Mercados indicam que alta de juros nos EUA virá mais tarde

A ata da reunião de setembro do Federal Reserve americano postergou o provável calendário de início da elevação das taxas de juros. Considerações importantes do Fed sobre a saúde precária da economia mundial, reforçadas esta semana pelos relatórios do Fundo Monetário Internacional, jogaram para baixo as bolsas americanas e ampliaram a volatilidade dos mercados. Em consequência, os rendimentos dos títulos do Tesouro de 10 anos chegaram a cair a 2,28%, menor taxa em 15 meses, para fechar quase sem variação, a 2,32%. Pesquisa da Bloomberg mostra que o mercado futuro de ” fed funds” indicou que a maioria dos investidores mudou sua expectativa inicial da alta de juros de julho para setembro.
O Fed vacilou e, apesar das discussões permanentes sobre como melhorar a divulgação de seus próximos passos, voltou a confundir os mercados. Curiosamente, os mercados projetavam, antes da reunião do BC americano de 17 de setembro, uma evolução mais lenta para a elevação dos juros que a que o Fed revelou depois. Até antes da divulgação da ata da reunião, havia algum consenso de que o pontapé inicial nos juros seria dado em meados de 2015 e as altas subsequentes seriam moderadas. As projeções dos membros do Fed indicaram, ao contrário, que o ritmo de altas seria bem mais rápido do que se imaginava. Implícito na projeção estava a melhoria segura das condições da economia americana.
O cenário, porém, sofreu alterações com a proximidade da normalização monetária nos EUA. O dólar reforçou um movimento de alta em relação às principais moedas, inclusive as dos países emergentes. Tem agora a maior cotação ante o euro em dois anos e a maior em seis anos ante o iene. A escalada da moeda americana ganhou embalo com a perda de fôlego da recuperação da zona do euro e com a desaceleração da China (menor) e de grandes economias, como Brasil e Rússia (maior). Com a economia global fraquejando, os preços do petróleo caíram – ontem atingiram o menor valor desde 2012 -, reforçados ainda pela exuberante produção americana.
Os resultados desse movimento conjunto foram perda de dinamismo das exportações americanas, com impactos futuros na taxa de crescimento do país, e uma inflação em queda, ainda que não abrupta. Se pelo lado do emprego há progressos evidentes, embora moderados, do lado da evolução de inflação a perspectiva ficou provisoriamente menos favorável, porque dólar em alta e petróleo em baixa deprimem o nível de preços.
Em consequência, o mercado de títulos do Tesouro com proteção contra a inflação (Tips) apontou bastante para baixo, sugerindo um nível de preços na casa de 1,5%. Os sucessivos programas de relaxamento monetário (três) foram lançados quando a inflação sinalizada pelos Tips caiu abaixo desse nível. Tornou-se então inviável acenar com a proximidade do fim dos juros perto de zero nessas condições. O Fed deu sobrevida na ata à expressão “por um período prolongado de tempo” ao intervalo que decorrerá entre o fim das compras de títulos em outubro e os próximos passos da política monetária.
“A inflação tem se mantido abaixo da meta de longo prazo do Comitê”, apontou a ata do Fed, “e as leituras dos preços ao consumidor no intervalo entre as duas reuniões foram de alguma maneira mais suaves que nos quatro meses precedentes, em parte devido ao declínio dos preços da energia”.
A valorização do dólar foi apontada por dois membros do Comitê de Mercado Aberto do banco como fator de contenção da inflação, enquanto que mais membros disseram que a fraqueza da economia e a baixa inflação na zona do euro podem contribuir para apreciação adicional da moeda americana, com “efeitos adversos sobre o setor externo da economia”. A desaceleração da China ou do Japão, além de eventos imprevistos no Oriente Médio e Ucrânia indicam “riscos similares”.
O cenário está de novo mudando nos mercados. Indicadores ruins que sugerissem um adiamento na alta dos juros pelo Fed empurravam as ações para cima e continham o fôlego do dólar. Nesta semana não foi assim. A economia global desacelerou, a zona do euro está estagnada, os países emergentes crescem abaixo do ritmo do período pré-crise, e tudo isso ameaça o crescimento futuro dos EUA. Mais ainda, um terço das receitas das empresas que compõem o índice S& P 500 vêm de fora dos EUA – a baixa expansão deprime sua performance e o dólar forte, suas receitas.


Fonte: Valor Econômico

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