Um terço da indústria ainda deve demitir, segundo estudo da CNI



RENATA AGOSTINI
DE SÃO PAULO
SOFIA FERNANDES
DE BRASÍLIA

Com a economia em recessão neste ano, a maior parte da indústria reduziu sua força de trabalho e parcela significativa deve cortar ainda mais postos nos próximos meses, segundo levantamento inédito feito pela CNI (Confederação Nacional da Indústria).

De 2.307 companhias entrevistadas, 50% disseram à entidade ter demitido funcionários de outubro de 2014 a abril deste ano. E 60% delas afirmaram que cortaram vagas ou adotaram medidas de redução do custo –como diminuição de turnos das fábricas e uso de férias coletivas.

Participaram do estudo empresas das indústrias extrativa e de transformação.

Apesar dos cortes já feitos, 58% das empresas que demitiram pretendem ceifar mais vagas nos próximos meses.

Do total de indústrias, 36% afirmam que terão que fazer alguma redução em seus gastos com folha de pagamento.

A queda na produção foi a razão apontada por 67% das companhias para a eliminação de postos de trabalho ou redução do uso de mão de obra. Um terço também afirmou que dificuldades financeiras motivaram as medidas.

Editoria de Arte/Folhapress

Sem conseguir vender, a indústria vem freando a atividade nas fábricas. De janeiro a maio deste ano, a queda na produção foi 6,9% ante o mesmo período de 2014.

De acordo com o IBGE, o problema é disseminado – 71,4% dos produtos tiveram corte na produção–, mas o principal recuo veio do setor de veículos automotores.

Não à toa, foi esse o segmento que mais precisou demitir (veja quadro), segundo a CNI. No total, 73% das montadoras entrevistadas cortaram vagas.

A situação fez com que a indústria automotiva fosse uma das principais entusiastas do Programa de Proteção ao Emprego, lançado nesta segunda pelo governo (leia mais na pág. A16). Por meio dele, a União cobrirá parte do salário do trabalhador em jornada reduzida.

Até maio, quase 105 mil empregos foram eliminados na indústria como um todo.

Os setores de bebidas, de madeira e de medicamentos foram até agora os mais resilientes, segundo o estudo conduzido pela CNI.

Segundo Antônio Britto, presidente da Interfarma, que representa laboratórios multinacionais, o setor está sentindo o mau momento, mas manterá o crescimento este ano. “O consumidor corta a luz, mas não corta o antibiótico”, afirmou.

CUSTOS

Para a maior parte das empresas que seguraram funcionários e adotaram medidas alternativas, como a redução da jornada, o custo da demissão foi decisivo.

“Demitir no Brasil é caro, há FGTS e multas, e ainda há o custo de recuperar esse trabalhador qualificado”, afirma Renato da Fonseca, gerente de pesquisa da CNI.

Fonte: Folha



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