Reservas perdem com incerteza sobre Fed

Dados do Banco Central mostram que as reservas internacionais tiveram uma perda contábil de US$ 8,5 bilhões em maio e junho em virtude da volatilidade nos mercados internacionais provocada pela expectativa de que o Fed vá mudar a sua política monetária. A concretização dessa perda dependerá do que acontecer com o preço de títulos e de moedas em que estão investidas as reservas até o vencimento ou venda desses ativos. Mas as grandes oscilações de preços expõem os desafios de investir um patrimônio gigantesco, de US$ 374 bilhões, num ambiente de incerteza. Da perda contábil de US$ 8,5 bilhões, 60% se devem à queda de preços de papéis em que estão investidas as reservas cambiais. Os outros 40% se referem à perda de valor, em relação ao dólar, de outras moedas fortes, como o euro.

Os juros dos títulos do Tesouro americano estão subindo devido à expectativa de retirada de estímulos monetários pelo Fed. Quando os juros sobem, os preços dos títulos americanos e outros papéis de renda fixa caem. Para minimizar o risco de perdas, o Banco Central brasileiro vem procurando reduzir sua vulnerabilidade à variação de taxas de juros americana. O BC não forneceu detalhes dessa estratégia, mas isso pode ser feito, por exemplo, por meio de aplicações em papéis de prazo mais curto ou com taxas flutuantes. As perdas com a oscilação de cotações de moedas são relativamente grandes porque, nos últimos anos, o Banco Central diversificou as aplicações das reservas. Os investimentos denominados em dólares, que chegaram a corresponder a 90% das reservas internacionais em 2007, hoje equivalem a 78,5% da carteira. Quanto menor o percentual aplicado em dólares, maior o risco de perdas contábeis com oscilações de moedas, já que as reservas internacionais são contabilizadas em moeda americana. Procurado pelo Valor, o BC ponderou que o Brasil tem uma fatia das reservas aplicada em dólares maior do que a média de 62,2% de reservas de outros países, segundo dados do FMI. Em 2007, as reservas estavam aplicadas sobretudo em dólares americanos (90% da carteira) e euros (9,5%). Naquela época, o Banco Central já vinha reduzindo suas aplicações em euros, que em anos anteriores chegaram a representar mais de um terço das reservas cambiais brasileiras. Já em 2011, último dado disponível que permite a comparação entre diversas moedas, as aplicações em dólares haviam caído para 79,6% das reservas, e as em euro, para 4,9%. Os recursos passaram a ser investidos em ienes japoneses (1%) libras esterlinas (3%) dólares canadenses (6%) e dólares australianos (3%). Muitas dessas moedas sofreram desvalorização em maio e junho, já que a expectativa de aperto na política monetária americana engrossa os fluxos de capitais para os Estados Unidos, em detrimento dessas economias. O dólar australiano é uma das moedas que mais perderam valor no período, com uma desvalorização de 11% ante a moeda americana em maio e junho. Segundo Banco Central, em julho houve um realinhamento nos preços de moedas que permitiu reverter parte das perdas contábeis observadas nos dois meses anteriores.

Esse foi o fator preponderante que fez o valor das reservas internacionais, que chegaram a US$ 371 bilhões em junho, subirem para a casa dos US$ 374 bilhões em julho. A política de aplicação das reservas, pondera o Banco Central, “segue uma política de curto, médio e longo prazos que reflete a composição da nossa dívida externa, e leva em consideração outros critérios, como diversificação e “duration” (uma medida de quanto os ativos sujeitos a variação da taxa de juros)”. (Fonte: Valor Econômico)

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