Preço chinês atrapalha substituição de importado

 

Por Marta Watanabe

A desvalorização recente do yuan pode reduzir ainda mais os preços dos produtos made in China, dando ao país asiático maior competitividade na disputa por mercados internacionais. Ao mesmo em que gera maior concorrência ao exportador brasileiro, a desvalorização do yuan possibilita maior redução de preço dos produtos chineses desembarcados no Brasil, o que tira parte da vantagem da indústria doméstica que, com a depreciação do real frente ao dólar, inicia o processo de substituição de importações.

Levantamento do comportamento de preços em dólar mostra que houve redução de preços médios em seis dos sete segmentos mais representativos das importações brasileiras vindas do país asiático no período de janeiro a julho, contra iguais meses do ano passado. Em três deles ­ equipamentos de informática e eletrônicos, produtos químicos e têxteis ­ a redução de preços dos produtos chineses foi maior que a média total.

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Enquanto os preços dos equipamentos de informática e eletrônicos chineses recuou 6%, a queda média de preços do total dos importados nesse mesmo setor foi de 1,2%. Em têxteis e produtos químicos a redução dos chineses foi de 3% e 23%, respectivamente. Enquanto isso, na média do total dos produtos brasileiros importados nos mesmos segmentos houve alta de 0,4% e 0,2%, respectivamente. Em dois segmentos ­ fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos e vestuário ­ a redução de produtos chineses se igualou à queda média do total de importados pelo Brasil nos mesmos setores.

Máquinas e equipamentos foi o único dentre os sete setores em que houve elevação de preços do importado chinês, com a alta de 1%. Mesmo assim, o aumento foi menor que o avanço de 3,1% da média do total das importações no mesmo segmento. O levantamento foi feito pela Funcex, a pedido do Valor. Os sete segmentos analisados representam 70% do valor das importações brasileiras com origem na China. Para Daiane Santos, economista da Funcex, o levantamento revela a competitividade do fornecedor chinês, que em alguns segmentos conseguiu reduzir em nível maior que a média os seus preços de exportação.

A desvalorização da moeda chinesa, diz a economista, permite que o país asiático reduza ainda mais seus preços. Desde o início do ano até ontem, o real acumulou perda de 26,1% frente ao dólar. No mesmo período, o euro e o renmimbi se desvalorizaram 3,23% e 6,48%, respectivamente. “A China é tradicionalmente um competidor agressivo, com margem para reduzir preços quando o objetivo é manter ou ganhar mercado”, diz Welber Barral, sócio da Barral M Jorge Consultores. “Além da competitividade na produção, os chineses são fornecedores capitalizados, o que facilita mais a redução de preços na venda ao mercado brasileiro, que é relativamente pequeno na comparação com Estados Unidos e União Europeia.”

Os dados da Funcex, diz Daiane, mostra que os chineses conseguiram elevar a quantidade exportada ao Brasil em alguns segmentos, mesmo com a retração econômica nacional. A importação brasileira com origem na China de produtos químicos cresceu, em volume, 24% de janeiro a julho contra igual período de 2014. Na mesma comparação a quantidade desembarcada de vestuário e acessórios aumentou 14% enquanto a de máquinas e materiais elétricos subiu 1%. “O aumento da quantidade embarcada chama atenção, já que a importação brasileira tem caído.

Mas em alguns casos, a elevação de importação podem indicar que a China tomou espaço de outros fornecedores”, diz Rafael Bistafa, economista da Rosenberg Associados. “Alguns produtos, como os do grupo de vestuário, mostram o grande poder de competitividade e redução de preços da China”, diz Daiane. Os chineses fornecem cerca de 65% do valor importado em vestuário no Brasil. Por isso, diz a economista, não surpreende que o nível de redução de 7% do preço médio do vestuário comprado do país asiático seja os mesmos 7% de recuo do preço médio do total da importação brasileira no mesmo segmento. “Mesmo assim, chama a atenção o preço do vestuário chinês, que se manteve num nível mais baixo.” De janeiro a julho do ano passado, destaca Daiane, o preço médio do vestuário comprado da China era de US$ 16,7 por quilo importado enquanto que o preço médio pago pelo vestuário de todas as origens era de US$ 19,7 o quilo.

Com o recuo de 7%, o preço da China baixou para US$ 15,5 o quilo e o do total da importação, para US$ 18,3 o quilo. Com a desvalorização do yuan, diz Barral, aumenta o espaço da China para ser mais agressivo nos preços. A isso se adiciona o movimento natural de negociação de preços propiciado quando há desvalorização cambial, avalia. “Assim como o importador chinês de carne e frango do Brasil quer um preço menor em dólar porque sabe da depreciação do real, o importador brasileiro também calcula o preço que quer passar a pagar com a nova desvalorização. ” Para Bistafa, o movimento de recuo de preços de produtos made in China pode tornar mais lento o processo de substituição de importação iniciado pela indústria brasileira. “Isso deve acontecer com lentidão maior que a inicialmente imaginada.

Provavelmente a substituição ainda deve acontecer pouco a pouco nos próximos trimestres.” Ao mesmo tempo em que a desvalorização do yuan retira vantagens da depreciação do real, a desaceleração da economia chinesa em ritmo maior que o esperado acende uma luz amarela para a exportação brasileira. O grande receio é a repercussão que a desaceleração pode ter nos preços das commodities e, como consequência, para a receita de exportação e a balança comercial. Para Barral, esses efeitos devem ficar mais claros no fim do ano, já que os embarques atuais se referem a contratos mais antigos.

Fonte: Valor

 

 

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