Indústria dos EUA continua a perder espaço global

O grande aumento na oferta de gás natural de xisto elevou as esperanças de uma recuperação da indústria dos Estados Unidos, em parte impulsionada pela energia mais barata. Mas as fábricas americanas ainda estão perdendo terreno para suas rivais na Ásia e Europa. A tendência é mais acentuada nos setores de aço, caminhões, autopeças, máquinas industriais e móveis. O déficit comercial dos EUA em bens cresceu no primeiro semestre, para US$ 371,59 bilhões, ante US$ 354,64 bilhões um ano antes. As importações aumentaram 3,3%, enquanto as exportações avançaram 2,6%. As exportações de manufaturados, excluindo petróleo e carvão, cresceram apenas 0,8% – bem abaixo da alta modesta de 2,1% registrada em 2013.

Sem um aumento forte e sustentável nas exportações, é improvável que a indústria americana tenha a recuperação prevista por alguns especialistas. Mas crescer é difícil quando a China e outros países aplicam estratégias agressivas de exportação e os EUA perderam suas habilidades de manufatura depois que a produção migrou para o exterior. A China não é o único país que está ganhando essa batalha. A defasagem entre o comércio dos EUA e os dos três principais membros da zona do euro – Alemanha, França e Itália – se ampliou no primeiro semestre. Alguns economistas dizem que é apenas uma questão de tempo para os EUA começarem a lucrar novamente com o comércio internacional. O economista da IHS, Michael Montgomery, diz que o menor custo da energia, diferenças salariais menores e outros fatores causam um efeito de câmera lenta que ainda não é visível na balança comercial.

E a importação de aço e de máquinas industriais, em muitos casos, é um investimento na base industrial americana que impulsionará o setor de energia e a indústria de forma a acabar ajudando as exportações. Embora o déficit americano em bens manufaturados tenha crescido nos últimos dez anos, atingindo US$ 469 bilhões em 2013, as exportações aumentaram 90% e as importações, 70%, segundo dados do Serviço de Informação de Comércio Global. Os custos da energia estão caindo nos EUA à medida que técnicas como o fraturamento hidráulico e outras permitem o acesso a grandes reservas de petróleo e gás natural nas formações rochosas de xisto.

Os preços estão caindo para as empresas de energia que usam gás para gerar eletricidade. Os usuários industriais da Alemanha pagam 2,4 vezes mais pela eletricidade que nos EUA, segundo a Agência Internacional de Energia. E os salários americanos estão estáveis, enquanto na China eles têm subido rapidamente, reduzindo a diferença salarial existente entre os EUA e seu maior concorrente econômico. Há quatro anos, a meta da Casa Branca era dobrar as exportações americanas em cinco anos. Isso significaria gerar US$ 3,16 trilhões em exportações este ano. Mas a firma de pesquisa IHS Inc. prevê exportações de US$ 2,34 trilhões neste ano e de US$ 2,51 trilhões em 2015.

O Departamento do Comércio cita fortes obstáculos econômicos “globais inesperados e fatores macroeconômicos incontroláveis. Mas isso só significa que temos mais trabalho a fazer”. O departamento informa que está fornecendo informações a pequenas e médias empresas para ajudá-las a aproveitar oportunidades de exportação, entre outras iniciativas. As melhores áreas no cenário comercial americano são as relacionadas ao setor de energia. As exportações petroquímicas devem começar a crescer rapidamente em 2016 com o início da operação de novas unidades, atingindo cerca de US$ 37 bilhões em 2019, ante US$ 26 bilhões neste ano, de acordo com a IHS. Isso vai ajudar, mas não fará muita diferença no déficit comercial em bens, que totalizou US$ 702 bilhões no ano passado.

As razões da perda de terreno da manufatura americana dependem do tipo de produto. Nos eletrônicos, a produção migrou para o exterior, então os EUA nem concorrem em áreas como smartphones e aparelhos de TV. Fabricantes de caminhões comerciais migraram para o México nos últimos dez anos e não veem razão para voltar. “Certamente são os custos [mais baixos] da mão de obra”, diz o diretor operacional da Navistar International Corp., Jack Allen. “Mas é também uma mão de obra qualificada e altamente educada, e temos tido uma grande colaboração do sindicato aqui, assim como do governo.” O aço é responsável por uma grande parte do crescente déficit comercial dos EUA. A capacidade das usinas e o suprimento de matéria-prima foram reduzidos de tal forma durante a recessão que hoje não são suficientes para atender a demanda crescente.

A produção americana de aço foi de 95 milhões de toneladas no ano passado, enquanto a demanda foi de 107 milhões de toneladas, segundo o Instituto Americano de Ferro e Aço. Os EUA são “a única economia madura” com escassez de aço, diz Mark Millett, diretor-presidente da siderúrgica Steel Dynamics Inc. Quando as empresas precisam de tubos de aço para a área de fraturamento hidráulico, seus fornecedores precisam buscar no exterior. Montadoras e empresas de construção, por exemplo, também precisam importar aço. As importações americanas de ferro e aço cresceram 37,5% no primeiro semestre, para 21,9 milhões de toneladas. Na indústria de caminhões, a crescente demanda nos EUA está sendo atendida principalmente pelo México e outros países. As importações americanas de caminhões comerciais avançaram 36% no primeiro semestre. O México produziu 297.229 caminhões comerciais em 2013, 68% a mais que em 2010, segundo a Power Systems Research. Os grandes caminhões usados na mineração foram um item significativo das exportações americanas entre 2011 e 2012, mas as vendas caíram com a retração do setor. As vendas de grandes caminhões de mineração da Caterpillar Inc., por exemplo, devem cair 80% este ano ante o pico de 2012.


Fonte: Wall Street Journal

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