[:pt]O Preço do Investimento em Meio às Incertezas[:]

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A queda de 3,0% do PIB brasileiro projetada para 2015, após estagnar em 2014, evidencia os descaminhos da economia no sentido de colocar os investimentos à frente. Em agosto de 2014 a Carta IEDI nº 636 expôs o desafio e a premência de se fortalecer a formação bruta de capital fixo (FBCF) sob risco do quadro se deteriorar. Não só se deteriorou como a situação política retrocedeu, em meio a um ajuste fiscal conturbado e política monetária contracionista. Daí a retração de 2,1% do PIB no primeiro semestre do ano frente ao mesmo período de 2014, com a FBCF declinando 9,8%.

O crescimento econômico capitaneado pelo investimento possibilita a expansão com menor pressão sobre os preços em geral e tende a favorecer mais a indústria. Daí a atenção com o dinamismo da FBCF, o que requer o tratamento de dois pontos. Um reside no preço relativo da FBCF: o empreendedor tende a se arriscar mais havendo perspectivas de maior retorno real nos períodos subsequentes. Se o preço da FBCF em termos do preço do consumo cair, investir se torna mais propício, ao ampliar as chances de se ter uma cesta maior de consumo adiante.

O ponto seguinte se refere ao preço de investir contraposto ao de outros países. Na economia global, a decisão sobre onde operar exige colocar na ponta do lápis o custo de se instalar e atuar em distintas localidades. Ressalve-se que um custo maior de investir pode expressar qualidade superior dos bens de capital e instalações, o que se converte em maior produtividade ou diferenciação de produto, sendo um caso positivo de elevação de preço da inversão.

O último ponto – o do custo de investimento – pode ser visto a partir das Penn World Tables, versão 8.1 (PWT8.1) divulgadas em abril últimos com dados até 2011. Estas trazem o preço da inversão (FBCF mais variação de estoques) no Brasil e em outros países medido em termos do preço do PIB dos EUA (preço do PIB dos EUA igual a 1 em 2005).

Os dados permitem as seguintes conclusões:

  • Em 1985 o preço do investimento do Brasil, 0,28 do preço do PIB dos EUA, era um dos menores dentre amplo leque de países selecionados (era o quadragésimo terceiro entre 50 países), ficando só um pouco à frente da China e África do Sul;
  • Em 2000, o preço do investimento do Brasil estava em 0,47, ocupando o 37º lugar entre 54 países; o indicador era maior do que o da China, Índia e Rússia e África do Sul, mas inferior ao de todos os integrantes do G7, bem como dos países da Europa Ocidental e Setentrional e outros em desenvolvimento;
  • Em 2011, o preço da inversão atingiu 1,27, patamar só superado por sete países (Suíça, Noruega, Austrália, Honduras, Suécia, Costa Rica, Japão). Assim, os países dos BRICS e a quase totalidade dos demais países emergentes, além de muitos países industrializados como EUA, Canadá e boa parte da Europa, incluindo os integrantes europeus do G7, ficaram mais baratos para investir do que o Brasil.

O preço da inversão no Brasil até 2011 também refletiu o fôlego do mercado doméstico, tornando o País atraente para empreendimentos quando centros mundiais de consumo importantes não mostravam poder de recuperação após a crise internacional eclodir. Ou seja, ao se constituir num dos poucos mercados com poder de consumo, houve maior procura para investir em solo brasileiro, concorrendo para ampliar o preço do investimento. O maior preço do investimento decorria, então, desse contexto e não necessariamente de um aumento na qualidade dos bens de capital e nas instalações.

Esse quadro mudou desde 2011. O ano de 2014 terminou com o País em situação mais delicada, o que se agravou em 2015. E 2014 encerrou com o deflator da FBCF crescendo 7,7%. Quanto ao preço relativo do investimento fixo, calculado com dados acima, teve declínio de 2010 a 2013 nas duas variantes consideradas: razão entre deflator da FBCF e deflator do PIB; e razão entre o deflator da FBCF e o do consumo final. Ou seja, até 2013, investir estava ficando mais barato do que consumir para quem mora no País. Mas, em 2014, tal processo cessou, ficando o indicador praticamente igual ao do ano anterior, com ligeiro acréscimo. Ademais, mesmo quando o preço relativo caia, o processo não impediu do Brasil ficar mais caro para quem queria investir, como foi visto pelas PWT8.1.

Em termos comparativos, o preço relativo da FBCF no Brasil entre 1995 e 2013 chegou a apresentar uma melhor trajetória do que em outros países. Ilustrando, a China terminou tal período com preços relativos de FBCF maior que em 1995, quer em termos do PIB, quer em termos do consumo final. O Brasil chegou em 2013 com ambos indicadores menores do que em 1995. Todavia em 2011, pelas PWT8.1, a China mantinha um preço do investimento baixo. Isto é, apesar do deflator da inversão fixa na China ter crescido mais do que seu deflator do consumo final, seu preço do investimento por si não se elevou como o brasileiro.

Em suma, frente a países latino-americanos, dos BRICS, Tigres Asiáticos e dos ASEAN-4 e mesmo do G7, há casos em que o preço relativo da FBCF do Brasil teve uma trajetória melhor de 1995 a 2013, porém sem necessariamente implicar em menor preço do investimento. Assim, se em 2014 o IEDI apontava como desafios para o País enfrentar tanto o preço do investimento quanto a recolocação da formação bruta de capital fixo na liderança da expansão, o Brasil parece estar transformando ambos em obstáculos maiores.

Fonte: IEDI[:]

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