Impacto social do ajuste pode ser longo, diz Ibre



Por Arícia Martins

O ajuste econômico em curso no Brasil caminha na direção correta e é necessário para que o país volte a crescer com equilíbrio, mas o impacto social das medidas restritivas não é desprezível, tampouco de curta duração. A avaliação é do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre­FGV), que prevê deterioração do mercado de trabalho e da renda das famílias também em 2016. Na edição de maio do Boletim Macro, divulgado com exclusividade ao Valor, a equipe de conjuntura do Ibre aponta que os efeitos do ajuste fiscal e monetário serão mais fortes sobre o Produto Interno Bruto (PIB), que deve recuar 1,5% em 2015, do que sobre a ocupação e a renda.

Isso não significa que o nível de emprego e os ganhos salariais serão pouco afetados. Para os economistas da entidade, “o custo social pode não se revelar tão moderado como indicam os modelos econométricos.” Em linha com esse cenário, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado Sexta-Feira, mostrou que 97,8 mil empregos formais foram eliminados em abril, primeiro saldo negativo para o mês desde 1992. A estimativa média de dez analistas ouvidos pelo Valor Data contava com geração de 57,2 mil vagas com carteira assinada no período. “O ajuste tem que passar pelos salários e pelo mercado de trabalho para evitar aceleração inflacionária. Isso é agressivo e ruim, mas se a inflação voltar, quem perde são os mais pobres. É melhor sofrer por um ou dois anos para depois convivermos com uma inflação mais baixa”, diz Silvia Matos, coordenadora técnica do Boletim Macro. Ainda há incertezas em relação à velocidade prevista para a o aumento do desemprego e para a retração na renda real, pondera Silvia, mas esses dois movimentos não ficarão restritos a 2015. Pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua, do IBGE, o Ibre projeta que a taxa de desemprego do país vai avançar de 6,8% em 2014 para 7,7% este ano, chegando a 8,6% em 2016.

Já a renda do trabalho deve recuar de 2% a 3% em 2015, mas não há projeções para o próximo ano. Para a coordenadora do boletim, esses números podem ser considerados conservadores, pois a população ocupada pode sofrer uma queda maior e existe espaço para uma alta também mais expressiva da População Economicamente Ativa (PEA), que ainda está avançando em um ritmo abaixo da População em Idade Ativa (PIA). Na seção de mercado de trabalho do boletim, os pesquisadores Rodrigo Leandro de Moura e Tiago Cabral Barreira afirmam que, ao contrário dos ajustes de períodos recessivos de décadas anteriores, o maior grau de formalização da economia deve evitar, atualmente, uma expansão muito forte do total de desempregados. “Os custos trabalhistas mais elevados advindos da formalização recente impedirão um aumento muito forte das demissões”, explicam Moura e Barreira. Esta característica do mercado de trabalho brasileiro, dizem, fará o ajuste ser mais forte sobre a renda. Do lado da atividade, Silvia argumenta que a grande novidade é o desempenho ruim dos serviços, que, prejudicados pelo menor poder de compra das famílias, devem ter recuado 0,5% na passagem do último trimestre de 2014 para o primeiro de 2015, feitos os ajustes sazonais. No ano, o Ibre estima retração de 0,8% para o PIB do setor.

Fonte: Valor Econômico

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