Indústria da beleza pode exportar mais

“Um estudo sobre a indústria química, financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), aponta oportunidades para beneficiar em US$ 1 bilhão a US$ 1,5 bilhão ao ano a balança comercial do setor de cosméticos e higiene pessoal no longo prazo. A projeção considera o retrato potencial do setor em 2030.

O levantamento, elaborado por um consórcio da Bain & Company com a Gas Energy, destaca três oportunidades para o desenvolvimento da indústria de beleza: a produção nacional de desodorante em aerossol, o aumento da participação brasileira nas exportações regionais e o desenvolvimento de produtos a partir da biodiversidade local.

No ano passado, a indústria de cosméticos e higiene pessoal registrou déficit comercial de US$ 412 milhões. Na indústria química em geral, as importações superaram as exportações em US$ 32 bilhões.

Segundo Rodrigo Más, sócio da Bain & Company e coordenador geral do estudo, a migração da produção de desodorantes em aerossol para o Brasil e o aumento da capacidade produtiva para elevar a exportação regional de cosméticos demandaria investimentos de US$ 600 milhões e US$ 1,25 bilhão na indústria. Para colocar essas ações em prática, no entanto, o setor esbarra em desafios como a baixa competitividade da matéria-prima petroquímica e a dificuldade de exploração da biodiversidade local.

O estudo faz parte do plano Brasil Maior e busca propor uma agenda para os setores público e privado. “Dividimos a indústria química em 60 setores e destacamos 18 prioritários. Cosméticos está dentro desse

grupo e entre os considerados muito interessantes pelo forte crescimento e presença de empresas nacionais disputando o setor”, diz Gabriel Lourenço Gomes, chefe do departamento de indústria química do BNDES. O banco desembolsou R$ 225 milhões ao setor de cosméticos em 2013.

Com crescimento acima da média global e faturamento de US$ 43 bilhões em 2013, o mercado brasileiro de cosméticos e higiene pessoal é o terceiro maior do mundo, atrás de Estados Unidos e China. A empresa de pesquisa Euromonitor projeta receita de US$ 65 bilhões em 2017. As maiores empresas do mercado são as brasileiras Natura e Boticário e as multinacionais estrangeiras Unilever, Procter & Gamble, Avon e L’Oréal.

O tamanho do mercado fez com que muitas multinacionais instalassem fábricas no Brasil nos últimos anos, mas apenas 1% do que é produzido aqui é exportado para outros países. A importação também é pequena, de apenas 2% do total.

Apesar de ser o maior mercado global de desodorantes, o Brasil importa as versões em aerossol da Argentina, onde o gás propelente (butano e propano, responsável pela dispersão do produto) é abundante e subsidiado. Por isso, o preço de uma tonelada do gás usado nos aerossóis é US$ 500 mais barato na Argentina. O propelente responde por mais da metade do custo total de um desodorante. De acordo com a associação brasileira de aerossóis (Abas), dos 400 milhões de desodorantes em aerossol comercializados no Brasil no ano passado, 89% foram importados. A Unilever, dona das marcas Rexona, Axe e Dove, lidera a categoria.

Segundo Felipe Pereira, gerente do departamento de indústria química do BNDES, um dos gargalos para o desenvolvimento da cadeia de aerossol é a disponibilidade de propelente no Brasil. “O desafio seria estruturar um projeto de purificação do gás propano que para a indústria de aerossol precisa ter um nível de pureza maior do que tem hoje no Brasil”, destaca.

Hugo Chaluleu, presidente da Abas, afirma que o país já está preparado para a produção local e que fabricantes de tubos de alumínio e de válvulas se instalaram no país nos últimos anos. “Hoje temos toda a infraestrutura necessária, inclusive propelente de qualidade, e, principalmente, temos mercado”.

A riqueza da biodiversidade brasileira é apontada como uma vantagem competitiva no estudo, mas a burocracia atrapalha. “As empresas querem investir na biodiversidade, mas o processo de registros e procedimentos necessários desestimula um investimento mais forte”, afirma Más, da Bain.”


Fonte: Valor Econômico

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