[:pt]Insumo importado dispara com dólar e pressiona indústria [:]

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Por Marta Watanabe

A aceleração da desvalorização cambial nos últimos dois meses fez saltar o custo do insumo importado para o exportador. Em apenas dois meses, de junho a agosto, o índice de custo do insumo importado na produção destinada ao exterior subiu 10,69%, enquanto o de serviços e salários cresceu 1,02% e o de insumos nacionais, 0,75%. Os dados são da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). Em agosto, contra igual mês de 2014, o custo dos insumos importados avançou 24%, superando largamente a alta de 10,9% em serviços e salários e de 6,1% nos insumos nacionais.

A curva do índice de custo dos insumos importados vinha paralela à de insumos domésticos e a de serviços e salários, mas começou a descolar­se em julho, num movimento que se intensificou em agosto e que, segundo analistas, deve ser a nova tendência para o curto prazo. “A aceleração da desvalorização do real fez a curva do custo dos insumos importados subir muito mais que os demais custos, num descolamento excepcional”, diz Daiane Santos, economista da Funcex.

No acumulado do início do ano até agosto, o custo do insumo importado avançou 16,2% na comparação com iguais meses de 2014. No mesmo período, o custo de serviços e salários cresceu 9,9%, com forte influência da tarifa de energia elétrica, e os insumos nacionais, 1,8%. Os três componentes fizeram o custo de produção do exportador subir 6%, ainda segundo dados da Funcex, que acompanha 28 setores de atividades, incluindo indústria de transformação, segmentos extrativistas, além de agricultura, pecuária e pesca.

A pressão dos insumos importados só não foi maior, diz Daiane, porque os preços dos produtos desembarcados caíram em dólar, como resultado da negociação entre fornecedores e importadores. No acumulado até agosto os preços médios dos importados recuaram 11% contra mesmos meses de 2014. O problema, porém, diz ela, é que há limites para a contenção do repasse da variação nominal do câmbio para esses preços e a perspectiva é que a depreciação do real frente ao dólar se mantenha, mesmo que em ritmo menor.

Levantamento da Funcex mostra que, em alguns segmentos, o custo dos insumos importados cresceu acima de 30%. Em equipamentos de informática, eletrônica e óticos, esse custo avançou 35,9%. No seguimentos de veículos automotores, 37,5%. Na indústria exportadora de vestuário, a alta foi de 26,9%, e na de calçados, 25,9%.

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Para José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), no curto prazo o insumo importado continuará como o custo mais pressionado na produção de bens para exportação. Com a deterioração do mercado de trabalho, diz ele, o custo de salários deve, na média, acompanhar a inflação. O custo dos insumos nacionais deve manter pequena variação, já que, apesar da desvalorização do real frente ao dólar, o fornecedor doméstico continua sofrendo concorrência do importado.

Além disso, com a retração da economia não há espaço para elevar preços. A desvalorização tem efeitos benéficos para o exportador, diz Castro, porque as vendas em dólar geram maior receita em moeda nacional. Mas há forte pressão no custo dos insumos e o exportador muitas vezes reduz seu preço em dólar por exigência do cliente, que está ciente da desvalorização cambial, destaca. “Além disso, o mercado internacional também está em ajuste, o que joga os preços para baixo.” Segundo os dados da Funcex, de janeiro a agosto os preços médios de exportação caíram 20,9% contra igual período do ano passado.

Essa queda de preços, ao lado da elevação de custo de produção, corroeu boa parte da vantagem que a desvalorização da taxa nominal de câmbio poderia trazer para a rentabilidade das exportações. Em agosto contra igual mês do ano passado a margem de lucro do exportador cresceu 6,7%, em média. No acumulado do ano até o mês, porém, a rentabilidade ficou quase estável em relação a iguais meses do ano passado, com queda de 0,1%. Daiane destaca que o fato de a economia brasileira ainda ser relativamente fechada contribuiu para amenizar o impacto da desvalorização cambial nos custos de produção.

O peso dos insumos importados é, em média, de 10% do custo total de produção do exportador. Os insumos nacionais representam 52%, enquanto salários e serviços respondem pelos demais 38%. Para Castro, a pressão do custo dos insumos importados para a produção do exportador salta aos olhos, principalmente num momento em que as importações despencam. De janeiro a setembro, as importações totais brasileiras caíram 22,6% contra iguais meses do ano passado, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

A pressão do custo do insumo importado reflete não somente o câmbio, mas também a dificuldade na substituição de importações, processo que costuma ser mais difícil quando se fala em matérias­primas e intermediários, diz Castro. “O processo é lento, mas ainda há muito espaço de substituição”, destaca. Ele ressalva, porém, que em alguns segmentos da indústria de transformação, a substituição enfrenta a falta de fornecedores domésticos.” Estudo da MCM Consultores Associados mostra que a depreciação da taxa de câmbio neste ano e a provável continuidade da tendência em 2016 favorecem naturalmente o insumo importado, mas embora haja redução do coeficiente de penetração das importações, não há melhora significativa desse indicador.

Para analisar o indicador, o estudo estimou uma regressão linear utilizando como variáveis explicativas o custo unitário da mão de obra, a produtividade da indústria e o preço relativo dos produtos industriais brasileiros. Esse preço relativo foi calculado como a razão entre os níveis de preços dos produtos importados e os da produção doméstica. Apesar de uma taxa de câmbio mais favorável para a substituição de importações, diz Leandro Padulla, economista da MCM, o aumento dos preços relativos tem se dado de forma lenta. Há uma distensão no mercado de trabalho, diz ele.

Isso contribui para a redução do custo unitário do trabalho e, consequentemente, para a redução do coeficiente de penetração das importações, mas essa queda de rendimento tem sido anulada pela estagnação da produtividade da indústria. “Além disso, a economia está enfraquecida e os estoques ainda estão muito altos e não foram ajustados, o que deve tornar mais difícil a recuperação da produção industrial”, diz Padulla.

Fonte: Valor[:]

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