Levy ouve queixas, mas pede ajuda a empresários para aprovar ajuste fiscal



ADRIANA FERNANDES

Um dia após as manifestações contra o governo, o ministro da Fazenda se reuniu com grandes empresários, pediu apoio para convencer o Congresso a aprovar o ajuste e ouviu reclamações sobre a falta de diálogo e o aumento dos impostos

Um dia depois das manifestações contra a corrupção e as medidas econômicas do governo, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, buscou nesta segunda-feira apoio de grandes empresários para a aprovação do plano de ajuste fiscal no Congresso Nacional.

Em encontro fechado de quase três horas com os pesos pesados do PIB nacional, na Federação da Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Levy afirmou que é preciso urgência total na aprovação das medidas para garantir a retomada do crescimento econômico o mais rápido possível.

Na tentativa de enfrentar as resistências do setor produtivo às medidas fiscais, o ministro reforçou ao empresariado o discurso da presidente Dilma Rousseff pós-manifestações de domingo, de abertura ampla do diálogo. Segundo assessores, Levy não ficou assustado com as manifestações, que considera parte do jogo democrático.


Ministro da Fazenda, Joaquim Levy almoçou com empresários na Fiesp

Para aprovação das medidas, o foco agora é intensificar o diálogo com os presidentes Renan Calheiros (Senado), Eduardo Cunha (Câmara) e lideranças dos partidos. Nesta segunda-feira mesmo o ministro tinha programado um jantar com a bancada do PT.

Para Levy, não há solução para a economia sem o ajuste, que precisa ser feito rapidamente para que se possa entrar na segunda etapa do plano econômico de garantir o crescimento.

Queixas. Apesar do discurso do ministro, os empresários reclamaram da falta de previsibilidade e que o diálogo prometido tem de ocorrer antes de as medidas serem tomadas, para não serem surpreendidos negativamente, como ocorreu com o aumento dos impostos dos setores que eram beneficiados pela desoneração da folha de pagamentos. Aprovado como permanente, o modelo de desoneração foi alterado três meses depois, com alta das alíquotas.

Os empresários cobraram de Levy um plano anual que limite o crescimento das despesas de custeio do governo para que não haja uma expansão anual acima do PIB. Somente com um programa desse tipo, argumentaram os empresários, será possível abrir uma janela para a diminuição da carga tributária, sem afetar o superávit primário das contas do setor público.

Ministérios. A maior cobrança foi em relação ao aumento dos tributos. Os empresários querem que o governo dê exemplo cortando na própria carne, diminuindo o número de ministérios e de cargos comissionados. Mesmo que o ganho para as contas públicas não seja significativo, os empresários entendem que o governo precisa dar o exemplo “em casa” para cobrar sacrifícios do setor produtivo e da população em geral.

Apesar do aceno de maior diálogo, Levy não indicou alteração nas medidas de desoneração e de aumento da carga tributária. Os empresários continuam resistentes, desabafou uma fonte. Eles têm feito mobilização no Congresso, sobretudo, para alterar as medidas do pacote de mudanças trabalhistas e previdenciárias que elevam o custo das empresas.

O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, disse que o Brasil passa por um momento delicado e é preciso encontrar caminhos para que essa travessia não custe muito caro para as pessoas e as empresas. Entre os empresários, estavam Benjamin Steinbruch (CSN), Abílio Diniz (BR Foods), Jorge Gerdau (Gerdau), Luiz Moan (Anfavea), Victorio De Marchi (Ambev) e Josué Gomes da Silva (Coteminas). Também estiveram presentes o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles e o ex-ministro Delfim Neto.

Coragem. Levy também esteve nesta segunda-feira na Associação Comercial de São Paulo. “Quando o jogo é claro, todo mundo vai à luta e as coisas mudam”, disse o ministro. Segundo ele, é importante não ter medo do ajuste. E ressaltou ser importante que as condições da economia sejam oportunas para que o setor privado possa atuar. “Capitalismo de Estado não dá muito certo para uma democracia”, afirmou.

Fonte: Estadão

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