curto prazo, a empresa tem feito ajustes para cortar investimentos, mas que no médio prazo pode recuperar a capacidade de grande motriz da economia nacional.

Defende também que o impulso fiscal tem sido neutro e não contracionista e que a queda do PIB nos últimos trimestres não se deu por um aperto fiscal excessivo, mas por outras razões, “ligadas a ambiguidades mais gerais sobre a política econômica e outros aspectos do funcionamento do governo”. O estudo defende ainda a necessidade de mais impostos e que a necessidade de receitas para sustentar o esforço fiscal é importante, “porque o impacto da inflação sobre as despesas da Previdência Social em 2016 será expressivo”. “Não havendo impacto maior na redução das renúncias, mostra­se indispensável um esforço adicional no lado dos tributos”, afirma o texto. “A estabilização fiscal se manifesta pela aprovação do Orçamento de 2016 visando a um resultado primário de 0,7% do PIB e receitas adequadas para suportar esse esforço.

Como observado em ocasiões anteriores, vencido o impasse fiscal, a retomada da demanda pode ser rápida, especialmente considerando os níveis deprimidos atuais”.

Fonte: Valor[:]

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