Queda do euro pode gerar tensão comercial


A Cúpula América Latina-Europa começa hoje em Bruxelas, com a presença de 61 chefes de Estado e de governo, para tentar reforçar os vínculos econômicos e políticos entre as duas regiões. Mas a Cepal aponta sinais de turbulências entre as dias regiões no horizonte.

Para a entidade da ONU, se a desvalorização do euro em relação ao dólar e, em menor medida, em relação às principais moedas da América Latina continuar no médio prazo, haverá impacto negativo no saldo comercial dos países latino-americanos com a Europa.

E crescerá ainda o custo para empresas europeias investirem na América Latina. Além disso, subirão o fluxo e o valor em euros das remessas de empresas europeias na região para a matriz no velho continente.

Nesse cenário, uma maior competitividade das exportações europeias, acompanhadas de menor Investimento Direto Estrangeiro (IDE), pode resultar em déficit nas balanças de pagamentos da América Latina.

Se essa tendência se concretizar, a Cepal alerta que podem surgir tensões nas relações comerciais e de investimentos entre as duas regiões.

E essa tensão poderá se intensificar no contexto da especialização da América Latina em produtos pouco dinâmicos no mercado internacional.

A busca de mais aproximação entre as duas regiões ocorre num contexto internacional em mutação rápida, com revolução tecnológica, globalização dos padrões de consumo, organização da economia global em grandes blocos e com crescente peso da economia da Ásia, além da pressão progressiva sobre o meio ambiente.

Apesar da grande diferença, nenhuma das duas regiões alcança os níveis de produtividade dos EUA, e tampouco a taxa de crescimento das economias dinâmicas da Ásia.

Em relação a EUA e Japão, os 28 membros da EU perderam peso relativo na economia mundial, em benefício dos emergentes. Entre 2000 e 2013, a Ásia emergente elevou seu peso no PIB mundial de 17% para 28,7%, medido por Paridade de Poder de Compra, diz a Cepal.

Somente a China aumentou sua participação de 7,4% para 15,8%, aproximando-se da UE.

Já as economias da América Latina mantiveram sua fatia na economia mundial, pouco abaixo de10%. Com a queda nos preços das matérias-primas, a Cepal prevê que o crescimento da América Latina entre 2015-2017 será bem mais baixo.

E a diferença em relação à taxa de expansão dos países europeus será muito menor.

Além do projeto de construção do cabo de fibra ótica submarina ligando o Brasil à Europa, a cúpula em Bruxelas deverá lançar um programa de bolsas para 6 mil estudantes da América Latina e 100 projetos de cooperação universitária, além de enfatizar um programa de inovação e a cooperação em mudança climática.

Para o Brasil, a cúpula com a UE é bem mais importante que a que se realiza hoje e amanhã em Bruxelas. A presidente Dilma Rousseff terá vários encontros bilaterais.

Um deles é com o primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, que assusta a Europa nestes dias. Na verdade, a cúpula de hoje é quase ignorada em Bruxelas.

Toda a UE está focado na crise da Grécia, que pode ter impacto sobre a economia global, dependendo de como terminará nesta quarta-feira parte das negociações com a UE.

A presidente Dilma se reunirá com a premiê da Alemanha, Angela Merkel, que vai ao Brasil na terceira semana de agosto.

Outros encontros incluem o presidente da Bulgária e o premiê da Bélgica, além do presidente do Conselho da UE, Donald Tusk.

Valor Econômico -10 de junho de 2015 (INTERNACIONAL – De Bruxelas)





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