Para economizar na crise, compras coletivas

 

Por Maria da Paz Trefaut

Em época de crise e inflação alta, alguns restaurantes e negócios ligados à alimentação estão partindo para as compras coletivas. A estratégia já tem seguidores em São Paulo e no Rio de Janeiro. De um modo geral, concentrar o abastecimento numa central de compras é um sistema corriqueiro em grupos de maior porte, que têm várias bandeiras. Mas é um modelo novo e incipiente entre donos de pequenos negócios. Em São Paulo, quem acaba de adotar o método é a Holy Burguer, uma hamburgueria que estabeleceu parceria com a Chicano Taqueria, um restaurante de sotaque mexicano.

Na primeira compra conjunta, dividiram guardanapos e embalagens descartáveis. Tudo começou porque os sócios da Chicano são clientes do Holly e vice­versa. “Numa conversa informal, um dos donos da Chicano, o Vinícius Sales, nos indicou um fornecedor. Aí surgiu uma conversa sobre a possibilidade de comprarmos algumas coisas em conjunto”, diz Marcus Vinicius, um dos proprietários da Holly Burguer. O pedido foi feito em conjunto e cada um ficou responsável por sua mercadoria. Além de obter um custo final mais baixo por conta do volume, os dois tiveram desconto na entrega, já que o frete foi dividido.

Os empresários, que encaram a parceria como uma amizade entre as marcas, dizem que nesse esquema conseguem uma economia de 8% a 12% e pretendem estender o método para a produtos. “Somos empresas jovens e sabemos o momento que o país enfrenta. A cada mês percebemos o aumento de alguns insumos e esta é uma forma de não repassarmos isso aos clientes. Além do mais, nos ajuda a avaliar os fornecedores”, diz Vinicius. Estratégia semelhante está unindo marcas como S Simplesmente e a padaria artesanal orgânica PÃO.

A S Simplesmente, do empresário francês Charles Piriou e do chef vegetariano Thiago Medeiros, tem um ano de vida, seis funcionários, e fabrica pratos saudáveis para serem vendidos em empórios e pelo site. A PÃO existe desde 2007, emprega 55 pessoas e tem cinco unidades. “A PÃO foi o primeiro revendedor de nosso pão sem glúten. Há dois meses, numa reunião, surgiu a ideia de desenhar uma central de compras focada em orgânicos, já que compartilhamos os mesmos fornecedores”, diz Piriou.

Ele acredita no modelo por facilitar a negociação de preços e valorizar a sustentabilidade. Segundo ele, a proposta é estabelecer uma relação mais sólida com fazendas e pequenos produtores especializados em produtos hortifrutis, voltados para o mercado profissional. Se tudo funcionar, a intenção das duas empresas é reunir mais casas no circuito Pinheiros e Vila Madalena, bairros da zona oeste paulistana. Uma das que já aderiram é a Dona Vitamina, mas há outras em conversação. No Rio, as compras coletivas são uma estratégia sazonal dos restaurantes Quadrucci e Zazá Bistrô.

O esquema é acionado apenas de vez em quando e abrange produtos muitos específicos, de fora do Estado. “Recorremos a esse método quando a gente encontra algum insumo vendido em quantidade, que o restaurante não teria condições de absorver sozinho. Aí procuramos algum colega”, diz Eduardo Bellizzi, sócio­-administrador do Quadrucci. Um produto que os dois restaurantes já compraram várias vezes em conjunto é atum fresco proveniente do Rio Grande do Norte, com preço e qualidade superiores ao encontrado no Rio.

Fonte: Valor

 

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