Nova China é desafio para exportações brasileiras, diz ex-ministro

O Brasil precisa desenvolver uma visão estratégica para conviver com uma nova China. Essa é a conclusão do ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Sérgio Amaral, e do diretor do BRICLab da Universidade de Columbia, Marcos Troyjo.

Eles participaram do debate “O ‘efeito China’ acabou?”, realizado na manhã desta quarta (27), dentro do Fórum de Exportação promovido pela Folha.
O fórum é o quarto seminário da série que discute temas do país e ocorre em São Paulo, entre esta quarta (27) e quinta-feira (28).
Maior importador de mercadorias produzidas no Brasil, o país asiático passou a ocupar, na última década, um lugar até então reservado aos Estados Unidos. Entretanto, o crescimento econômico chinês tem desacelerado.
“É uma reconversão da economia, antes voltada para a exportação, que agora começa a se basear no mercado interno e no investimento em tecnologia”, diz Amaral.
Essa nova versão foi batizada de “China 2.0″ por Troyjo. Mais disposta a incrementar a renda média da população –superior a um bilhão de habitantes–, o governo chinês pretende espalhar a produção de manufaturados em países vizinhos –como Vietnã e Indonésia– com um custo menor de mão de obra, além de ampliar a presença na África, continente rico em minérios e potencial agrícola.
“O Brasil continuará tendo a China como uma maquininha de fazer dinheiro. O lado ruim é que agora eles terão um interesse menor em investir em países que têm acesso privilegiado a mercados como Estados Unidos e Europa. Por isso, o fundamental é formular uma estratégica de comércio internacional com quem terá relação próxima com os chineses”, afirma Troyjo.
Os custos de produção no Brasil são outro entrave para o aumento das exportações para a China. “Estamos ficando para trás porque temos dificuldade de exportar mercadorias com maior valor agregado. Aqui é muito caro para produzir”, avalia Amaral.
Para o ex-ministro, o Brasil paga um preço elevado por não ter acordos comerciais com os países vizinhos. “Hoje, 60% do comércio das nações asiáticas é feita entre elas. Em comparação, esse número é inferior a 20% na América Latina. Isso dificulta a entrada dos nossos produtos por lá.”
Para Troyjo, o Brasil é uma economia em desenvolvimento sem a mesma competitividade de outros mercados emergentes por ter apostado em um modelo social mais próximo da Europa. “O principal legado disso é que somos muito caros para competir com os mais pobres. Ao mesmo tempo, somos muito lentos para competir com os lugares mais prósperos.”
A solução, na opinião de Amaral, passa por construir uma relação mais próxima com as nações parceiras da China. “Com o nosso custo elevado de produzir, nós deveríamos ter acordos comerciais que não temos. Precisamos aumentar a nossa atuação nos países que vão se beneficiar da mudança na política chinesa”.

Fonte: Folha de S. Paulo

Comments

Open chat
Como posso te ajudar?