‘Tarifaço’ torna energia solar viável na maior parte do país



Por Rodrigo Polito

O remédio amargo do “realismo tarifário”, que já acumula um aumento da ordem de 40% das tarifas cobradas pelas distribuidoras de energia, em média, no primeiro trimestre, está abrindo espaço para a chamada geração de energia distribuída (microgeração), principalmente a partir de painéis solares fotovoltaicos. Ambientalmente sustentável, a alternativa pode reduzir o consumo na rede e aliviar o sistema elétrico nacional, que vive um período de estresse. De acordo com levantamento feito pela consultoria PSR, a pedido do Valor, a geração distribuída a energia solar já é economicamente viável em 23 Estados e no Distrito Federal. Apenas no Amazonas, Roraima e Amapá, essa alternativa de energia ainda não é interessante, do ponto de vista econômico. O cálculo leva em consideração o grau de radiação solar em cada região e a tarifa de energia de cada distribuidora. “Em relação a 2013, o ‘payback’ [retorno do investimento] já caiu três anos em valores médios”, afirmou Rafael Kelman, diretor da PSR responsável pelo levantamento. “As usinas melhores, localizadas nas áreas de concessionárias com tarifas mais elevadas, se pagam em menos de seis anos.

Vale lembrar que os módulos têm garantia de 20 anos ou mais. Então, do sétimo ano em diante, o sistema está pago e o usuário se beneficia da economia de energia.” Outra medida que pode estimular o setor é a possível isenção de ICMS para a energia produzida pelos módulos solares. A proposta, defendida pelo ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, é que o Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) remova a tributação. Com isso, o usuário de energia solar passará a pagar ICMS apenas sobre a diferença entre a energia comprada da rede e a energia devolvida para o sistema, por meio da microgeração. Hoje, esse modelo é adotado apenas pelo Estado de Minas Gerais. A indústria de energia solar distribuída, porém, ainda tem dois entraves, segundo Kelman. O primeiro é o câmbio. “O aumento do dólar pode prejudicar um pouco a disseminação da geração distribuída, porque a maior parte dos equipamentos, em valor, é importada”, explicou.

O outro obstáculo é o financiamento. Apesar de se mostrar uma tecnologia economicamente viável, o sistema de geração distribuída a energia solar demanda um investimento inicial robusto. O custo de instalação de projetos do tipo é da ordem de R$ 30 mil a R$ 40 mil. Para Kelman, porém, as linhas de financiamento do BNDES para investidores em usinas solares de grande porte, que negociam contratos em leilões de energia, vai viabilizar empréstimos do banco para a compra de equipamentos ou para ativar o plano de negócios de empresas de serviços de energia solar distribuída. Enquanto a solução não vem, as empresas do setor estão desenhando modelos criativos para viabilizar o mercado. A Solar Grid, por exemplo, criada no ano passado por quatro ex­sócios da XP Investimentos e dois engenheiros ambientais, com investimento inicial de R$ 20 milhões, desenvolveu um modelo em que ela fornece os módulos, por meio de um contrato de aluguel.

Com isso, o consumidor paga pelo serviço a partir do desconto na conta de luz, relativo à energia gerada pelos painéis. Segundo Alexandre Marchetti e Diogo Pinheiro, sócios da SolarGrid, a companhia fornece o serviço “turn­key”, em que a empresa é responsável pela instalação dos equipamentos e pelo registro da unidade na distribuidora. A empresa também planeja trabalhar com uma rede de representantes espalhados pelo país. A SolarGrid já possui dez projetos instalados ou em andamento. Outra empresa de olho no negócio de locação de módulos é a Brasil Solair, criada pelo engenheiro dono de térmicas emergenciais na época do racionamento e fundador da Brasil Ecodiesel, Nelson Silveira. A empresa captou R$ 200 milhões e vai instalar este ano 60 megawatts de capacidade de painéis fotovoltaicos em 12 projetos. “É como se estivesse alugando um carro e o pagamento fosse por quilômetro rodado. Se o carro não funcionar, você não paga o aluguel.

Assim, liberamos o cliente de qualquer preocupação efetiva de ter que instalar, operar e dar manutenção nos equipamentos. Isso passa a ser uma preocupação de quem está locando o equipamento”, disse. Silveira destacou que a tarifa média de energia no Rio de Janeiro há cerca de quatro meses era de R$ 480 por megawatt­hora (MWh), valor próximo ao que a Brasil Solair tem fechado os seus contratos. E hoje a tarifa no Rio de Janeiro subiu em média para R$ 740/MWh. “Estamos ganhando um spread de quase 40% de economia”, explicou o executivo. Hoje existem menos de 500 projetos de geração de energia solar distribuída no Brasil. De acordo com estimativas da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), esses projetos serão responsáveis por uma produção de 5 gigawatts (GW) médios, o equivalente a 13% de todo o consumo elétrico residencial do país, em 2050.

Fonte: Valor Econômico

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