Sem capital, varejo pode dar calote

 

Por Adriana Mattos

Um terço das empresas (33,1%) que são clientes do atacado no país ­ como pequenos varejistas, bares e restaurantes ­ apresentam alto risco de crédito, segundo estudo feito pela primeira vez, pela Serasa Experian, publicado na sexta­-feira no Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor. São empresas com elevada probabilidade de se tornarem inadimplentes nos próximos seis meses, segundo critérios da Serasa.

As principais modalidades de pagamento hoje do varejo aos atacadistas são boleto bancário e cheque ­ uma minoria aceita cartões de crédito. Relatório com esses dados foi apresentado em evento na Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (Abad) na semana passada. Esse grupo de empresas com potencial de dar calote a curto prazo representa 85% da massa de varejistas no país, que atendem consumidores em “mercadinhos” e lojas em pequenas cidades e bairros periféricos.

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Varejistas com falência decretada, autofalência, concordata, recuperação judicial e extrajudicial representam 9,8% do total. A publicação do estudo ocorre na mesma semana em que a Abad anunciou queda de 9,5% nas vendas brutas nominais do setor de janeiro a junho. Ao se descontar a inflação (IPCA), a queda real supera 19%. “Entendemos que essa piora no quadro de solvência afeta mais os bares e restaurantes do que o pequeno supermercado. As pessoas estão fazendo mais refeições em casa e o fluxo de clientes caiu mais nas redes de alimentação do que nas lojas de vizinhança [minimercados]”, disse José do Egito Lopes Filho, presidente da Abad. “Mesmo assim, sabemos que pode existir um efeito dominó também no pequeno supermercado, que é um grande comprador do atacado.

O consumidor gasta menos, o lojista compra menos e começa a sentir dificuldades de arcar com as dívidas. Talvez começaremos a sentir isso mais forte daqui para frente”, acrescentou. Segundo ele, a inadimplência no atacado neste ano tem girado na faixa de 4,5% a 5% ao mês, mas não informa se estaria subindo mês a mês. Segundo o relatório, a chance de uma varejista dar calote é maior para as companhias de menor porte: 34,3% das pequenas empresas apresentam esse risco.

Nas companhias de porte médio, a possibilidade de calote cai para 24,3%. Como pequeno negócio, a Serasa considera operações com receita bruta anual inferior a R$ 4 milhões ao ano ­ normalmente, com administração familiar, em bairros periféricos e em pequenas cidades. Já as médias têm faturamento entre R$ 4 milhões e R$ 50 milhões. Redes com dificuldade de acesso à capital de giro no mercado, que sentiram a política mais restritiva dos bancos na liberação de recursos, têm sido mais afetadas pela piora da crise no setor de consumo.

Mesmo quem tem acesso às linhas sentiu o encarecimento com nas taxas. Segundo uma atacadista ouvida, a taxa de juros para uma varejista média, em linhas de capital de giro em bancos de varejo, varia de 30% a 35% ao ano hoje. Estava em 25% há um ano. A queda nas vendas no primeiro semestre afetou a desova de estoques, e, com isso, a entrada de recursos em caixa diminuiu, aumentando a necessidade de capital de giro para honrar compromissos. O comando da Abad se reuniu na semana passada com a direção do Banco do Nordeste para discutir a criação de linhas de crédito para o setor, com menores juros.

A ideia é expandir essa discussão para bancos públicos, como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Como esta é a primeira vez que o levantamento é feito pela Serasa, não há base de comparação. Andre Queiroz, gerente de segmentos econômicos da Serasa, disse que, mesmo sem pesquisa anterior, o número é “preocupante” e deve estar em crescimento porque, historicamente, dados de risco de crédito no varejo crescem na mesma velocidade do aumento da inadimplência de clientes, que têm subido neste ano (veja tabela ao lado).

Na semana passada, a direção do Assaí, segunda maior rede de atacado do país, disse que identificou queda na venda para clientes da área de alimentação no segundo trimestre. “Neste momento de cenário econômico mais desafiador, temos sentido o impacto fortemente no segmento de ‘food service’, onde boa parte dos operadores, de restaurantes, lanchonetes, pizzarias, tem o Assaí como um ponto de abastecimento muito forte”, disse Belmiro Gomes, presidente do Assaí, a analistas.

Para efetuar o cálculo, o estudo de risco de inadimplência do varejo com o atacado leva em conta dados como as consultas de crédito realizadas pelas empresas atacadistas entre junho 2014 e maio de 2015, faturamento das empresas, localização e informações do banco de dados da Serasa. Esse banco reúne dados como protestos, cheques sem fundos, ações de busca e apreensão, falência recuperação judicial, além de anotações de inadimplência. “Com base em cálculo estatístico que tem por finalidade ajudar os consumidores e as empresas a realizarem negócios a crédito, o risco de inadimplência é calculado”, informa a empresa em relatório.

Por região, o risco de crédito é maior de empresas nos Estados do Norte, com 46,9% das companhias neste perfil. Em seguida está o Nordeste, com 41,1%, e o Centro­Oeste, com 36,9%. No Sudeste o percentual atinge 29,6% e, no Sul, 29,7%.

Fonte: Valor

http://www.valor.com.br/empresas/4172200/sem-capital-varejo-pode-dar-calote

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